domingo, 23 de dezembro de 2012

A casa

                 Estava abandonada há tempos mas, não era velha e nem nova. A casa só estava lá, sem vontade de ser habitada por ninguém. O telhado novo, com telhas novas. Mas os mesmos problemas nas paredes. Eram inúmeras infiltrações que às tornavam frágeis, sem brilho ou cor, que nenhuma tinta ali pegava. Ela transpirava, como se houvesse uma tentativa de existir, de resistir, de dizer que no fundo, talvez nos alicerces ou no cerne do telhado, havia uma voz quase sussurrante, dizendo que estava ali e que estava viva, que queria mais que apenas ver a vida passar e os cupins derreterem as vísceras da sua madeira. A casa queria viver e ser vivida. Estava de dia.
                 Estava de dia e os pássaros cantavam. As portas abertas indicavam a receptividade dos seus cômodos para com os transeuntes. "-Venham!, gritavam os móveis, mas quem vinha não interessava. Eram apenas mendigos, carentes de um lugar para morar e que não se importavam em ter só um pouco, um teto, posto que já lhes era muito. Quem vinha aproveitava do calor dos cômodos, do telhado novo, do seu amplo espaço, mas não queriam se quer pensar em reformá-la. A casa permanecia intacta, como se ninguém houvesse a habitado. Quem vinha, ia, e nada mudava. Noite e dia, dia e noite, só as pegadas dos pés descalços, carentes como a casa, é que ficavam. Marcavam o chão, como quem marca uma próxima consulta e não volta. Só ficava a marca e o vazio pelo corredor. E foi assim por muito tempo...
                 Uma vez, numa noite quente e úmida, entrou na casa uma bela moça. Tinha os cabelos cor de mel de margarida. Um mel claro, porém, mais escuro que a cor da sua pele, tão branquinha, e de bochechas rosadas. Os olhos frondosos feito uma Água Marinha (azul-esverdeado ou seria verde-azulado?) combinavam com sua calça, em tom de cor semelhante, em contraste com seus lábios finos e rosados, sem batom. Trazia uma aura boa, dentro do sorriso espontâneo que abriu ao ver a choupana, humilde e hospitaleira à sua frente. A moça não demonstrava necessidade. Ao contrário, ela gostava daquele estilo de casa. Um bom telhado, paredes a serem reformadas, mas nada que estragasse a essência. "-Todas as casas têm defeito", pensou ela. Sentou-se, resolveu ficar. Num primeiro momento, a casa alegrou-se. Era uma moradora diferente, sem parecer que queria ficar muito tempo, mas que com certeza queria algo. Um pouco desesperadamente rápido, sem muito contato visual. Foi tudo imediato, como uma paixão fulminante, arrebatadora e sem presságio.  Foi uma alegria sufocante, passageira que logo se tornou um martírio. "-Porquê ela insiste em ficar? Já se foram duas semanas e ela ainda está ai, sem limpar o chão, sem envernizar os móveis, sem consertar a descarga...só está ai, como quem não sabe o que quer e não tem mais pra onde ir", pensou consigo a casa. Ela ainda estava intacta, como quem não quer mudar nada do que viu. Isso era desesperador para a casa. "-Quero viver a vida de alguém, ter as paredes reformadas, encerrar as coisas de algum aventureiro cansado! Sei que essa moça vai embora...". No dia seguinte, mais uma vez, lá estava a moça saindo. À noite, voltando. A casa começou a expulsá-la. Já era hora de deixar novos inquilinos habitarem seus cômodos, pensou a casa. Aos poucos, a casa foi se desfigurando, mudando de cor e se revelando triste, sem o encanto que a moça havia percebido. Foram-se os detalhes da porta, comidos por cupins, foram-se os tons de verde da parede, já desbotada há anos. A menina não entendia o que havia feito para a casa estar tão chateada e relutante em mantê-la lá, sendo seu abrigo.
                  Pela primeira vez, a casa falou com alguém. Disse-lhe:
-Moça, tu és bonita. Jovem tu és. O que queres com essa casa acabada, sem condições de abrigar ninguém?
-Esta casa é tudo o que procurei. Vago há mais de um ano nessa cidade, nesse mesmo bairro. Nunca havia lhe visto. Esse é o abrigo no qual eu quero morar. Não é tão perfeito quanto os outros mas...tem cheiro de casa! Precisa de reformas mas farei aos poucos, quando tu quiseres renovar teus pavimentos.
-Tu não pareces que irá morar por muito tempo. Tenho muitas incertezas...Tu não precisas de mim!
-Te enganas, bela casa abandonada. Não preciso é de abrigos perfeitos, mas preciso de um lugar onde eu me sinta em casa.
-Não sou sua casa. Não sou casa de ninguém. Sou só uma  inabitável choupana, triste, de muitas experiências ruins, mas que viveu pouco para dizer que é velha...procuro alguém pra me habitar e trazer os ladrilhos de volta ao meu rosto!
-Se tiveres paciência, assim o farei. Tu tens que me ajudar. Não posso fazer tudo sozinha, preciso de uma contra partida. Se tu quiseres, assim o quererei.
-O problema é que não sei se quero ser habitada. Preciso do meu sorriso, de ladrilho novo. Mas não sei como fazê-lo. E nem sei, realmente se quero...talvez seja só uma maneira, de tornar as coisas impossíveis de serem mudadas...
-Façamos assim: Tu deixas me tentar torná-la meu lar e em troca, eu me esforço para não trocá-la por outra, mesmo que às vezes tu me deixe irritada, tudo bem?
-Tudo bem. Mas o que sinto, é um vazio que não é dos cômodos. É algo como uma parede sem reboco, um chão sem piso ou carpete. É algo que o mundo as casas precisam, e eu simplesmente não tenho...mas nem sei o que é!
                    A menina pensou. Sentou-se no velho sofá e pegou no sono. Pode ser que o futuro seja bom para ambas, mas pode ser que não seja. A felicidade da casa e da menina são independentes e elas só podem ser felizes juntas se o forem em separado. Toda casa deve estar com alicerces fortes, paredes firmes e telhados sem buracos para abrigar um morador. E tudo que essa casa quer é saber como se tornar habitável...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sou nada

