quinta-feira, 31 de maio de 2012

As minhas verdades

Quando os fótons incidiram na minha retina,
E sua imagem se formou nitidamente pra mim,
Correu um filme na minha mente e eu perdi tudo,
Cada certeza e dúvida que eu tinha, tive que refazer.
Você floresceu na minha janela como as minhas amadas,
As estrelas que antes só observava, mas que agora eu conheço,
E como elas as suas mãos se prenderam na minha, como num laço,
De fraternal compromisso, de quem ama calado,
E todo o seu corpo transpirou de risos.

Ausente de mim, sinto a sua falta,
Sinto que vivi poucos momentos de real felicidade.
Esse de cara fechado não sou eu,
É só um alguém triste que passará pela minha vida, 
Mas que tem toda a razão de ser: a desilusão.
Prometi-me, antes de o meu mundo perder o sentido pela primeira vez,
Antes de me desfazer dos meus desejos e seguir minha missão,
Antes de tudo, jurei nunca mais sofrer por amor.
Sinto-me tão só neste mundo tão cheio,

Frustrado por ser Eu o vazio que me assola.
Perco-me num labirinto de um só corredor que é a vida,
Tão simples quanto um pôr do Sol à beira-mar...
Cato-me ante aos problemas que engrandeço,
E se isso é ser forte, então eu estou fazendo o meu melhor.
Não posso jurar que minhas lágrimas não mais cairão,
Mas dou a certeza de que meus caminhos serão de asfalto.

Fora eu um sonhador, num dia em que algo mudou em mim,
Sonhei tão alto que aonde cheguei, se quer é possível cair.
Não sei ao certo quem sou. Sou mutável, como meus versos
Debalde tento disfarçar meu zelo, mas sua lividez me derruba,
Então me atenho ao meu papel de viga apoiadora, que está ali,
Mas não é tão importante. Você pode viver sem mim e sabe.

Hoje, distante muito além, se vai a minha felicidade,
A tempestade passará, já a vi em tempos pretéritos,
Sem mentiras me convenço, de que se não está tão bom assim,
Pelo menos é um mal que eu escolhi e sei enfrentar,
Pois sei meus limites contigo e não posso ultrapassá-los.
Vou continuar aqui, à espreitar atento os seus movimentos,
Nas frechas da sua vida, cuidando pra que você não cai,
No mesmo buraco sem volta que eu cai.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Preto de Alma Branca

"Sou negro sou, sou negro livre.
Não há quilombos e nem perseguidas...
Só nasci pra viver a vida.
Essa luta é maneira,
Esse jogo envolvente é a capoeira"...


Valido essa canção em nome dos meus ancestrais,
Que foram trazidos pra cá há muito tempo atrás,
De Navio Negreiro, sem água e sem banheiro,
Com certeza os porcos tem mais higiene num chiqueiro.
Da selva africana pra Senzala, da Senzala pra favela,
Da favela pra uma cova rasa e aí já era!
A história é antiga mas a cena é atual,
Minha pele tem cor de luto por que a morte nos é banal,
Você anda pelas ruas com medo de ser assaltado,
Se um negro passa perto de tu no farol,tu trava a porta e sobe o vidro do carro,
Na TV nós vemos e ouvimos falarem de igualdade,
Esgoto a céu aberto e traçantes essa é a nossa realidade,
Na infância eu jogava bola com quem cresceu e virou traficante ,
Alguns foram presos e outros morreram sem direito a revanche,
Se o playboy sobe o morro pra comprar sua parada é normal,
E o moleque na esquina se perde cheirando cola (mata esse marginal!),
Fomento à violência urbana é alimentar o tráfico,
Cresce o número de covas sempre a passos largos,
Sem camisa e com uma arma na mão eu sou um neguinho normal,
Dentro da maior facul do pais sou um perigo nacional,
Feche os livros e ligue a TV que vai começar o jornal da Globo,
Mostrando os Gols da rodada enquanto uma mãe chora em algum lugar do morro...


Refrão

"Se preto de alma branca pra você,
É reflexo da dignidade,
Não nos ajuda só nos faz sofrer,
Nem resgata nossa identidade."


