segunda-feira, 24 de março de 2014

Peço perdão

Peço perdão aos grandes poetas
Mas admiro antes, sobretudo,
A poesia das flores e dos campos
Das montanhas e das estrelas
Pois não há tradução maior da natureza
Do que tudo o que nos precede.
Não há metafísica no gralhar das aves
E nem no correr dos rios
Nomear partes da natureza é esforço em vão
Amá-las sim, faz todo sentido.

terça-feira, 11 de março de 2014

Mil suspiros e cartas


Mil suspiros e cartas:
Escritas na mente, suspiros de açúcar.
As lembranças persistem
mas devo calar minha alma,
Enquanto beijo a rosa,
pensando nas estrelas...
Sorrisos, sorrisos, sorrisos
Beija-me rosa; ilumina-me estrela!

A perdição

Encontre, por favor, me encontre,
Estou perdido num mundo vazio,
No qual nem eu mesmo estou.
Faz tanta falta ver o Sol nascer,
Sentir o cheiro da chuva que está por chegar…
Era a aurora dos nossos tempos e tudo desmoronou,
Ainda tenho os dentes, mas acabaram-se meus sorrisos.

Quando você abdicou da nossa causa,
Sim, você abandonou nossos planos,
Se foram as flores mas ficou a primavera,
Ficaram os sonhos, os três desejos,
Mas contigo se foi a minha lâmpada mágica.
Restaram meus cacos, o telefone no gancho,
(Que não toca por nada - não toca por que te espera),
E você partiu para não voltar.
Se eu pudesse perguntar o por quê, se eu pudesse…
O verão acabou faz tempo e o seu calor está ainda hoje em mim,
A mim eu posso perguntar, e me pergunto:

-Dela em mim há o calor. O que há de meu nela?

Só peço que encontre o caminho de volta ,
E volte a sorrir. Vê que amanhece hoje gelado,
Amanhã será melhor e melhor…E, então, no horizonte das nossas vidas,
Eis que surgirá o Sol, iluminando até as manhãs cinzentas de chuva.
Somos perfeito um para o outro: você uma rosa,
E eu o admirador, boquiaberto com a sua beleza.
Um simples olho, a observer seus movimentos,
Sua silhueta e seus cabelos que se entrelacam no meu.

Estranha rosa sem espinhos mas, com pés ligeiros!
Pra onde se foram seus olhos que paravam em mim?
Quem agora merecerá minha atenção integral…quem?
Você se foi para onde eu não posso seguir e eu chorei,
Mas não derramei lágrimas, não quero regar o chão de pesar,
Vou sentar, esperar por você em um canto qualquer,
Quem sabe você sente falta de mim algum dia,
Quem sabe não podam seus pés sorrateiros sem querer?
Estou perdido, Rosa…e você se quer pode me ouvir.

Ladra

Furta-me inteiro, Ladra, leva-me contigo!,
Ou devolva-me o meu coração que pelas ruas foi te seguindo,
Passaste num relance e levara-me a alma,
Triste corpo sou, uma carne humana, mais nada!

Outra vez, naquele passar destraído,
Foram-me os olhos por ela arrancados,
Numa enchente de pernas e asas levados,
Até hoje no escuro eu vivo…

Se arrancares de mim mais um pedaço,
Mesmo pequeno, irei zangar-me contigo,
Como pode um anjo ser tão malvado,
Com um pobre poeta (apaixonado e )iludido?
 

Perdoou-te o furto, todos os teus delitos,
Se prometeres devolver tudo intacto,
Meu coração, meus olhos e meu sorriso…não!
Furta-me inteiro, Ladra, leva-me contigo!

Faz frio e Faz falta

Você não vem. Eu sei. E por que eu ainda sinto a sua falta?
Penduro suas roupas na corda como se você ainda viesse.
Noites longas, frio intenso. Morei sozinho,
Onde ninguém mais tentou morar.
Nem sente falta de rir-se das minhas palhaçadas,
Ou de acordar cansada depois de uma noite de amor,
Não sabe mais quem sou...ou será que só finge?
Estou a imiscuir-me nas suas histórias,
Tento entendê-las. Tento entender-me.
E tão amiúde me falta ar para continuar sendo assim.
Onde está seu rosto cansado ? (Quem chora agora sou eu!)
Pelas noites longas e os dias curtos do inverno,
O sol resolveu agora me abandonar...
Vejo pela janela, ali havia sempre uma musa,
A espiar a passagem da vida do lado de fora.
Onde ela está?
Daqui (e de mim) nada restou e eu mesmo estou a barganhar,
Com uns e outros o pouco que me restou.
E não adianta fingir que pagamos o aluguel,
Eu paguei sozinho, e nada ficou no lugar.
Mudei as estantes da posição de costume e você não reclamou!
Mudei a mesa: Você nem chiou!
Mudei a posição dos talheres: onde estava você para me impedir?
E agora quero me mudar: não por dentro mas, de apartamento.
Não posso viver aqui sozinho com tan
as lembranças,
Depois de soçobrar a vida, nada volta ao lugar,
É a tal da entropia que molda nossos remorsos,
São meus olhos cansados que se despencam no primeiro descanso,
É minha panóplia tentando me proteger de sofrer.
Deixei-te ir daqui, desse buraco onde vivíamos,
Às águas-barrentas-furtadas de um velho coração.
Senti saudades, tentei chorar. Não consegui.
Não tenho mais sentimentos depois de nos ver morrer em meus braços.

O Barco

Um barco-à-velas - sem leme e sem mastro -,
Atraca no porto vazio,
Como o meu corpo – vazio,
Sem alma, portanto, nu.
Morto à séculos por alguns segundos,
Respirando ofegante sem ar,
Afogando em nevoeiro,
Num cais vazio de um lugar qualquer.
O remo bate na água,
Marulha nas vagas escuras,
Espumas espalha.
Sem porto ou mastro,
Sem leme ou bússola,
Sem ter que chegar, sem hora.
Morto num barco à deriva,
Já não se passa o tempo...