Não fui e ainda não sou nada
Caminho apenas deixando-me guiar pelo vento
Na cabeça, os sonhos se desfazem a cada passo
Depois de tanto cortar o mato da trilha e recriá-la
Depois de ir além dos limites que previa - mas que sempre achei pouco pra mim
Depois de tantas perdas e tantos choros...decepções
Depois de ver eu me tornar metade do homem que planejei ser
Vejo-me no espelho e só enxergo as minhas lágrimas. Depois, só depois de tudo.
Não sei o que deu errado no Caminho
Não sei se o vento mudou ou se eu andei contra ele - em algum momento
Mas sei que o que trago no peito não é saudade, não é rancor
Nem tristeza o é, diria. É algo que foge às palavras e aos poetas
Foge ao sofredor. É a dor da derrota mais profunda
A dor terrível, que ninguém e nenhuma outra dor subjuga.
É a dor do amor que não tive, nem haverei de ter
Não conheci ninguém que tenha amado sinceramente
(Se alguém me ama ou amou em segredo, que me conte agora!)
Só sinto-me esvair pelo ralo do banheiro a cada banho,
Quando as lágrimas que me molham o rosto escorregam,
Pra junto de suas primas, as gotas salgadas da água amarelada.
Sou só, mais que nunca. Abandonado por mim e pelo meu espírito,
Sou um metro cúbico de vácuo absoluto. Sou nada!
Aquelas lembranças vão durar por anos...mas não é de uma amor do passado,
É apenas, de um passado sem amor. Sem graça. Sem cor.







quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Castelo de Ilusões

No meu Castelo de Ilusões e poeiras,
Feito de sonhos - ou vontades eternas,
Transitam beldades, sereias e Deusas,
Nos salões vazios ou cheios de trevas.
Sou assim escravo, das minhas frustrações,
Um desconhecido para mim e para as minhas ambições.

Sou feito de pó, das estrelas brilhantes,
Que povoam o espaço - sou um ser sideral,
Talvez o rei solitário sem reino, seja eu relutante,
No meu sonho fantástico (que parece real).
Sob o olhar atento da aurora, a vejo partir,
Lua, vai sem demora, talvez para onde eu queira ir.

Ai de mim que não passo de um pobre diabo triste!
Amargurado de lágrimas que não me deixam sorrir...
Vou viver meus valores - se é que ainda existem,
Antes que eu apodreça sob a luz do Porvir.
Soam sinos nas igrejas ao meio dia,
Não soarão quando a missa  for minha.

Corro as noites feito Corvo faminto,
Mas sou minha própria caça e objetivo,
Permeando os meandros do meu Labirinto,
Ouço meu choro mas, já não tenho motivos.
Em cada ela eu me perdi e ainda me perco hoje,
Mas Ela me veio tão sincera, como um anjo de boca doce.

Construí em cada rosto as misérias humanas,
Valendo-me de promessas como um político o faria,
Mas não foram as volúpias usurpadas na cama,
Minha felicidade. Mas sim a poesia!
Minha senhora me tomou em seus braços de véu de luto,
Vou sorrir para o barqueiro, vou, finalmente, mudar de mundo.







quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Super-Nova

Vez por outra o Sol acorda atrasado e,
Quando saio de casa, ainda está escuro.
Mas não faz mal, as luzes das ruas me mostram o caminho.
Eu que fui acostumado a acordar cedinho,
Agradecer ao Astro-Rei e contemplar as brumas das manhãs,
Tive que aprender a esperar pacientemente pela aparição dele no horizonte.
Seja bem-vindo, Sol! Derrame em mim a sua luz!
Vou seguindo os caminhos que trilharam os antigos,
Sigo observando as estrelas, próximas ou longínquas,
Enquanto ele atravessa a Eclíptica e as Constelações vem surgindo.
Não sou chegado a Astrologia. Prefiro Astronomia.
Minha Luz maior vem das sete irmãs, as Plêiades,
E nenhuma Antares brilha mais.
Sou poeira estelar- como todo o resto da matéria do mundo,
Por isso sei, que sou nada mais (ou um pouco menos) que átomos.
Sigo cascaviando, assim, procurando aqui e ali,
Entre um olhar devotado ao Céu e outro ao meu redor,
Ainda busco dentro de mim a essência da estrela,
Que numa explosão de luz e calor me fez ser o que sou.


sábado, 10 de novembro de 2012

Manhãs na correria

Toca o despertador, toca o celular.
Acordo. Não levanto. Desligo um,desligo outro.
Preguiça. Pausa. Volto a dormir sem perceber.
Acordo, de novo. Desesperado.

Quantos graus tá fazendo? 8º. Ótimo, não tá frio!...(hein??)
-Que horas são? Perdi a hora? Não. 
Só se passaram  dez minutos. Tenho que tomar banho rápido...
Tomo café. Louça lavada.
 Escovo os dentes lá! Não, vai dar tempo...
Troco de dentes enquanto escova a roupa, digo, deixa pra lá...
Tô arrumado, falta alguma coisa?
Cadê meu fone? Não vai dar tempo...
Melhor ir logo, vou me atrasar de novo.
Nunca chego cedo...mas pelo menos, tento.
Aqui, ainda falta muito pro ônibus? Dois minutos, diz no letreiro...
Tenho uns vinte minutos pra chegar, to sossegado. Cade meu fone?
Abro a mochila. -Beleza! Tá aqui dentro.
Pego o ônibus. Não esqueci nada?
O que eu terei hoje? É importante?
No almoço eu volto pra casa ou como por lá?
Que cansaço, nem adianta mais dormir...
Sempre acordo achando que fiquei acordado...
Noite tão curta, dia tão longo..tô um bagaço!
Dias curtos me lembram inverno...deixa o dia longo!
Não, não quero que seja o contrário!


Perseverança

De volta ao rumo a vida brilha,
De cor em cor refaz-se o arco-íris,
No Outono, onde o chão se cobre de folhas secas,
Sonhos são meros pontos de vista.
Calculo, refaço, erro muitas vezes,
Sentado relembro e vejo a vida passar,
É a esquina da minha época essa euforia,
De informações que confundem a realidade,
Fazem dos olhos a vitrina da mídia.
Que esperanças me trazem ver tanta agitação,
Onde nada havia, a não ser a acomodação?
Agora nos rostos percebo a esperança,
Que pensei ter perdido, ainda quando criança,
Retomada hoje, na virada da maré.
-Sê feliz!, me dizem, quando esquecem o que é Inverno,
-Sê forte!, reiteram, esquecendo o que é Solidão,
Mas os dois monstros matadores de gigantes,
Não serão meu fim mas, minha ressurreição!
Tempo, espera! Passa lento mas, passa...
Deixa-me deitar para ver o pôr-do-Sol,
São quatro da tarde, mas quem se importa?
No céu acendem-se as lanternas, quando se apaga o Farol.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A porta

Enquanto observo a porta, ela está sempre uma porta,
As coisas estão o que eu quero que estejam,
Mas quando me viro de costas, já não posso dizer nada.
Talvez nem importe o que são o que não vejo,
Mas importa como estão, pois me afetam.
Uma porta aberta é uma passagem,
Uma porta fechada é um entrave,
E tudo depende de como está,
Pois nada É no Universo, a transformação abarca a todos,
E todos nós somos mutáveis, como um diamante,
Que pode ter sido tanta coisa, inclusive nada.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Verdes-azulados (ou Canção Triste)

