Eu, quando morri...

Eu, quando morri, ainda menino,

Corria nas ruas do bairro

Com pés que chinelos não tinham

Me rindo do xingo dos velhos

Das broncas que recebia…

Eu, quando morri, ainda menino

Aos nove anos de idade

Levava pra mãe o mercado

Meus braços franzinos, de antemão 

Sabiam, que não era para estarem 

apoiados no chão…

Eu, quando morri, ainda menino

Trazia sonhos no bolso da calça

Algumas moedas e linha de pipa

Um riso contido lembrando da escola...

Na cabeça um dever que eu não entendia...

Eu, quando morri, ainda menino,

Busquei socorro sem ter voz

Busquei compaixão em meu algoz

Tentei chorar, gritei minha mãe

Depois, o escuro e eu a sós

Sem partir

Sem partir me reparto

Por que sempre estou lá. 

A memória me invade:

Eu vou, de mim ninguém vai.

Tento tanto também

Tantas vezes tentei sem tentar

Selar meu jumento, bater em retirada

Dar adeus, e não mais estar. 

Unívoca tormenta:

Para cada segundo um adeus,

Para cada adeus uma lágrima,

Sem saber nadar em mim, me afoguei

Cítrica

Cítrica
Paladar neblina
Entre copos e fumaça
Carnavais de praça
Saudade e adrenalina

Meu relógio me apressa
A boca que te acelera
Saliva uma prece
Não finge, agradece
Mais que isso é espera...

Atento aos sinais, persisto
Alhures tu brilhas marfim
Não sou ninguém nos teus braços
Perdoe os meus embaraços
Não saia sem vestir-se de mim.

Adeus, mano. A benção, mãe

Minha partida foi partida:Parti em partes.

Uma parte de mim se foi quando teus olhos se fecharam

A outra, quando ele fechou os dele. 

No terceiro apagar de luzes eu percebi:

Também eu tenho que partir, inteiro

Com as sobras que a vida deixou. 

Adeus adeus. Vou de olhos abertos. 

Nenhuma mão me segura.

Botei meu mundo nas costas, os sonhos no bolso

Não olhei pra trás. 

Em mim, por dentro, te pedi a benção. 

Finalmente entendi que quem vai volta. 

Em partes. Seja como ponte para outras partidas

Seja como um pedaço que restou de quem partiu,

Do que em si se partiu quando se parte.

Adeus, mano, disse a quem não retorna.

Outra vez digo: adeus, mano! 

Aos que se foram, distância é o nosso nome.

Todos os irmãos, meu manos, se foram

Ou estão partidos sem volta.