Não nasci na favela mas só canto por ela,
Choro preso na guela de quem já acendeu muita vela,
No perigo cautela, na incerteza, cancela,
Vivendo a um KV de tensão só pre ter uma vida singela,
Cotidiano, Contas atrasadas, Compromissos...
Assim mão solteira cria 7 filhos. EU já vi e vivi isso!
Não vi mudança alguma desde os tempos de 2pac,
Só no dia 20 de novembro que os negros tem algum destaque,
Pare um pouco pra pensar no que é guerra civil,
Veja quem mata e quem morre nas periferias do Brasil,
Às vezes não sei se sou negro ou se sou judeu,
Acho que Hitler deixou a farda da PM pros nazistas que sobreviveu,
Vejo os moleques da minha cor tomando coronhada numa dura,
Provavelmente apenas por ser negro e ter nascido
O holocausto da minha raça é desde os navios negreiros,
Parece que é o certo ter as favelas lotadas de negros,
Por onde eu passo vejo a contradição em cada lugar,
Igualdade entre as raças? Tá bom...se você prefere acreditar,
Helicóptero da PM cai e quem derruba é bandido,
Honesto mesmo é quem frauda o Bolsa Família por 100 conto, é branco e é rico, né?
Dona Princesa Isabel, negro não sabe o que é liberdade,
Só mudamos de Senhor, mas continuamos sem dignidade,
A maior parte de  nós ainda está nas ruas, nos morros ou atrás das grades...



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mudanças


(1)

Há silêncio nas praças,
No céu, aves caladas,
Não há grito nas feiras,
Nem louvor nas Igrejas.
Há um torpor nas esquinas,
Carros passam, sem o som das buzinas...
Só há um deserto de vácuo,
Dentro das salas, nos pátios.
Não ouço o som da minha voz,
Já deixei de ser feroz,
Não posso mais ser tão galante...
Nem recitar versos elegantes.
Eu tenho um mundo dentro do Universo,
E ele está se desfazendo...


(2) 

Hoje são poucos os heróis,
Os que escreviam, esqueceram quem é o algoz,
Que não mais usa capuz porém uma farda,
Ou que governa em meio à farsa.
Sou parte dessa massa oprimida,
O homem ou a mulher da vida,
Vida que é difícil, é batalha,
Sou eu quem move essa fábrica,
O acordar das flores na primavera,
A força que os vulcões encerram.


(3)

Os rebentos das ruas cresceram,
Mas continuam nas mesmas calçadas,
Enquanto passamos desviando o caminho,
Ziguezagueando entre os corpos estirados no chão,
De mãos erguidas na mendicância,
E nos dizemos mais evoluídos,
Ricos...Ninguém come papel e dígito...
Ninguém é melhor que ninguém.


(4) 

Deram-me conhecimento,
Mandaram-me para a escola,
E depois de adulto aprendi,
Que o conhecimento é uma arma.
E agora enxergo o que eles queriam,
Que eu abaixasse a cabeça,
Trabalhasse com toda a minha força,
Ganhasse dinheiro explorando meus iguais,
Assim, perderia a minha identidade,
Esqueceria que vim de onde se vem um homem:
Das vitórias e dificuldades.
Morreria sem viver o sonho que sonhei ainda criança,
O sonho de lutar, não pelo que é impossível,
Mas pela dignidade dos que ao meu lado estão,
No frio ou no calor, à noite ou de dia,
Não há diferenças a vencer,
Só há uma força contrária,
Chamada de egoísmo e orgulho,
Que nos faz olhar cada vez mais para dentro de nós,
E esquecer que podemos mudar a realidade,
Que nada nos calará quando a garganta vibrar,
Ao tremor das cordas vocais que se exitam,
Ao conclamar os dispostos a realizar a mudança,
Que não nascerá de um líder,
Mas sim de uma necessidade.












Eu tenho a impressão..


Eu tenho a impressão de que há alguma coisa errada.
Os professores entram em greve por salários melhores:
Os alunos reclamam que a greve atrasa as aulas,
E os REItores se esquivam e promovem boicotes.

Eu tenho a impressão de que o mundo mudou.
Crianças não sabem mais o que é uma pipa ou pião
As bolas de gude foram aposentadas pelo Computador,
E ouvir historinhas, só na televisão...

Eu tenho a impressão de que o tempo parou:
Policia sobe o morro como se fosse a senzala,
O voto é vendido a um Coronel-ditador,
Dentro das metrópoles, em troca de esmola.

Eu tenho a impressão de que o futuro é agora,
Com aquecimento ou não, a Terra implora.
A fome não é só de pão, mas também de dignidade,
Quem explorou outrora não assume a responsabilidade...

Eu tenho a impressão de que podemos fazer melhor,
Ainda dá tempo de olhar para o lado e ver que há alguém,
Que sofre e chora como nós ou pior,
Mas que só precisa de uma oportunidade para ir além.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Loucuras (ou devaneio)

Sou louco. Ou algo que vem depois.
Minha sanidade é um espaço curvo,
É o tecido que permeia o tempo e vai além.
O caos corre pelas minhas veias,
É como a vida se apresenta pra mim.
São eras que duram segundos. Minha cabecinha...
Esse êxtase que arrebata a minha vontade,
Doma meus sentidos...eu chamo isso de vida.
E vida não tem nada a ver com ficar sentado vendo o tempo correr...