Hoje eu preciso chorar,
Tantas lágrimas me sufocam, meu ar,
Meu chão e minhas ilusões,
Se foram, há quanto tempo oro por dias melhores?
Acredito no amor, mas ele não é por mim...
Há tanto tempo venho me sentindo assim?
Que horas são? Meu despertador sempre me acorda antes,
Mas desse pesadelo, a manhã parece tão distante...
Vou acordar dizendo ao mundo que mudei,
Fazer o melhor café da manhã pensando você, ei,
Por que ainda penso tanto assim?
Não há mais nada de você aqui...
Só a sua escova de dentes e sua calça preferida,
Que é minha, mas à noite te mantinha aquecida,
Vou ajoelhar mais uma vez diante de uma mulher,
Dizê-la que ela é...o que ela não é,
Mentir pra mim pra fazer-te um Altar,
Onde qualquer outra que me aqueça à noite poderia estar,
Mas agora estou perdido...
Meus rumos, onde estão? Meus objetivos...
Olhando as estrelas eu lembro da Lua,
E da minha querida, a qual torno aqui minha Musa,
Nem parecia assim quando a vi sentada no salão,
Esperando um convite pra dançar um tão simples baião,
Ninguém sabe nada da vida como o tempo,
No outro dia eu te liguei, se bem me lembro,
Mas hoje somos tanta dor boba e inimizade,
Dói em você, ou só eu sinto meu coração partir?
Eu vivi uma vida com você em três semanas,
Pergunto-me se se algum dia viverei algo tão intenso,
E de novo, volto a estaca zero e ainda sou menino,
Me obrigando a crescer diante dos infortúnios do destino,
Quando eu grande estiver não só serei maduro,
Serei como o tempo lapida quem nasceu para o mundo,
São verdes-azulados, e lindo o seu sorriso,
Mas daqui em diante vão precisar de bem mais que isso.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Não podemos deixar

Brasil,
Acorde sob o Sol resplandecente que clareia sua janela,
Há tempos a glória bate à sua porta e você não abre a porta pra ela,
Foram-se os tempos da escravidão, da vergonha e da omissão,
Foram-se mesmo? Quem disse isso, a consciência ou a televisão?
Deparo-me hoje com índios morrendo em seu próprio solo,
Tudo por defenderem a vontade de viver de seus povos,
Vimos em 1822 a nossa independência,
190 anos depois negros e índios ainda lutam pela sua sobrevivência.
Deram os guetos pra uns, e venderam-se as terras do outro,
Mas parece comum, é o capitalismo quem comanda o jogo,
Nos tornaram escravos do pensamento de que todos podem igualmente,
Sair da favela ou do carro importado e conseguir o seu lugar ao Sol,
Somos iguais em quê? Minha pele não ter cor de arrogância...
Quem grita não pede igualdade, pede por tolerância,
Sob as espingardas dos jagunços do grande sertão, veredas,
Os soldados amarelos hoje em dia vestem as fardas pretas,
PM matando de crianças a campesinos,
Código florestal contra as florestas nós até já redigimos,
Era mais fácil deixar as matas para o Tio Sam,
Deixar que as bombas nos queime todos de um modo indolor,
Para o extermínio continuar após o churrasco,
Com a carne que o governo se alimenta, a carne dos mais fracos,
Aqui é aplaudido o juiz que faz justiça,
É ovacionado o estudante que vai contra a polícia,
Quem devia fazer seu papel ta contra a população,
Algo tá errado quando um governador é chamado de ladrão...
Quem está por nós se não a força que nós mesmos temos?
Quantos Valérios e Genuínos estão na ativa e nós não sabemos?
Quantas histórias de traição dariam novelas melhores?
A avenida da corrupção do brasil hoje nem dá ibope...
Falta educação, saneamento, a saúde tá foda,
"Mas tem problema não, pega o dim dim e gasta com a Copa!",
Olimpíadas não Olím-piadas 2016,
O rombo que a COI e a FIFA vão deixar vai pro bolso de vocês,
E calados, abafados como sardinha na lata,
Vamos ao trabalho diariamente engordar magnata,
Nas fábricas que antes foram palcos de rebeliões,
Funcionários almejam o cargo dos patrões,
Uma mentira dita várias vezes ainda é uma mentira,
O nome é mínimo por que o salário nunca vai dar pra pagar as dívidas,
E antes que morramos vendo mais genocídios e chacinas,
Não podemos deixar de pedir: Brasil acorda pra vida!











quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O seu Rosto

Quando em minha mente refaço o seu rosto,
E o verde dos seus olhos tomam meu coração,
Quando meus sonhos se dissolvem no teu gosto,
Vejo que perdi toda a minha ilusão.
Já não vivo o Eu, de outrora,
Já não olho as Estrelas como antes,
Sou o tempo que não respeita mais as horas,
Sou o Leme da minha vida e tu, o Almirante.



sábado, 15 de setembro de 2012

Pintor de Estrelas


Se me disseres que vens eu paro tudo,
Serei só teu de cada precedente segundo,
Até a hora de tua partida.
Serei feliz uma hora antes ou mais,
Serei a pomba branca, símbolo da paz,
Corpo e pensamento só teus, querida.

Viajarei para longe procurando assuntos,
E em cada pensamento hei de despertar,
A sua curiosidade sobre as coisas do mundo
Tudo para ver em teus olhos cor de mar,
O mesmo brilho que eu trago no peito,
Por amar tanto um anjo que não aprendeu a voar.

E no teu colo, enquanto pinto estrelas,
Espero pacientemente que tu adormeças,
Pois sou eu quem vai te pôr na cama,
Enquanto repousam teus olhos de princesa.
Eu a observarei de pé, regozijado,
E serei feliz,mais que qualquer rei desse Planeta.


Olhos Calados


O quê você vê frente ao espelho,
Além desses olhos vermelhos?
Cansaço? Rugas? A mordaça...
Que há tempos cala o seu sorriso...
Mas você trabalha demais, não é?,
Não vai ter tempo para pensar na vida.
Corta seu coração ver tragédias,
Mas sua boca é cega,
São teus olhos que se calam,
Não contam ao mundo o erro cometido,
Dentro das salas, no quarto das crianças,
A violência, a opulência, a ganância,
A oportunidade de mudar que é deixada de lado,
E o pôr-do-Sol tão belo e espantador,
Que você viu da janela da sua linda mansão...
Mas se quer uma palavra ao vento, você atirou...


domingo, 9 de setembro de 2012

Reflexão

A noite chega lenta e o vento sopra frio,
Conforme o tempo passa, o outono anuncia o inverno,
São tempos de mudança nas estações, 
E eu aproveito para mudar a forma com a qual eu vejo o mundo.
Junto com essas mudanças, tem o ser que me habita,
O ser que olha e não se cala ante ao desconhecido,
Que observa o espaço e o mutila, o reconstrói,
Sem precisar, para isso, de um só talho na essência das coisas,
Pois tudo se faz no silêncio do pensamento,
Na escuridão que se esconde a alma,
 Na paz de um olhar de ancião que,
Sem usar palavras, diz tudo o que tem pra dizer.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Lembrancas

Já faz tempo que eu esqueci o cheiro do mar,
O gosto daquela água salgada (é tudo que me lembro).
Já esqueci o que é correr pelas areias brancas,
Vendo o sol se pondo por detrás dos edifícios,
E a lua, esplendorosa, subindo por detrás dos morros,
Naquele horizonte azulado, enquanto me despedia da luz do dia.
Há tempos nao sei o que é passar a tarde olhando o mar,
Ou mesmo, pescar um carapicu no Canal do Itajuru.

