segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Pilhéria da sorte

Pilhéria da sorte os teus lábios
Dois magos de opostas magias
Em um o tropeço dos sábios…
No outro a ilusão dos artistas!

Milagre do século presente
Na química do teu beijo a alquimia
Transforma um sorriso descontente
Em balaustrada de marfim em euforia.

Não nego que vivo aperreado
A me ver derretendo em tua saliva
Tua língua é quase um atentado
Tua mordida é caso de polícia. 

Se o destino me tiver merecedor
Decerto morrerei em razão disso
Ou me vou ao sentir o teu sabor
Ou me nego a viver sem teu feitiço.

No banquete que habita o teu rosto
Meu desejo é tão simples, te digo
Outra vez vir a sentir o teu gosto
Fazer da tua boca meu abrigo.

Mas na sorte e no amor sou desmedido
E sua boca, bem sei, é itinerante
Sonharei em tornar-me o preferido
Morrerei como um louco delirante!

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Partido ao Meio

Disparo azul em chão verde:
Máquinas se movem.
No céu some a garoa
São Paulo é como o mundo inteiro.

Em breve a extinção trará o esquecimento
Não do homem, do que é homem
Mas do homem que foi um dia
Dono de terra, fazendeiro natural.

Partido ao meio, o ambiente
A água marrom, o céu cinza, o chão vermelho
Cores primárias substituídas
Pelo artificial, pela morte e pelo caos.

Teu sonho, poeta que dorme tranquilo,
Caiu por terra, sem retorno
Sem aves gorjeando, sem palmeiras
Jazem teus versos em covas cobertas de lama.

O belo...o que foi belo um dia
Substituído por ruídos, números em telas
O alimento escasseia aos nativos das matas
Que tempos, Senhoras e Senhores!
Somos visionários de um não-futuro.







domingo, 18 de agosto de 2019

Prato do Dia

Meu restaurante tem prato do dia
Cheguem sem euforia para o almoço.
De entrada temos escravidão
De pretos africanos e angu, com caroço.

Brasileiríssimos como nós somos
Olhamos todo o país para cozinhar
Preparamos Libertação sem coentro:
Larga os pretos no centro para se virar.

No popular o cardápio é bem barato
Tem pratos simples para se degustar
Carne de negro e de índio cozida
Um misto na marmita que é pra se levar.

O principal é o prato do dia
Buscado na fonte, na periferia
Com cuidadosa ação policial
Dizemos que algum negro é mal e tome covardia.

Ainda temos desemprego em fartura
E abundante informalidade
Quem tiver a pele na cor errada pra sociedade
Nada vai comer e vai pagar contra a vontade

Oferecemos chacinas, maus tratos
Torturas, regaços e retaliação
Humilhação passada em qualquer cartão
E de sobremesa...tem vela e caixão.













terça-feira, 6 de agosto de 2019

Não há...

Não há futuro
Porquê não há Sol nem há estrelas
Não há poréns nem entretantos
Porquê não há...se perdeu com o tempo.

Há o silêncio e a compostura
Há o porvir, sem planos, sem chances
Não há revanche, segunda chance...
Não há...por quê não há.

Dentre dúvidas, no entanto
Há a certeza de que não há certezas
Não há beleza na miséria da vida
Há só distâncias na despedida.

Havia amor antes de tudo
Não do criador, não do obscuro
Mas sim o que a sinceridade nos permite.

Havia amor, sim, hoje há silêncio
Apartados eu e a felicidade
Hoje não há sequer saudade...




Balança

Minha balança é desmedida:
O bem e o mal são desiguais. 
Prêmio Nobel e miséria…
Também é fantástica a realidade.

Abismado, questiono o que é real.
É o convívio com o fascínio...
(Não confundir com facínoras, por favor
Nem com fascistas…
Fasc...faz que a gente se acostume
Com o ódio, com o pouco, com o pior.)

Sobre mim recaem expectativas
Como uma névoa que cobre o asfalto
Diminui a visão e me cega quando devia estar atento
Ouvindo os rumores e sussurros
Ouviu dizer que o dollar vai aumentar de novo?
Pois é, pois é...do que importa, não é?

Minha moeda é real, não só no nome
Não especulo, não bajulo senhores de monóculos
Na bolsa, só aposto que não acho minhas chaves
Dentro da minha bagunça e correria
Vou levando o dia, vou por ele sendo levado
Enquanto olho crianças indo à escola sozinhas
Pés mal cobertos, roupas humildes
Aquela camisa surrada me é familiar
Não tenho parentescos com escola particular.

Ser bom na vida, antes de e ante a tudo.
Sem seguir palavras ou escrituras.
Sê bom, vai, anda no que de melhor sua sorte trilha!
É um sorriso que arranco o que colore a poesia
Não a famigerada grana, 
Essa máquina de moer vida.