quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Amanheceu em meus olhos

Amanheceu em meus olhos a procura
Incessante nos escombros do mundo.
O poço que seca ao findar a tarde
E transborda em novo dia
É a minha esperança pacata.
Sob os olhos dos homens, trabalho amiudadamente
Nas miudezas que me convém
E que enchem meu poço do quintal.

Toda manhã sou ermo na cama
Sozinho, isolado do mundo
Mas todos os dias, minha caravana humilde
De olhar difuso na miséria humana
Se lança como uma Nau em mar bravio
Rumo aos desconhecidos fatos cotidianos
Desbravando e redescobrindo o já descoberto
Mas com meus olhos de pálpebras ébano
E saio de casa na aventura das relações
Tentando mentir pouco e ouvir mais
A fala das certezas mundanas.


Rotina inexiste em quem se transforma
Constantemente, acreditando e duvidando
E voltando a acreditar em mim mesmo
Toda noite, antes de ir dormir, posso sorrir solitário.
Rezo às vezes, repito um mantra
E oro e peço perdão aos Santos
Pois parece estúpido acreditar no impossível
Na bondade dos corações transeuntes
Nas revoluções condicionadas à vontade
Dos que serão decapitados e perderão seus postos
E o poder que têm.
Costumo sentar-me à janela à noite
A olhar as estrelas mais distantes possíveis
Nelas deposito minha esperança
E por serem estrelas fixas
Toda manhã sei onde elas estarão
E é lá que busco, finalmente
A esperança que parecia ter perdido
Toda manhã, todos os dias...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Rara

O travesseiro aquiesce
Toma a forma da cabeça
Estranha a nova estranha
Deforma-se conformado.

O edredom torna-se apoio
Para o pé ainda frio
Que outro pé em desafio
Tenta o calor devolver.

O lençol estranhamente
Reaquecido na cama
De um corpo em outro corpo
Entrelaçados como um só.

E à noite tudo balança
Oscilando fremente
Volve a vida ao corpo nú
Que agora descança quente.