Namorei os livros por muitos anos,
Beijei poucas bocas. Tive poucas volupias
Sofri e chorei menos do que deveria,
Mas sempre ao meu lado, esteve o mar,
Sereno ou bravo, de mare cheia ou baixa,
Seguindo os meus caminhos e em mim arremessando,
Todas a maresia que me fez suportar tantas dores.

Nas noites em que se fez o frio, estive com eles,
Meu outros amigos, companheiros para uma vida,
Aqueles com quem corri e joguei bola,
Com quem vivi uma infancia inteira,
E dos quais sinto uma saudade indomavel.
Mas na vida, tudo muda e eu sou senhor das mudancas,
Tao adaptavel, que mudo sem mudar minha essencia.

Hoje sao chegados os tempos que pedi nas preces,
E choro agradecendo por eles todos os dias,
Pois sao os tempos em que tudo pode mudar em mim,
E toda modificacao pra melhor me é bem vinda,
Pois sou sereno como os campos no outono,
Mesmo quando o destino estremece a ponte que atravesso.
Sei que haverá sucesso na caminhada, mas só depois do trabalho.

Sofri com a saudade mas nao morri (ainda),
Vivi as margens do mar e aprendi a idolatra-lo,
Brinquei e sorri com as pessoas que me deram uma infancia,
E em casa, cada briga me fez crescer.

Pensando melhor, lembro-me de tudo,
De cada gosto e cada cancao sob o luar,
E dos dias de praia, que nunca perderam o encanto.
Lembro-me de como é gostoso acordar e ouvir o mar,
Estar ao lado de quem amo tanto...
Pois sao inesqueciveis as derrotas e as advindas experiencias,
As vitorias e suas consequencias, assim como é impossivel esquecer,
A terra  que me viu crescer.






segunda-feira, 30 de julho de 2012

Brilhante escuridão

Namoro estrelas que estão no céu,
Sou uma criança com um telescópio,
Admirado, rio sozinho.
Como pode conter em pontos tão pequenos,
Tanta beleza, entre um azul tão profundo?
Por vezes, a eternidade dura um segundo,
E passa a minha frente toda a história do Universo.

São minhas guias, como o são meus antepassados,
E juntas são como um jardim de Rosas,
Estrelas brilhantes, Constelações de pontinhos,
Que meus olhos enxergam como uma canção,
Inexpressível na linguagem dos homens,
(Só o Cello da du Pré pode expressar...)
E somente audível ao coração.

Quando fecho os olhos ainda posso vê-las,
Estão espalhadas pelo meu corpo, na minha memória,
São parte de mim, mas nunca poderão ser minhas,
Pois sou senhor da terra e não tenho asas.
Sou um pobre diabo a rir-me todo,
Quando ao se pôr, num espetáculo magistral,
O Sol revela o tesouro Antares,
Rival celeste, Vênus sideral.

E o próprio tempo, sempre tão apressado,
Para pra admirar a beleza astral,
Quando não se distingue futuro e passado,
Quando o que se via torna-se invisível,
E então só resta dúvida e a escuridão.
É lá que repousam meus olhos cansados,
Nos braços da noite, a olhar calado,
a sombra do que um dia brilhou como um farol.

Está lá no céu como está na Terra,
Um mar de Rosas e Constelações,
Onde repousam os meus pensamentos,
Onde degola-se minhas ilusão.
Vou ficar a olhar as Plêiades,
Sentado num lugar qualquer perto de casa,
A sentir o vento lavando a minha cara,
E os sonhos esvaindo junto com o tempo...

E assim, me vejo dia e noite a correr,
Entre Rosas e Estrelas que me domam a vontade.
Leva-me em seus braços, doce frescor da noite,
Braveja-me seu hálito, doce manhã soturna,
Tão misteriosas senhoras a vagar pela estrada,
Onde a loucura e a ilusão são irmãs gêmeas,
E a dor e o amor são indistinguíveis.






sábado, 28 de julho de 2012

Requiem

Não sei se eu tenho sorte ou se fui escolhido,
Não sei se é culpa minha ou culpa dos meus amigos,
Só sei que estou onde eu mais queria estar,
E agora eu sei que não posso nem pensar em voltar,
Foi preciso muita ajuda, fé e oração,
Botar a cabeça pra pensar chacoalhando no busão,
Um livro aberto, foco pra não me perder,
Pois já havia perdido quase tudo quando eu perdi você,
Eu vi nos teus olhos quando fui te visitar,
Que era um Adeus e você não poderia voltar,
Não guardo boas lembranças de ir a Hospital,
Ninguém sabia se você ia voltar mas, eu tinha certeza que não,
E hoje o tempo passa como quem tira uma faca do peito,
Alivia um pouco o golpe mas, não retrocede o efeito,
A falta que seus olhos fazem ao me olhar com amor,
É pior que Banzo pra esse negro que conhece bem o que é dor,
Mas suas mãos estiveram sempre ao meu alcance,
Foi por você e pelos meus irmãos que eu aproveitei cada chance,
Se me perguntarem por que eu não desisto e cheguei onde estou,
Eu vou encher os olhos d'água e dizer que é por você Leonor.


Eu serei tão grande quanto o Sol, um homem de respeito,
Vou fazer sempre o meu melhor, seguindo o seu conselho,
Estou fora de casa há tanto tempo que eu nem sei o que é um lar,
E entrar todo dia nesse quarto vazio me faz pensar,
Sentado em frente à mesa vejo o seu retrato,
E rio sozinho com a foto dos seus netos ao lado,
Que você nem pode conhecer, você não, a senhora,
Desculpa mãe, que falta fazem as suas broncas agora!
É impossível não pensar sempre antes de dormir,
No quanto é ruim querer carinho e não ter a quem pedir,
Sentir inveja de quem viaja com os pais,
Já virou comum, a essa altura do campeonato tanto faz,
Eu só queria de volta o elo de união,
De quem chamava as irmãs de mana e nunca abandonou a missão,
Guerreira que segura a minha mão e nunca me deixou cair,
Sei que nunca vai deixar, vamos ser um até o fim,
A noite me dá medo mas não é por causa do escuro,
É que mais um dia acaba e a senhora não voltou pra casa,
Se hoje eu choro não é só por saudade ou pelo "Aqui jaz",
É por que a senhora era o meu MUNDO e eu fui perceber tarde demais...


