quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Eu sou alguém

Tive que dizer-me quem eu era
Bizantino homem desse tempo
De Benim ou do Congo, do Mali ou Songhai
Meu passado reside em mim
Como marca da erosão em rocha antiga
E o meu corpo é o papiro da minha história
Escrito em vermelho (ou), marcado a fogo
Em minha pele sempre negra.
Sou o comércio internacional de carne
Sou o chão da fábrica imunda
E não sou nada disso.
Eu sou alguém, Emily,
Que ri e que chora; que sofre e que é feliz
E sou a memória dos povos doutrora
E se eu não soubesse bem quem sou
Talvez eu já não estivesse nesse mundo.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Drummond

Quando escrevo sou espectro
E devo ser tantos
- Desde os Leminsks aos Eliots -
Que na ânsia por agradar a todos
Acabo por ser Drummond.

Nascer e morrer

Entre o nascer e o morrer
Entre o partir e o chegar
Está toda a essência da viagem.
Consta nos manuais do existir
E deve ter sido dito por algum sábio chinês
Que a rota e seus percalços
Consiste por si só no motivo de partir
De acordar de manhã e de ir dormir à noite
Por que o importante não é onde chegamos
É como se parte de onde estamos
E como chegamos no nosso objetivo.