domingo, 30 de agosto de 2015

Vermelho do Sol

O sol tomou forma...E eu vi!
Veio subindo por detrás do monte
Escalava sem parar, desde manhãzinha...

Fazia tempos que eu não via um dia tão azul
Já estava bem claro
Quando o Sol chegou no cume do monte.
Não trazia nada nas mãos
E sorria com dentes longínguos...

Expandiu-se num instante!
Pegou sua capa e voou céu adentro.
Parecia entender do assunto
Nem balouçava no céu...flutuava sereno!

E como chegou, se foi
Afundou no mar da noite
Acho que ficou tão quente e feliz
Que queimou sua própria capa...
Ou cansou de brincar de nuvem.
E sem temer a partida
Se foi num arrebol
Colorindo de vermelho o horizonte!


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A fome em terra seca

A fome
O osso a terra come
A pele engorda a traça
Sertão que se alastra
E não tem fim na terra.
O solo seca a alma
A sede é maldição
Vai matar mandacaru
Assum preto e azulão
Chuva molha o sertanejo
Fica verde toda parte
Mas se em janeiro não chover
Carcará faz seu abate
Come as carcaças que tiver
Enquanto água não vier
Pra esse solo de meu Deus
Parece amor que parte
Angústia que nunca passa
Tristeza que cobre o rosto
Choro  sofrido de adeus.


Barco da redenção

A barca é branca
O corpo é negro.
A esperança nunca foi verde
Do lado de lá.
Navega tisga,
Famélica trupe
Família desfeita
Origem renegada.

Busca o senhor de engenho
Busca o braço da repressão
Busca quem o fez miserável
Implora um instante de reparação.

Navega ao norte do Norte
Navega rumo aos anjos da morte
Navega sem saber onde fica o porto...

Mas não há ancoras
para essa barca
Porto seguro,utopia!
Nas terras alvas serão
Vendedores de bolsas,
Guarda-chuvas, falsos relógios.
Serão coopitados pelo tráfico
Serão intorpecidos de brancura
Serão desumanizados pela falta
E a distância é só o começo.

Sonho infundado!
Mar revolto em sua rota
Boias esgotadas
Ébano não boia
Afunda no mediterrâneo
Junta-se aos antepassados
No imenso azul que finda
As histórias da pele negra.

Amora nova

Ofusca a rosa a linha curva
Dos lábios doces que margeiam teu sorriso
Empalidecidos no fulgor da manhã turva
Degustam o calor, enrubram o riso.

E mais feliz sou eu ao ver teu rosto
Amora nova, rosada em flor
Alfora a pele amarga, esconde o gosto
Do brotar negro que adocica a cor.

Somos,juntinhos,mar e jangada
Todas as cores e a ausência delas
Amor que nasce quente em alma apaixonada
Feito pra ser eternizado em aquarela.


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Tenho medo da certeza

Eu tenho medo da certeza.
A certeza é uma pedra no peito
Um peso morto na mochila
E só é útil para quem não tem bom senso.
Gosto de quem não sabe se gosta,
Quem no fim não lembra do começo.
Eu não olho o relógio.
Eu não vejo a previsão do tempo.
Tenho sempre um casaco para emergências
E um amor engatilhado ao lado da cama.
Eu não lembro datas
Nem sei qual é a próxima música
Adoro o caos da noite
Os sons que nos farejam
O perfume das recordações
E as sombras que nos movem.
Meu combustível é o amor
Meu comburente é a dúvida
A fogueira que queima em mim
Me consome; o amor me reduz a cinzas,
E do amor - é consenso,
Não se reclama.
Certeza é a morte, o fim.
O destino do amor é a última estação.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dói-me sua boca

Dói-me sua boca
no recôncavo
No âmago da amargura,
Essa distância,
Que tece no tempo uma lágrima
E causa no peito meia saudade.

Volta hoje, inda tem tempo
Temos um estojo cheio
De lápis
E das cores do infinito
No rebojo
do Sol poente
E da noite clara surgindo.

Me daria a aurora
Nas mãos correndo
feito relâmpago
No teu corpo
quente, ebulindo
Minhas carícias
no teu rosto
E o meu medo consumindo.




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mandacaru

Terra adusta entre o meu atlântico
A sul de Câncer, ao norte de Capricórnio
Nessa ponta de terra, onde a seca brota
Houve você, nascida Flor de Todos os Santos.

Houve mais de você, ainda, pelas estradas
Que teus caminhos o chão lembra, o solo fértil...
Da flor ebúrnea, boca rubra e coração
Que tanto é mistério quanto o meu arritmia.

Repousa em teu semblante esse dilema
Um sol da meia-noite de um inverno no Ártico
Esconde a escuridão atrás dos teus olhos
Esquece a noite perdida dentro de mim.

Trás-me, contudo, um sorriso de esperança noturna
O palor das horas é uma ampulheta emperrada
Que não deixa desabrochar a rosa do sertão
Nem deixa dormir meus pensamentos

E estar longe assim é chão de barro
Nascente de belezas e sofrimentos
Morro na distância da moça e no Adeus
Até o reencontro estou morto também.