 (Dedicado à Leonor da Conceição Rodrigues (1962-2004))




quarta-feira, 25 de julho de 2012

Primeira impressão

Tanto Tempo longe de mim me deixou perdido:
Sei das horas, mas não sei do tempo...
Rebento, correntes quebradas,
Soltaram as minhas amarras mas, hoje, não sei quem sou.

Estou aqui no meio da multidão seguindo o fluxo,
E eles são minhas pernas tanto como sou-lhes os braços,
E pensamos juntos, antes de seguir em frente,
O caminho é tão longo que mal dá pra enxergar o horizonte...

Alma triste e corpo feliz. Cabeça confusa e carente.
Sou eu, nesse lugar chamado Infinito.
Sigo a estrada antes do pôr-do-Sol (que aqui é por volta das 22h...),
E tenho nas mão sempre que posso o meu sorriso.

Se Ela estivesse aqui, diria que fui ali ver o que se passa e já volto,
Vou correr atrás de subir as Montanhas que ninguém havia alcançado,
Mas assim que der eu volto pros braços de quem me viu crescer,
Com as novidades, medos e as frustrações juntos comigo.



quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porto



Ainda ontem estive ali sentado com ela,
Era tarde da noite e nós ríamos e chorávamos juntos.
O som daquela voz confusa entrava em meus tímpanos,
Ressoava-me os ossículos como uma Orquestra Sinfônica,
E eu só achava graça daquilo tudo,
Pensei que seria eterno, mas nada dura mais na memória,
Que um sorriso sincero de quem se gosta.

Calado, lanço pedras desse porto abandonado que me tornei,
Elas quicam, fazendo ondinhas...
Vejo a água a minha frente...Ela me traz tantos caminhos,
Tantas lembranças que só se o mar abrir,
Vou poder voltar pra casa. Que pena...
Pois não acredito em milagres.
Entretando, sei que enveredar-me pelo mundo afora,
E rogozijar-me entre pernas e vinhos,
Não trará a mesma felicidade que eu tinha antes,
Posto que eu era feliz de verdade e nem sabia...


Balões de pensamentos




 Hoje me olho no Espelho,
À sombra do que já fui um dia,
Penso: - O que já foi já era!
O tempo não volta atrás,
Nunca houve passado,
Só há passado no presente e no futuro,
Pois quando vivemos,
Tudo se transforma em um agora.

E eu vou lendo...Cada dia mais e mais,
Surpreso com minhas descobertas,
E me conhecendo através da minha filosofia,
Pensando mais do que falo,
E com certeza, falando menos do que escrevo.
Mas sei que não há um EU preferencial,
Pois não há um referencial preferencial,
Só há um alguém mutável,
Um ser humano em formação,
E muitas formas de pensar e viver a vida.

Ah...a vida! Da vida, sou mais um aprendiz,
Que traçou tardiamente a sua jornada,
Olhando de longe a estrada e se imaginando lá,
No caminho certo...
- Há tantos lírios a serem colhidos nos campos,
- Há tantas goiabeiras à beira da estrada,
- Há tantos passos antes da chegada...
Mas deve haver planejamento antes da partida.

Talvez, eu viva em segredo meus sonhos,
Num Universo que eu imagino sozinho,
Pois sou tão etéreo em meus pensamentos,
Que nem ligo pra sensatez do que penso.
Apenas estão lá meus devaneios,
Perdidos, Soltos, como crianças a brincar,
Permito-me desprender-me das amarras sociais,
Dos contratos que assinamos com o passar dos anos,
E simplesmente se vão meus balões de pensamentos,
Como os das histórias de quadrinhos, porém soltos,
Com as minhas ideias a colorirem o céu azul,
(Que hoje está tão poluído que está mais pra cinza ou marrom...).







quinta-feira, 14 de junho de 2012

Sombra e pensamento

Se tu olhares no fundo dos meus olhos,
Na imensidão do escuro lutulento,
Deverá, nas pálpebras e em meus ósculos,
Achar as respostas para o meu tormento.

Sei que tu te deleitas sob o azul que cobre a relva,
Prenda minha, não vedes que há um torpor no céu?
Um alguém que percorre o horizonte,
Sou eu, minha diva, sou eu...
Procuro seus olhos, mas não há mais nada,
Além de mim, o Sol se põe em silêncio...

Cada passo na direção do meu algoz,
Sangra-me as lembranças de ti, e eu sozinho...
Meu caminho é o orvalho que os elíseos borrifam,
E minhas lágrimas regam sua Rosa enquanto dormes.
Pois sou eu o seu maior zelador,
E tu me és somente sombra e pensamento...






sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entendas...

Passam as horas, meu peito soluça,
"Tanto Tempo, meu Deus, tanto Tempo"...
Deixei de viver as ternuras,
De um amor, e da dor vivo o desalento...

Sou um Anjo que pende do céu,
Numa estrela preso por um fio.
Sou um sonho e pesado martírio,
Me afastam dos teus lábios de mel.

Sou o afago que buscas na surdina,
Em teu leito, ó menina morena!
Sou teu canto, teu ato, tua cena,
Quando no palco és minha bailarina!

Teu andar que seduz-me inteiro,
Nesses olhos, reluzem'm arco-íris,
Passas por mim com um sorriso faceiro,
Transforma meus dias cinzento' em felizes.

Triste sou por ser tão feliz,
E não me dar conta, com a penumbra no peito,
Padeço nas páginas que servem de ensejo,
Revivo e refaço uma infância em croquis.

E essas dores - todas revividas,
Como na época da escola, eu menino,
Desde cedo já tão sozinho,
O Tempo passa e eu na mesma agonia...









quinta-feira, 7 de junho de 2012

Por quê?

Senhora,
Peço-lhe que enfie as mãos em meu peito,
E tire esse coração com defeito,
Pois só decepções tenho vivido...
Por que me deixas aqui a sofrer?
Não vês que escuros têm sido os meus dias?
Não vês que meus olhos perderam a alegria,
E meu Castelo há tempos se quebrou?

Por que trago uma solidão tão profunda,
Como fardo de uma vida incompleta?
O que fiz de tão errado na vida?
Minha alma já é tão perdida...
Meu corpo padece e eu sofro,
E tenho tentado tanto ser feliz,
Só quero saber: por quê?

A Fonte das tormentas

I

Não há solidão maior que a do peito.
A tristeza me golpeou tão profundo,
Que a solidão desse amor vagabundo,
Há de deitar-se ao meu lado no eterno leito.

Tu foste tão corrupta com meus sentimentos...
A ti entreguei a glória dos meus dias,
Mas tua sombra jogada em outros braços,
Fez minha paixão mais doentia...

É loucura...sou tão estúpido,
Tão rejeitado e tão mesquinho,
Sou um pobre diabo a vagar no mundo,
Sem os braços daquela a quem entreguei o meu destino...

