quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Iniquidade

Tuas mandíbulas, dentes marfim
No teu sorriso de escárnio se mostram
Com todos cravos que buscam meu sangue
Nos escritórios, nos postos mais altos.
Os escritores, artistas, políticos
Personalidades que te enojam tanto
O cotidiano passado nos fez lutadores
Sobreviventes de um mundo maldito.
Onde há igualdade no seio da injustiça?
País de miseráveis que exporta a fartura
Cultua o nortista extremo da guerra
Odeia nordestino construtor da nação.

Iniquidade abraçada assim, devidamente
Entre cores de pele em tons mais claros
E o alvo ideal de esclarecer as coisas
Clareiam as ruas, os becos e as  calçadas
Lavando com sangue preto a pedra portuguesa.

Ao seu lado, de trajes humildes
Ou na mesma túnica azul celeste
Não há nesse país sequer um indivíduo
Que se possa dizer em pé de igualdade contigo
Ao teu lado e tão atrás na luta...
Sem suco de laranja pela manhã
Sem carro aos dezoito
Tua empregada era quase da minha família
As dos seus amigos, eram minhas irmãs...
Amanheceu escuro em seu cotidiano
E o sol negro dos meus sonhos apontou no horizonte
Minha melanina não mais me entristece
É a fortaleza que me faz ir em frente.

Sete palmos

Nós somos super heróis,
Nossa super fraqueza é a invisibilidade,
Amontoados sob marquises
Protagonizamos a noite
Quando as lojas fecham.
Durante o dia somos enxotados,
Nosso alimento são as migalhas
Pães dormidos, seres adormecidos...
Casa de papelão, sem teto de zinco
Cobertor jogado no chão - nossa sala.
Olho a lixeira como quem vê um banquete,
Ou a fonte de renda do dia
Sou a extensão do preto asfalto
Como se um braço ganhasse a calçada
Avançando sobre a multidão desapercebida de mim
Lá recosto sobre a solidão dos dias
Meninos de rua, humens de rua, mulheres
Todos sobrepostos nas costas da vida
E quem tem clarividência é o Estado
Vassoura social de varrer sonhos
Pra debaixo do tapete de terra
Sete palmos de expessura.