sábado, 21 de julho de 2018

Saldade

Não tem erro na Saldade
Parece equívoco mas repare:
Saudade é dor de se faltar
Saldade é saudade do Mar.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Previsão do tempo

Previsão do tempo em meu corpo:
Nos meus olhos chovem,
Seca na minha boca,
Um frio que acomete minha barriga.
Calor só no meu peito,
Minha geografia é todo um continente...

Incerta, cheganças sem partidas
Moedas não viciadas,
Baralhos de Tarot.
Previsão do tempo é meu nome
Ninguém acerta minha estação.

A minha maré não traz as águas
Só incertezas:
O ônibus que não passa,
A menstruação que atrasa,
O filho que sai de casa,
A hora que a morte chega.






Dó ré mi

Dó ré mi
Dó re mi

Tenha dó
Ri di mi.
Ri de mim
Redimir
Reme em mim
Ré de mim
Cai pra trás
Capataz
Capa e traz
Catedrais
Mãos escravas
Mãos negras
Mãos chibata
Mancha a data
Mancha a bata
Padre esnobe
Padre ex-nobre
Padre ex-podre
Teu senhor
Tá no céu
Tá no cel
Dedo e anel
Roda de ouro
Circula o touro
Circo de couro
Circuladouro
Volta do mundo
Voltando imundo
Vou ta rotundo
Vaga do fundo
Mar que transborda
Mãe que te borda
Tece palavras
Línguas eslavas
Li piaçavas
Abracadabras
Pé na urtiga
Liga e desliga
Fome é barriga
Nome é lombriga
Verme tirano
Intestino é cano
Entra na boca
Sai pelos anos
Cinquenta, dourados
Passados amores
Amor tece dores
Amortecedores
Amor tem senhores
Sem cores, odores
Amor...ter sem flores
Sem rosas, espinhos
Ruins ou bonzinhos
Ruins ou bons vinhos
Ruínas sem pinhos
Ruir em caminhos
E ruas de pedras
Ruas desertas
Rua desperta
Amor pela arte
Cantar é desastre
Dançar faz parte
É só dó de mim
É xodó de mi
É meu dó re mi.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Adeus, é hora, Adeus...

É hora - todos os sinos anunciam.
Desde Roma a Jerusalém.
Se foi como quem viveu um dia
Mas viveu como se já tivesse ido...

O relógio enumera as causas da morte.
O laudo não grita a dor do despejo.
Expulso do corpo, sozinho no espaço.
A vida foi só um breve lampejo...

Pela manhã teve o Sol queimando
À tarde o primeiro golpe fatal
A noite trouxe o fim do seu tempo.
Luto em toda a cidade: ninguém deu sinal.

Já foi a vez do corpo sobre a mente
Quem impera nessa era é a descência
Não maritiriza a ninguém a morte
Traz somente, talvez, a dor da ausência.

Adeus, irmãos, adeus, adeus,
Abraçando memórias juntas ao meu corpo,
Me vou, despeço-me dos meus.
Adeus, é hora, adeus, adeus...


Cada segundo com você é precioso.

Quando me veres, do alto do meu cansaço
Te lembrarás destes dias turvos
Nada será esse ouro reluzente de Minas.
Em mim, terei o meu silêncio ofegante
E o passado visitando meus sonhos de quando em quando.
Mas não se engane: nada mudará no meu interior.
Ainda serei naquele velho retrato de nós dois
O mesmo sorriso que seus olhos sobre mim deitaram.

Cada segundo com você é precioso
Tempo que orvalha sobre os móveis, resplandece o chão
Faz tudo que é tocado ter som de tambor
Como se te ver fosse lustrar os móveis e varrer o chão
E morar em Ifé sob o julgo do Rum.
Tempo louco, no qual sou um e sou outro
Enquanto luto para ser nenhum dos que me habitam.
Olha, meu bem, as palavras se enganam fácil
E a mente é um labirinto: mas eu sou todo corpo.
Um corpo faminto por ti, um corpo que anseia por ti,
Um corpo que, na tua ausência, perde o calor.

Minhas memórias

Todos os velhos retratos estarão guardados
E bem trancados no futuro.
Minhas memórias serão apagadas de lampejo
Como flash de luz que cruza o céu.
Tu te recordarás quando à beira do fogão
Um crepitar de dor dentro da panela surgir
 - O angu e a carne da escola no interior -
E eu já não serei a saudade amarga em seu peito.

Quero-te em braços serenos, em voz de beijos doces
Como nos caminhares em rua de terra.
O café é tão preto que cheira a madeira nobre
Meu coração não tem teu formato, nem teu gesto.
Vou morrer antes da meia noite, acordado e alerta
Com o aroma da sua juventude na boca
E poucos arrependimentos, mas ainda infeliz.

O amor nao mata quem o sente;
Amar é renascer pra vida eterna.
E a paixão é o prenúncio, brisa antes do furacão.
O que nasceu do canteiro de nós não vingou
Deixo a culpa deitar em meus olhos escuroseE quando tua primavera chegar
Teu seio em flor relembrará meu nome
Com mais mágoas que rancores
E eu ainda estarei com uma frase presa na garganta
Um pedido de desculpas sem advérbios
Uma ferida aberta que fechou sem dar queloide.


Não sou

Não sou porque nada é
Antes de ter em si próprio o seu sentido.
Estou...existo...da forma que me pode sustentar
Pois todas as ruas são cruéis aos pés descalços.
Famintos se entrecruzam a espreitar promessas
O lado de fora de nós é uma cidade:
Dentro, ora sou inferno, ora purgatório.
Deixo o céu aos infiéis a si próprios.

Nenhuma vitória deu-me o primeiro lugar no pódio.
Nenhuma de minhas relíquias estão em meu peito
Guardo-as em memórias espalhadas por gavetas,
Por pensamentos que me torturam e causam sono,
Pelos caminhos que passo apressado sem olhar pros dois lados antes de atravessar.
Na trajetória que minha vida segue, sei que vou colidir
E anseio o impacto, como se fosse pari-lo, extirpa-lo do meu ventre
Para ver nascer no seio do meu algoz o meu motivo para sorrir.

Ali adiante, além das pegadas em pisos limpos por terceirizadas
Estive pensando, quando não estava sufocando meus medos:
Há um novo futuro pras velhas ações!
Não se comova, porém. O futuro é o mesmo que a vida tem...







domingo, 1 de julho de 2018

Sou onde, não quando

Vou dormir sem o dia em mim dormir.
É como palavras decantadas no fundo da boca
Não há fim para o silêncio do meu deglutir
E toda frase sem nexo eu encaixo aqui.

Um poema mudo ou de voz rouca
Basta ler umas páginas para nos encantar
O que há em mim o mundo não conhece o sinônimo
Sou onde falha o dicionário
       Onde morrem os inválidos
       Onde não tem sentido a palavra
       Onde a garganta desafina
       Onde os olhares são um completo vazio.