Ai que dor...ai que vontade de chorar...
Quanta amargura o meu peito encerra,
Quantas decepções mais ainda me esperam?
Por quanto tempo mais isso vai durar?

Por que me quiseras tão vazio?...
Por que me fizeras um homem tão sozinho?
Por que me tiraste tudo, até a ilusão?
Por que não me fizeras sem coração?

Não quero mais ouvir tua voz nem em pensamento,
Não quero mais sonhar com teus alentos...
Nasci para sofrer e sigo o meu destino,
Desde sempre amando e sendo ferido...

Sou alma perdida nesse mundo dos homens,
Não venhas atirar flores em meu túmulo,
Nem tuas lágrimas servirão de adubo,
Pois nenhuma vida habita a tua face mentirosa.

E eu bobo que sou caí feito criança,
Forjei-me adolescente e fiz-me assim,
Acreditando nas pessoas e nas lembranças,
Pena que ainda acredito: nas lembranças ruins...

Quero minhas lágrimas resguardadas...
Quero nunca mais pisar em tua casa,
Quero tuas palavras longe, além,
Quero nunca mais amar ninguém.

Ninguém há de dizer que eu não fora correto,
De tanto mostrar-me ali sob teu teto,
De tanto dedicar meus dias a tua felicidade,
Ganhei o desprezo de quem desejei sem vaidade...

Quando vi, meus olhos se encheram d'água,
Não mais haverão dias alegres para mim,
Sangrando, meu coração se afunda em mágoas,
Nenhuma mulher verá meu amor nem meu fim!

E essa dor que desatina - a dor sem trégua,
Faz-me tão fraco, tão sem sentido.
Minha vida será lembrar do meu destino,
E meu futuro é morrer sem choro e nem vela.



II

Mais uma aurora fúnebre clareia a minha janela,
Mas, dessa vez, não quero vê-la completar-se,
Só quero a glória do leito gélido e as estrelas,
Pra acalmar as angústias de um peito amargurado.
Hoje sou lamento,uma Lira estridente desafinada.

Por quê fostes assim comigo, vida cruel e desalmada?
Não vês que sou apenas um Dionísio?
Todo esse amor que me deste para amar e sofrer,
Foi demasiado, amei e sofri um desperdício!
Fui, nesse mundo, escravo de quem não merecia nem o meu desprezo...

Se dessa flor lutulenta que cresce e aveluda o  meu porvir,
Eu tirasse por pétala um dia (ou noite) de sofrimento,
Não Restaria um ramalhete desse Carmim,
Para presentear o Barqueiro no meu momento,
A dor me acompanha como a mais fiel companheira o faria.

E é o sofrer (hoje) a minha paz divina,
Pois se sofro sei que estou vivo, posto que sempre sofri,
E meus risos amiudados e breves foram esquecidos,
Hoje, nem lembro o que é sorrir...
Despi-me de armaduras para amar mas, amor é guerra. Morri.

Com tantos espinhos, oh Deus, se eu soubesse,
Que plantar a semente das Rosas me fosse furar tão profundo,
Não teria plantado, mas sim cortado o Caule,
De qualquer Bela Rosa de qualquer jardim,
Pois Rosas são todas iguais:
vestem-se de veludo mas são essencialmente espinhos!

Quis-me ,Deus, fazer tão lastimável,
Que de sofrer refaço-me as forças e as ilusões,
E de chorar o passado, faria um rio de lágrimas,
Com gosto de mar e profundo como a minha dor.
Para os navegantes, me chamo Mar de Martírio.

Fui navegar ao horizonte e naufraguei,
Tentei nadar mas, perdi-me no Oceano,
E agora perdido em ilusão e desengano,
Só me resta seguir o luto que tomou o meu coração.
E tomou como o faria o amor que de mim anda esquecido...

Agora caminhando pelo vale das sombras,
Não almejo mas os deleites da carne humana,
E nem os olhos que ofuscam a lua cheia mais bonita,
Desejo sim a solidão que escolheu habitar em mim,
Posto que a Brasa que ardia em meu peito tornou-se cinza.

domingo, 3 de junho de 2012

Ironias

É loucura minha, amor...é loucura!
Sou paranoico demais com a minha cor,
Só há uma raça, a humana,
E o meu caráter sempre foi o que importou.

Quando ando sozinho pelas ruas,
Do bairro onde moro e sou parado,
Sei que o doutor policial,
Só está fazendo o seu trabalho.

Não sou vítima de preconceitos,
Afinal, isso nem existe no Brasil,
Todos somos iguais em direitos,
E eu que escolhi ser chamado de tiziu.

Sou cor de jambo, sim senhor!
Mesmo nem sabendo o por quê...
Essa frutinha, deve ser gostosa,
Mas só tem da branca, vermelha e da rosa...

Eu moro bem localizado,
Da laje de casa eu vejo o mar,
Só o cheiro de esgoto é que incomoda,
Mas com o tempo é fácil acostumar...

Não sei por que tanta passeata,
Em prol de negros, gays ou mulheres,
Somos minorias mesmo,
E no final, é só aparecer que eles querem!

Não tenho boa aparência mesmo:
Tenho lábios e nariz grandões,
Se eu pudesse faria uma cirurgia,
Pra ter lábios tipo os do Cauã Reymond....

É preciso muito trabalho para ter um futuro,
Eu sei porque na faculdade era comum,
Nas salas de aula com mais de setenta,
De negro mesmo era eu e mais um.

Ser pobre é bem mais fácil,
Ser negro e pobre é quase uma glória,
Já temos nosso lugar garantido,
Só usar o sistema de cotas...

Enfim, sou louco de pedra,
E por me sentir reprimido peço perdão,
Eu sei que não há preconceitos,
Se houvesse, mostrariam na televisão...
















quinta-feira, 31 de maio de 2012

As minhas verdades

Quando os fótons incidiram na minha retina,
E sua imagem se formou nitidamente pra mim,
Correu um filme na minha mente e eu perdi tudo,
Cada certeza e dúvida que eu tinha, tive que refazer.
Você floresceu na minha janela como as minhas amadas,
As estrelas que antes só observava, mas que agora eu conheço,
E como elas as suas mãos se prenderam na minha, como num laço,
De fraternal compromisso, de quem ama calado,
E todo o seu corpo transpirou de risos.

Ausente de mim, sinto a sua falta,
Sinto que vivi poucos momentos de real felicidade.
Esse de cara fechado não sou eu,
É só um alguém triste que passará pela minha vida, 
Mas que tem toda a razão de ser: a desilusão.
Prometi-me, antes de o meu mundo perder o sentido pela primeira vez,
Antes de me desfazer dos meus desejos e seguir minha missão,
Antes de tudo, jurei nunca mais sofrer por amor.
Sinto-me tão só neste mundo tão cheio,

Frustrado por ser Eu o vazio que me assola.
Perco-me num labirinto de um só corredor que é a vida,
Tão simples quanto um pôr do Sol à beira-mar...
Cato-me ante aos problemas que engrandeço,
E se isso é ser forte, então eu estou fazendo o meu melhor.
Não posso jurar que minhas lágrimas não mais cairão,
Mas dou a certeza de que meus caminhos serão de asfalto.