Sou louco. Ou algo pior que isso.
Eu tenho a paciência de quem está mal nutrido,
Com fome esperando a horta crescer...
Estou esperando a minha vez mas ela perdeu-se,
Num labirinto chamado incógnita...
As manhãs são tão frias que congelam o humor,
E minha acidez fica extremamente alta.
Sou humano...posso errar, não é?
Posso perder-me, e me achar nos braços da vênus,
Que ornamentada me espera, em algum lugar do tempo....

domingo, 13 de maio de 2012

Eterna Rosa

Senhora; Bela e Triste senhora,
Luz dos meus caminhos; pôr-do-Sol e aurora.

É dos teus olhos apenas um pálido reflexo: as estrelas.
Agora, junto delas, deita-te sobre um leito de pétalas: Vermelhas.

Vivo no escuro, no palor desses meus dias,
Meu leito é fúnebre, como o céu que tu iluminas.

No frescor dos hálitos noturnos te dedico,
Os versos que em vida tu não há de ter ouvido.

Deita-me em teu colo, uma vez mais,
Que saudades de ti, mas hoje tu estás em paz!

A minha mãe, Leonor .

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Solidão

Sei que  a solidão navega meu corpo,
No palor das almas desgraçadas,
E minhas pernas perderam-se do escopo,
Entre a aurora e a fria madrugada.
E hoje, quem sabe de mim,
É a lira estridente  que criva a estrada,
Aguarda-me, meu querubim,
Que cá da vida não tenho mais nada.



Como pode tudo ter mudado?

Como pode tudo ter mudado,
Sem nunca ter estado como era antes?

Sinto um vazio preso na garganta,
Sinto as palavras inúteis para descreverem como me sinto...

Como pode tudo ter mudado,
Sem nunca ter estado como era antes?

Como se faz pra deixar-te ir embora,
Ou deixar-me ir...sem temer ficar sem ti...?
És minha, só não sabes...
És a única Senhora do meu Castelo,
E eu sou triste, por não te dares conta.

O mar deixa as marcas das pegadas na areia,
Mas o tempo passa, como passam as marcas das pegadas...
Em meu coração, tu és eterna e plena,
Embalsamada, como uma manhã de primavera,
Que o frio ebrioso alimenta e revigora,
Trazendo-me a sorte e as venturas da aurora,
Enquanto tu repousas no teu leito sonolenta...

Entre as escumas e as vicissitudes,
Caminho só, perdido em pensamentos,
Solto, feito teus cabelos crespos amalgamados.

Quanto vale o meu sorriso pra ti?
Há muito anseio o seu colo quente,
E em teus seios descansar tranquilo.
Só quero a paz do teu olhar florido,
Que roubou o brilho das estrelas mais bonitas,
E coloriu meu jardim com vida!








segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma imagem fixa

Além, muito além das rochas flutuantes,
Lá detrás dos barcos que vagueiam,
Andam meus sonhos.
Salgados como essa água, exuberante,
Paisagem por onde meus olhos passeiam,
E fico assim, risonho.

Lembranças, eu sei, são só lembranças...
E as expectativas do porvir são tão bonitas!,
Vou sonhando acordado...
Tenho as palavras encalacradas na garganta,
E tanta coisa pra transformar em poesia,
Que só posso estar desvairado!




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Nos braços do mar


Ecoa ao longe nas folhas silvestres,
De árvores cativas; gritos de horrores,
Floresta pálida, rostos inertes,
Expressões funestas de sonhos e dores.
Lá dentro estará, a saudade em silêncio,
Quando fora, a alvorada chegar lentamente.

Dentro de cada pilar do Castelo de areia,
Cai um por um os senhores sem face,
Desgastado corpo, varrido em poeira,
Descansarão todos nos braços da morte!
Ontem fui eu, hoje é você,
Amanhã deixo à sorte de Deus decidir.

Mareja nos braços da branca senhora,
As pétalas brancas se desfazem nas vagas,
A escuma dos ósculos contemplada em saliva,
De sabores sorvidos, por servos e adagas.
Fecham-se as portas, deitam-se todos,
Ao horizonte sozinho, seguem o barco e o navegante.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Desterro

Hordas de pensamentos hostis assolam-me a alma,
Mas ainda, entre minha quietude e sofrimento,
Carrego as cicatrizes, ornamentos das minhas chagas,
Sob o foco de uma frígida brisa de olhar atento. 

Ela me vem como um punhal. Castiga e devora,
Sou presa trespassada pela lâmina opulenta,
Empunhada pelas mãos de uma senhora,
Que ao passar por mim deixa-me a alma macilenta.

Torno a vê-la sob o frio torpe das manhãs,
E minhas pálpebras sufocam e desatinam,
E sou eu mesmo Newton e as maçãs,
Frente às ideias que ela inspira.

Desterrado da terra dos meus ancestrais,
Trago no peito um aperto que dói sem pudor,
Mas nem a perda do meu lar dói mais,
Que suportar a vida, dia após dia, sem ter dela o  amor.