quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porto



Ainda ontem estive ali sentado com ela,
Era tarde da noite e nós ríamos e chorávamos juntos.
O som daquela voz confusa entrava em meus tímpanos,
Ressoava-me os ossículos como uma Orquestra Sinfônica,
E eu só achava graça daquilo tudo,
Pensei que seria eterno, mas nada dura mais na memória,
Que um sorriso sincero de quem se gosta.

Calado, lanço pedras desse porto abandonado que me tornei,
Elas quicam, fazendo ondinhas...
Vejo a água a minha frente...Ela me traz tantos caminhos,
Tantas lembranças que só se o mar abrir,
Vou poder voltar pra casa. Que pena...
Pois não acredito em milagres.
Entretando, sei que enveredar-me pelo mundo afora,
E rogozijar-me entre pernas e vinhos,
Não trará a mesma felicidade que eu tinha antes,
Posto que eu era feliz de verdade e nem sabia...


Balões de pensamentos




 Hoje me olho no Espelho,
À sombra do que já fui um dia,
Penso: - O que já foi já era!
O tempo não volta atrás,
Nunca houve passado,
Só há passado no presente e no futuro,
Pois quando vivemos,
Tudo se transforma em um agora.

E eu vou lendo...Cada dia mais e mais,
Surpreso com minhas descobertas,
E me conhecendo através da minha filosofia,
Pensando mais do que falo,
E com certeza, falando menos do que escrevo.
Mas sei que não há um EU preferencial,
Pois não há um referencial preferencial,
Só há um alguém mutável,
Um ser humano em formação,
E muitas formas de pensar e viver a vida.

Ah...a vida! Da vida, sou mais um aprendiz,
Que traçou tardiamente a sua jornada,
Olhando de longe a estrada e se imaginando lá,
No caminho certo...
- Há tantos lírios a serem colhidos nos campos,
- Há tantas goiabeiras à beira da estrada,
- Há tantos passos antes da chegada...
Mas deve haver planejamento antes da partida.

Talvez, eu viva em segredo meus sonhos,
Num Universo que eu imagino sozinho,
Pois sou tão etéreo em meus pensamentos,
Que nem ligo pra sensatez do que penso.
Apenas estão lá meus devaneios,
Perdidos, Soltos, como crianças a brincar,
Permito-me desprender-me das amarras sociais,
Dos contratos que assinamos com o passar dos anos,
E simplesmente se vão meus balões de pensamentos,
Como os das histórias de quadrinhos, porém soltos,
Com as minhas ideias a colorirem o céu azul,
(Que hoje está tão poluído que está mais pra cinza ou marrom...).







quinta-feira, 14 de junho de 2012

Sombra e pensamento

Se tu olhares no fundo dos meus olhos,
Na imensidão do escuro lutulento,
Deverá, nas pálpebras e em meus ósculos,
Achar as respostas para o meu tormento.

Sei que tu te deleitas sob o azul que cobre a relva,
Prenda minha, não vedes que há um torpor no céu?
Um alguém que percorre o horizonte,
Sou eu, minha diva, sou eu...
Procuro seus olhos, mas não há mais nada,
Além de mim, o Sol se põe em silêncio...

Cada passo na direção do meu algoz,
Sangra-me as lembranças de ti, e eu sozinho...
Meu caminho é o orvalho que os elíseos borrifam,
E minhas lágrimas regam sua Rosa enquanto dormes.
Pois sou eu o seu maior zelador,
E tu me és somente sombra e pensamento...






sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entendas...

Passam as horas, meu peito soluça,
"Tanto Tempo, meu Deus, tanto Tempo"...
Deixei de viver as ternuras,
De um amor, e da dor vivo o desalento...

Sou um Anjo que pende do céu,
Numa estrela preso por um fio.
Sou um sonho e pesado martírio,
Me afastam dos teus lábios de mel.

Sou o afago que buscas na surdina,
Em teu leito, ó menina morena!
Sou teu canto, teu ato, tua cena,
Quando no palco és minha bailarina!

Teu andar que seduz-me inteiro,
Nesses olhos, reluzem'm arco-íris,
Passas por mim com um sorriso faceiro,
Transforma meus dias cinzento' em felizes.

Triste sou por ser tão feliz,
E não me dar conta, com a penumbra no peito,
Padeço nas páginas que servem de ensejo,
Revivo e refaço uma infância em croquis.

E essas dores - todas revividas,
Como na época da escola, eu menino,
Desde cedo já tão sozinho,
O Tempo passa e eu na mesma agonia...









quinta-feira, 7 de junho de 2012

Por quê?

Senhora,
Peço-lhe que enfie as mãos em meu peito,
E tire esse coração com defeito,
Pois só decepções tenho vivido...
Por que me deixas aqui a sofrer?
Não vês que escuros têm sido os meus dias?
Não vês que meus olhos perderam a alegria,
E meu Castelo há tempos se quebrou?

Por que trago uma solidão tão profunda,
Como fardo de uma vida incompleta?
O que fiz de tão errado na vida?
Minha alma já é tão perdida...
Meu corpo padece e eu sofro,
E tenho tentado tanto ser feliz,
Só quero saber: por quê?

A Fonte das tormentas

I

Não há solidão maior que a do peito.
A tristeza me golpeou tão profundo,
Que a solidão desse amor vagabundo,
Há de deitar-se ao meu lado no eterno leito.

Tu foste tão corrupta com meus sentimentos...
A ti entreguei a glória dos meus dias,
Mas tua sombra jogada em outros braços,
Fez minha paixão mais doentia...

É loucura...sou tão estúpido,
Tão rejeitado e tão mesquinho,
Sou um pobre diabo a vagar no mundo,
Sem os braços daquela a quem entreguei o meu destino...

