quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Pedras e descaminhos

Já fiz tanto uso das pedras no caminho:

Peso de papel,

Pedra que quica na superfície do rio,

Brincar de amarelinha.

Acontece que nunca dou cabo delas

Elas sempre aparecem em quantidade

Maior que a minha criatividade.


No entanto, são tão úteis, essas danadas. 

Descobri que, com essas pedras,

Tão pequenas perto de mim,

Posso contrabalancear o peso da vida

E por mais que eu seja alvejado com elas

Também é com elas que posso me defender.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Mar do passado

As pessoas passam

Como navios no horizonte 

O mar observa calmamente

No seu vem e vai. 


Nascer na terra, morrer no mar

Olhos de água e de banzo

Olhos que navegam sem rumo

E não podem voltar. 


Mar, me ensina! 

O que tuas areias já viram

Eu não poderei ver, só sentir

Com minhas pegadas que afundam

Enquanto tua praia me abraça

E a maré vem me banhar.


Cheguei sem remo, sem leme, sem norte

E enfrentar tuas ondas fez-se impossível

Não há calmaria, ó mar revolto! 

Nem tuas escumas vêm me acalmar…


Sou gente de terra, 

Sem horizonte, com medo de tudo

Com um mapa do céu em noite de lua.

À deriva, espero um chamado

Nenhum resgate a quem naufraga

O porto avisou: daqui não saio! 

As ilhas que vi eram fantasia

Descanso, por fim,

Nas glórias do passado. 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Olhar a noite

Olhar a noite

Entre os olhares atentos nos quatro cantos da rua

Uma estrela brilha no céu da cidade

E as luzes são tão artificiais como os sonhos.

Só o que importam são os detalhes

Pontos perdidos no céu escuro

Enturvado pela poluição do ar.

Deixa que seja tarde

Deixa que seja tarde.

Sobre o sol se pondo vermelho

A noite crescente o embala tranquila.

Também o fogo descansa

Também o fogo ressurge do frio.

 

O afago da jornada é a chegada

O outro dia seguinte, as pernas sentem o peso.

São trocas de cores, energias

As palavras que se perdem, correm o mundo

Nos nossos ouvidos pousam como ruídos

De um mundo caótico onde nos olhamos

Entre tantos olhares, entre tantos escuros

Entre chegadas e partidas. 

 

Deixa que seja tarde, quase dia

A hora nunca passou para nós.

Eu olho a chuva que cai no meu quintal

Insistente em furar o chão de cimento.

Após dias caindo, ainda é hoje

Como quando eu te vejo, dezoite de maio

E nada muda, tudo insiste em não mudar.

 

Preparado para partir pela eternidade

Sem nome e sem rosto, a estrada me chama

Não tenho cavalo branco em meu nome, não tenho bens

Carrego uma imagem nos olhos

Uma sensação de eterno calor no coração

E uma mágoa que partirá quando for hora

Deixando uma falta imensa em meu vazio - órgão principal dos poetas -

Onde nada bate, nada habita, nada pensa

Nada é real, além dessa dor inexprimível.