Fora eu um sonhador, num dia em que algo mudou em mim,
Sonhei tão alto que aonde cheguei, se quer é possível cair.
Não sei ao certo quem sou. Sou mutável, como meus versos
Debalde tento disfarçar meu zelo, mas sua lividez me derruba,
Então me atenho ao meu papel de viga apoiadora, que está ali,
Mas não é tão importante. Você pode viver sem mim e sabe.

Hoje, distante muito além, se vai a minha felicidade,
A tempestade passará, já a vi em tempos pretéritos,
Sem mentiras me convenço, de que se não está tão bom assim,
Pelo menos é um mal que eu escolhi e sei enfrentar,
Pois sei meus limites contigo e não posso ultrapassá-los.
Vou continuar aqui, à espreitar atento os seus movimentos,
Nas frechas da sua vida, cuidando pra que você não cai,
No mesmo buraco sem volta que eu cai.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Preto de Alma Branca

"Sou negro sou, sou negro livre.
Não há quilombos e nem perseguidas...
Só nasci pra viver a vida.
Essa luta é maneira,
Esse jogo envolvente é a capoeira"...


Valido essa canção em nome dos meus ancestrais,
Que foram trazidos pra cá há muito tempo atrás,
De Navio Negreiro, sem água e sem banheiro,
Com certeza os porcos tem mais higiene num chiqueiro.
Da selva africana pra Senzala, da Senzala pra favela,
Da favela pra uma cova rasa e aí já era!
A história é antiga mas a cena é atual,
Minha pele tem cor de luto por que a morte nos é banal,
Você anda pelas ruas com medo de ser assaltado,
Se um negro passa perto de tu no farol,tu trava a porta e sobe o vidro do carro,
Na TV nós vemos e ouvimos falarem de igualdade,
Esgoto a céu aberto e traçantes essa é a nossa realidade,
Na infância eu jogava bola com quem cresceu e virou traficante ,
Alguns foram presos e outros morreram sem direito a revanche,
Se o playboy sobe o morro pra comprar sua parada é normal,
E o moleque na esquina se perde cheirando cola (mata esse marginal!),
Fomento à violência urbana é alimentar o tráfico,
Cresce o número de covas sempre a passos largos,
Sem camisa e com uma arma na mão eu sou um neguinho normal,
Dentro da maior facul do pais sou um perigo nacional,
Feche os livros e ligue a TV que vai começar o jornal da Globo,
Mostrando os Gols da rodada enquanto uma mãe chora em algum lugar do morro...


Refrão

"Se preto de alma branca pra você,
É reflexo da dignidade,
Não nos ajuda só nos faz sofrer,
Nem resgata nossa identidade."


Não nasci na favela mas só canto por ela,
Choro preso na guela de quem já acendeu muita vela,
No perigo cautela, na incerteza, cancela,
Vivendo a um KV de tensão só pre ter uma vida singela,
Cotidiano, Contas atrasadas, Compromissos...
Assim mão solteira cria 7 filhos. EU já vi e vivi isso!
Não vi mudança alguma desde os tempos de 2pac,
Só no dia 20 de novembro que os negros tem algum destaque,
Pare um pouco pra pensar no que é guerra civil,
Veja quem mata e quem morre nas periferias do Brasil,
Às vezes não sei se sou negro ou se sou judeu,
Acho que Hitler deixou a farda da PM pros nazistas que sobreviveu,
Vejo os moleques da minha cor tomando coronhada numa dura,
Provavelmente apenas por ser negro e ter nascido
O holocausto da minha raça é desde os navios negreiros,
Parece que é o certo ter as favelas lotadas de negros,
Por onde eu passo vejo a contradição em cada lugar,
Igualdade entre as raças? Tá bom...se você prefere acreditar,
Helicóptero da PM cai e quem derruba é bandido,
Honesto mesmo é quem frauda o Bolsa Família por 100 conto, é branco e é rico, né?
Dona Princesa Isabel, negro não sabe o que é liberdade,
Só mudamos de Senhor, mas continuamos sem dignidade,
A maior parte de  nós ainda está nas ruas, nos morros ou atrás das grades...



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mudanças


(1)

Há silêncio nas praças,
No céu, aves caladas,
Não há grito nas feiras,
Nem louvor nas Igrejas.
Há um torpor nas esquinas,
Carros passam, sem o som das buzinas...
Só há um deserto de vácuo,
Dentro das salas, nos pátios.
Não ouço o som da minha voz,
Já deixei de ser feroz,
Não posso mais ser tão galante...
Nem recitar versos elegantes.
Eu tenho um mundo dentro do Universo,
E ele está se desfazendo...


(2) 

Hoje são poucos os heróis,
Os que escreviam, esqueceram quem é o algoz,
Que não mais usa capuz porém uma farda,
Ou que governa em meio à farsa.
Sou parte dessa massa oprimida,
O homem ou a mulher da vida,
Vida que é difícil, é batalha,
Sou eu quem move essa fábrica,
O acordar das flores na primavera,
A força que os vulcões encerram.


(3)

Os rebentos das ruas cresceram,
Mas continuam nas mesmas calçadas,
Enquanto passamos desviando o caminho,
Ziguezagueando entre os corpos estirados no chão,
De mãos erguidas na mendicância,
E nos dizemos mais evoluídos,
Ricos...Ninguém come papel e dígito...
Ninguém é melhor que ninguém.


(4) 

Deram-me conhecimento,
Mandaram-me para a escola,
E depois de adulto aprendi,
Que o conhecimento é uma arma.
E agora enxergo o que eles queriam,
Que eu abaixasse a cabeça,
Trabalhasse com toda a minha força,
Ganhasse dinheiro explorando meus iguais,
Assim, perderia a minha identidade,
Esqueceria que vim de onde se vem um homem:
Das vitórias e dificuldades.
Morreria sem viver o sonho que sonhei ainda criança,
O sonho de lutar, não pelo que é impossível,
Mas pela dignidade dos que ao meu lado estão,
No frio ou no calor, à noite ou de dia,
Não há diferenças a vencer,
Só há uma força contrária,
Chamada de egoísmo e orgulho,
Que nos faz olhar cada vez mais para dentro de nós,
E esquecer que podemos mudar a realidade,
Que nada nos calará quando a garganta vibrar,
Ao tremor das cordas vocais que se exitam,
Ao conclamar os dispostos a realizar a mudança,
Que não nascerá de um líder,
Mas sim de uma necessidade.












Eu tenho a impressão..


Eu tenho a impressão de que há alguma coisa errada.
Os professores entram em greve por salários melhores:
Os alunos reclamam que a greve atrasa as aulas,
E os REItores se esquivam e promovem boicotes.

