segunda-feira, 20 de junho de 2016

Um homem negro não é livre

Por favor me resgate com suas mãos fortes
Estou no fundo do poço, tão profundo
Que não vejo a luz do Sol e nem o azul do céu
Estou no interior de mim, completamente só
E minha mente prega peças, diz-me pra fazer silêncio
O mundo está tão violento e ao meu redor
Só havia dor, sofrimento e frustração, por isso me perdi
Corri pra longe dos homens, segui sem rumo
Sem face e sem coragem pra enfrentar meus demônios

Mas um homem negro não é livre onde vivo
A cor da minha pele me denuncia em segredo

Eu luto contra todos e nunca ganho as batalhas
As guerras são travadas e eu nem tenho armas pra lutar
Derrubo minhas angústias sobre a mesa
Só sobra de mim cacos e quinquilharias
Sou um mosaico de perdas e ódio, mas vivo
Entre lágrimas engolidas e soluços opacos

Mas um homem negro não é livre onde vivo
A cor da minha pele me denuncia em segredo


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Mentira

A mentira é indistinguível.
Toda mentira é igual. Mentira.
Eu minto diferente dos outros
Ninguém acredita nas minhas verdades
E todas as mentiras que eu conto
São desacreditadas a mesma medida.
Inverdades, verdades, verossimilhança...
A mentira sempre ganha pelo sorriso
Pois todo mentiroso é feliz.
Mentira.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Frestas

Quando o choro quebrar o decoro
Não haverá surdos
As paredes são as mesmas
As mesmas casas quebradas
Os vizinhos se estranham
Se olham e não se reconhecem
Mas tecem a mesma teia
Sonham os mesmos sonhos
E se odeiam e se amam.
Mas o que é real vem depressa
Sorrateiramente nos meandros
Invade frestas, infesta armários
Cala as noites e colore os dias
Sem mostrar sua face
Sem dizer nada...

Aperto

Aperto: era vazio.
O pavor a tomar os corpos
O medo se esgueirando
A invadir os portões,
Os Castelos ruindo, um a um
E um por vez foram todos ao chão.
Certezas? As dúvidas...
Existir é resistir!
A alternativa é nunca mudar.