sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Fim de tudo

A dor cessa com o vermelho no chão.
O céu escurece tão rápido, parece inverno.
Esqueci como é sorrir, dias escassos
É noite em Longyearbyen, capital de mim.

Os outros trouxeram flores, um jardim
Foi como se meu corpo fosse terra
Senti o frio dos grãos de areia, mexendo
Revolvendo como minúsculas máquinas
Tratores do subsolo. Minei feito água corrente
Escorri de mim, de dentro para fora.

O belo encarrega-se de desviar os olhares, brotando
Teus olhos se fecham quando o som não quer sair
Escuta-me: meu corpo é falta.
Silêncio de boa noite, adeus, adeus
Minha casa fica tão perto que é em todo lugar
Meu lar é o mais seguro desse mar de gente:
É terra firme.

O tempo se encarregou de levar o inanimado
Memórias, poemas, construções...
Tudo encontra seu fim no infinito
E lá no fim, depois do fim de tudo,
A dor durou um segundo, 
O vermelho tingiu o chão de pétalas
Lavadas com as lágrimas de quem não pude ser.