Ai que dor...ai que vontade de chorar...
Quanta amargura o meu peito encerra,
Quantas decepções mais ainda me esperam?
Por quanto tempo mais isso vai durar?

Por que me quiseras tão vazio?...
Por que me fizeras um homem tão sozinho?
Por que me tiraste tudo, até a ilusão?
Por que não me fizeras sem coração?

Não quero mais ouvir tua voz nem em pensamento,
Não quero mais sonhar com teus alentos...
Nasci para sofrer e sigo o meu destino,
Desde sempre amando e sendo ferido...

Sou alma perdida nesse mundo dos homens,
Não venhas atirar flores em meu túmulo,
Nem tuas lágrimas servirão de adubo,
Pois nenhuma vida habita a tua face mentirosa.

E eu bobo que sou caí feito criança,
Forjei-me adolescente e fiz-me assim,
Acreditando nas pessoas e nas lembranças,
Pena que ainda acredito: nas lembranças ruins...

Quero minhas lágrimas resguardadas...
Quero nunca mais pisar em tua casa,
Quero tuas palavras longe, além,
Quero nunca mais amar ninguém.

Ninguém há de dizer que eu não fora correto,
De tanto mostrar-me ali sob teu teto,
De tanto dedicar meus dias a tua felicidade,
Ganhei o desprezo de quem desejei sem vaidade...

Quando vi, meus olhos se encheram d'água,
Não mais haverão dias alegres para mim,
Sangrando, meu coração se afunda em mágoas,
Nenhuma mulher verá meu amor nem meu fim!

E essa dor que desatina - a dor sem trégua,
Faz-me tão fraco, tão sem sentido.
Minha vida será lembrar do meu destino,
E meu futuro é morrer sem choro e nem vela.



II

Mais uma aurora fúnebre clareia a minha janela,
Mas, dessa vez, não quero vê-la completar-se,
Só quero a glória do leito gélido e as estrelas,
Pra acalmar as angústias de um peito amargurado.
Hoje sou lamento,uma Lira estridente desafinada.

Por quê fostes assim comigo, vida cruel e desalmada?
Não vês que sou apenas um Dionísio?
Todo esse amor que me deste para amar e sofrer,
Foi demasiado, amei e sofri um desperdício!
Fui, nesse mundo, escravo de quem não merecia nem o meu desprezo...

Se dessa flor lutulenta que cresce e aveluda o  meu porvir,
Eu tirasse por pétala um dia (ou noite) de sofrimento,
Não Restaria um ramalhete desse Carmim,
Para presentear o Barqueiro no meu momento,
A dor me acompanha como a mais fiel companheira o faria.

E é o sofrer (hoje) a minha paz divina,
Pois se sofro sei que estou vivo, posto que sempre sofri,
E meus risos amiudados e breves foram esquecidos,
Hoje, nem lembro o que é sorrir...
Despi-me de armaduras para amar mas, amor é guerra. Morri.

Com tantos espinhos, oh Deus, se eu soubesse,
Que plantar a semente das Rosas me fosse furar tão profundo,
Não teria plantado, mas sim cortado o Caule,
De qualquer Bela Rosa de qualquer jardim,
Pois Rosas são todas iguais:
vestem-se de veludo mas são essencialmente espinhos!

Quis-me ,Deus, fazer tão lastimável,
Que de sofrer refaço-me as forças e as ilusões,
E de chorar o passado, faria um rio de lágrimas,
Com gosto de mar e profundo como a minha dor.
Para os navegantes, me chamo Mar de Martírio.

Fui navegar ao horizonte e naufraguei,
Tentei nadar mas, perdi-me no Oceano,
E agora perdido em ilusão e desengano,
Só me resta seguir o luto que tomou o meu coração.
E tomou como o faria o amor que de mim anda esquecido...

Agora caminhando pelo vale das sombras,
Não almejo mas os deleites da carne humana,
E nem os olhos que ofuscam a lua cheia mais bonita,
Desejo sim a solidão que escolheu habitar em mim,
Posto que a Brasa que ardia em meu peito tornou-se cinza.

domingo, 3 de junho de 2012

Ironias

É loucura minha, amor...é loucura!
Sou paranoico demais com a minha cor,
Só há uma raça, a humana,
E o meu caráter sempre foi o que importou.

Quando ando sozinho pelas ruas,
Do bairro onde moro e sou parado,
Sei que o doutor policial,
Só está fazendo o seu trabalho.

Não sou vítima de preconceitos,
Afinal, isso nem existe no Brasil,
Todos somos iguais em direitos,
E eu que escolhi ser chamado de tiziu.

Sou cor de jambo, sim senhor!
Mesmo nem sabendo o por quê...
Essa frutinha, deve ser gostosa,
Mas só tem da branca, vermelha e da rosa...

Eu moro bem localizado,
Da laje de casa eu vejo o mar,
Só o cheiro de esgoto é que incomoda,
Mas com o tempo é fácil acostumar...

Não sei por que tanta passeata,
Em prol de negros, gays ou mulheres,
Somos minorias mesmo,
E no final, é só aparecer que eles querem!

Não tenho boa aparência mesmo:
Tenho lábios e nariz grandões,
Se eu pudesse faria uma cirurgia,
Pra ter lábios tipo os do Cauã Reymond....

É preciso muito trabalho para ter um futuro,
Eu sei porque na faculdade era comum,
Nas salas de aula com mais de setenta,
De negro mesmo era eu e mais um.

Ser pobre é bem mais fácil,
Ser negro e pobre é quase uma glória,
Já temos nosso lugar garantido,
Só usar o sistema de cotas...

Enfim, sou louco de pedra,
E por me sentir reprimido peço perdão,
Eu sei que não há preconceitos,
Se houvesse, mostrariam na televisão...