sábado, 13 de agosto de 2016

Olhos da noite

Nasce, enfim, os meus olhos da noite
No céu azul sem estrelas
Brilhando opaca, luz derramada
Feito lágrimas de dor por quem se vai.

Choro essa vã angústia
Mas choro em silêncio.
Disfarçando o riso, rio baixo
Para que ninguém acorde.

(Se olho para cima buscando consolo
É por que aprendi a rezar com as mãos para o céu
Mas é lá, onde o universo começa,
Que terminam meus sonhos como poeira.)

Pedi para ser feliz a um Deus velhinho 
Ele me disse para nunca amar...
Balela! Amor é arte dos tolos
Mas pode ser belo como a lua:
As fases são tão certas e previsíveis
A dor muda de estação pra estação.







sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Voo

Só posso transformar lágrimas
Em silêncio - ou poesia.
Que mais seria feito de palavras vãs?
O teu olhar de pena
O meu olhar de medo...
Há solução na dor?
Por hora, vejo as flores desabrocharem
Pássaros voando e eu
Voo também do meu jeito tolo
Pelos jardins que te brotaram
Pelos céus que te sustentaram
No seu voo de adeus.

Autopoemas em Série V

I
Essas marcas que trago...que marcas são?
São da sua voz e silhueta no escuro
São dos dias passados em claro...
E essas portas que estavam abertas
Fechadas a cadeado me encerram
Dentro do menor infinito dentro de mim.


II
O meu corpo é um tatame
No qual travei as maiores lutas e as perdi.

Sem esperanças...cadê?
Sem amores...(logo eu!)
Sem rumos (eu me perdi?)
Sem palavras doces (silêncio...)

III
É madrugada...todos dormem!
Dorme o meu amor também

Sem saber que escrevo agora
Com olhos vermelhos da noite pálida
Com um relógio velho no pulso esquerdo
Desejando voltar as horas e não os ponteiros
Desejando retorno do belo que vivemos.

IV
Minhas derrotas marcaram meu hoje
Sou fruto dos viés que meu corpo impôs
Lutei contra mim o tempo todo
De peito aberto, expus minhas fraquezas:
Amar demais, confiar, ser humano.
Ah, como dói ser feliz!
Não tenho mais nada além de memórias foscas
Não sou nada além de luz apagada.



quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Ciranda

Ela não sabe
- nem eu-
O que eu sinto por ela.
Disse adeus sem certeza
Ela disse 'Eu te amo'.
Despedidas sem dor
Não são despedidas.
Quem dera saber de mim
Escolhas feitas, malas prontas
O destino é uma ciranda.


Sonhos ocultos

Eu conto até vinte antes
De me perder na conta.
Distraído, vou e volto
Não que eu não saiba contar
Não que eu não saiba onde estou
Ou onde quero ir.
Não que eu saiba nada
Apenas conto os números
Como se fossem histórias
Tão reais e já tão vividas
Que os olho como se fossem tão meus
Quanto os meus sonhos mais ocultos.


Poesia do ínfimo

A poesia não para, se esguia
É só um pensamento fortuito
Está e se vai, feito perfume.

É um instante, é um relógio
Mas quem vê a hora na poesia
Não sabe nada do tempo.

A arte dos versos, a arte das coisas..
Um móvel é poético,
Um imóvel também.

Há poesia nos arbustos
E nos escombros de prédios velhos...
Há poesia no asfalto quente.

Na cozinha tudo é poesia
Desde a fome e a dispensa vazia
Até a fartura da panela ebulindo.

Se tivesse cor, seria verde
Poesia é grama, é folha de árvore
Ou seria azul de céu noturno?
Ou seria azul de mar?

Embora não pare,
A poesia vai e volta,
Como se borrifássemos de novo
O velho perfume barato
Esquecido num frasco(ou livro) velho
Por termos saudades do seu cheiro.



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A felicidade é ridícula

Um pedaço de pão quando faminto
Os brincos achados sob a cabeceira
A chave encontrada no bolso de trás
A careta que faz o bebê sorrir.

Um chuveiro novo com espalhador maior
A caneca preferida que caiu e não quebrou
O telefonema de quem amamos
Ou a mensagem de bom dia ao acordar.

Uma carona quando atrasados
Uma caneta emprestada antes da prova
Um banheiro quando apertados
Uma marquise quando a chuva cair.

A primeira colheita da própria horta
O colchão novo que melhor acomoda
Uma água gelada em um dia de calor
Encontrar com um velho amigo sem esperar.


Ninguém é feliz por ganhar na mega-sena
Mas, sim, por não ter perdido o bilhete premiado.
Horinhas de descuido?
A felicidade é ridícula!


domingo, 7 de agosto de 2016

Filtro social

As horas comem o dia no carrossel das cores
O preto e o branco, nunca são opostos:
São harmônicos na dinâmica da vida.
A mesma lente que capta a luz do Sol
Capta as mazelas da sociedade.
Relento para os de pele escura
Luxuosas mansões aos de pele clara.
O filtro social aos olhos dos bem-aventurados
Prega a passagem das vidas polarizadas
Aqui, ou se é tudo, segundo definiram,
Ou se é nada.
Eu não sou nada, nunca fui nada, não posso ser nada
Nem mesmo sonhar...


Babosa vermelha

Não importa a cor
Nem se for rosa
Babosa é flor
Por que é cheirosa.


sábado, 6 de agosto de 2016

Esse mundo dá dois

Atrás de onde eu me deito
Repousa quieta a Lua
E, a me beijar de manhã,
Acorda afoito o Sol.
O privilégio de um teto
E o privilégio da bênção
Ter meu pai e minha mãe
A me dar bom dia,
A acompanhar meu sono...
Aprendi a amar o céu azul
Em todas as tonalidades!
Ah, esse mundo...
Esse mundo dá dois!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

De todos os seres do mundo

De todos os seres do mundo
Eu escolhi a mim.
Entre essas bilhões de pessoas
Eu escolhi viver-me
Apaixonei-me pela minha pessoa
E decidi me dar uma chance...
Um amor imenso grande me parou
Fez-me olhar para o meu eu
E ver a maravilha que carregava em mim:
Tenho força, potência, vida, esperança, sonhos...
De todas as pessoas do mundo
Eu escolhi, na sorte, a única
Que poderia me fazer feliz.