Eu tenho a impressão de que o mundo mudou.
Crianças não sabem mais o que é uma pipa ou pião
As bolas de gude foram aposentadas pelo Computador,
E ouvir historinhas, só na televisão...

Eu tenho a impressão de que o tempo parou:
Policia sobe o morro como se fosse a senzala,
O voto é vendido a um Coronel-ditador,
Dentro das metrópoles, em troca de esmola.

Eu tenho a impressão de que o futuro é agora,
Com aquecimento ou não, a Terra implora.
A fome não é só de pão, mas também de dignidade,
Quem explorou outrora não assume a responsabilidade...

Eu tenho a impressão de que podemos fazer melhor,
Ainda dá tempo de olhar para o lado e ver que há alguém,
Que sofre e chora como nós ou pior,
Mas que só precisa de uma oportunidade para ir além.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Loucuras (ou devaneio)

Sou louco. Ou algo que vem depois.
Minha sanidade é um espaço curvo,
É o tecido que permeia o tempo e vai além.
O caos corre pelas minhas veias,
É como a vida se apresenta pra mim.
São eras que duram segundos. Minha cabecinha...
Esse êxtase que arrebata a minha vontade,
Doma meus sentidos...eu chamo isso de vida.
E vida não tem nada a ver com ficar sentado vendo o tempo correr...

Sou louco. Ou algo pior que isso.
Eu tenho a paciência de quem está mal nutrido,
Com fome esperando a horta crescer...
Estou esperando a minha vez mas ela perdeu-se,
Num labirinto chamado incógnita...
As manhãs são tão frias que congelam o humor,
E minha acidez fica extremamente alta.
Sou humano...posso errar, não é?
Posso perder-me, e me achar nos braços da vênus,
Que ornamentada me espera, em algum lugar do tempo....

domingo, 13 de maio de 2012

Eterna Rosa

Senhora; Bela e Triste senhora,
Luz dos meus caminhos; pôr-do-Sol e aurora.

É dos teus olhos apenas um pálido reflexo: as estrelas.
Agora, junto delas, deita-te sobre um leito de pétalas: Vermelhas.

Vivo no escuro, no palor desses meus dias,
Meu leito é fúnebre, como o céu que tu iluminas.

No frescor dos hálitos noturnos te dedico,
Os versos que em vida tu não há de ter ouvido.

Deita-me em teu colo, uma vez mais,
Que saudades de ti, mas hoje tu estás em paz!

A minha mãe, Leonor .

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Solidão

Sei que  a solidão navega meu corpo,
No palor das almas desgraçadas,
E minhas pernas perderam-se do escopo,
Entre a aurora e a fria madrugada.
E hoje, quem sabe de mim,
É a lira estridente  que criva a estrada,
Aguarda-me, meu querubim,
Que cá da vida não tenho mais nada.



Como pode tudo ter mudado?

Como pode tudo ter mudado,
Sem nunca ter estado como era antes?

Sinto um vazio preso na garganta,
Sinto as palavras inúteis para descreverem como me sinto...

Como pode tudo ter mudado,
Sem nunca ter estado como era antes?

Como se faz pra deixar-te ir embora,
Ou deixar-me ir...sem temer ficar sem ti...?
És minha, só não sabes...
És a única Senhora do meu Castelo,
E eu sou triste, por não te dares conta.

O mar deixa as marcas das pegadas na areia,
Mas o tempo passa, como passam as marcas das pegadas...
Em meu coração, tu és eterna e plena,
Embalsamada, como uma manhã de primavera,
Que o frio ebrioso alimenta e revigora,
Trazendo-me a sorte e as venturas da aurora,
Enquanto tu repousas no teu leito sonolenta...

Entre as escumas e as vicissitudes,
Caminho só, perdido em pensamentos,
Solto, feito teus cabelos crespos amalgamados.

Quanto vale o meu sorriso pra ti?
Há muito anseio o seu colo quente,
E em teus seios descansar tranquilo.
Só quero a paz do teu olhar florido,
Que roubou o brilho das estrelas mais bonitas,
E coloriu meu jardim com vida!








segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma imagem fixa

Além, muito além das rochas flutuantes,
Lá detrás dos barcos que vagueiam,
Andam meus sonhos.
Salgados como essa água, exuberante,
Paisagem por onde meus olhos passeiam,
E fico assim, risonho.

Lembranças, eu sei, são só lembranças...
E as expectativas do porvir são tão bonitas!,
Vou sonhando acordado...
Tenho as palavras encalacradas na garganta,
E tanta coisa pra transformar em poesia,
Que só posso estar desvairado!




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Nos braços do mar


Ecoa ao longe nas folhas silvestres,
De árvores cativas; gritos de horrores,
Floresta pálida, rostos inertes,
Expressões funestas de sonhos e dores.
Lá dentro estará, a saudade em silêncio,
Quando fora, a alvorada chegar lentamente.

Dentro de cada pilar do Castelo de areia,
Cai um por um os senhores sem face,
Desgastado corpo, varrido em poeira,
Descansarão todos nos braços da morte!
Ontem fui eu, hoje é você,
Amanhã deixo à sorte de Deus decidir.

Mareja nos braços da branca senhora,
As pétalas brancas se desfazem nas vagas,
A escuma dos ósculos contemplada em saliva,
De sabores sorvidos, por servos e adagas.
Fecham-se as portas, deitam-se todos,
Ao horizonte sozinho, seguem o barco e o navegante.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Desterro

Hordas de pensamentos hostis assolam-me a alma,
Mas ainda, entre minha quietude e sofrimento,
Carrego as cicatrizes, ornamentos das minhas chagas,
Sob o foco de uma frígida brisa de olhar atento. 

Ela me vem como um punhal. Castiga e devora,
Sou presa trespassada pela lâmina opulenta,
Empunhada pelas mãos de uma senhora,
Que ao passar por mim deixa-me a alma macilenta.

Torno a vê-la sob o frio torpe das manhãs,
E minhas pálpebras sufocam e desatinam,
E sou eu mesmo Newton e as maçãs,
Frente às ideias que ela inspira.

Desterrado da terra dos meus ancestrais,
Trago no peito um aperto que dói sem pudor,
Mas nem a perda do meu lar dói mais,
Que suportar a vida, dia após dia, sem ter dela o  amor.










sexta-feira, 27 de abril de 2012

Doce amada

Se os anjos no céu de arpas se munem,
Ungidos do orvalho de pétalas divinas,
Entre as nuvens, e a nós dois unem,
Nos meus sonhos que passeiam lá em cima,
Não temas nada, estarei aqui,
Teu tempo é hoje, doce amada,
Durmas tranquila, podes ir.

Se os mesmos divinos seres tolos, 
Cantarem a ti em sinfonia,
Afastando os escárnio e os corvos,
Que de ti pretendem roubar os dias,
Estarás segura, já passou,
O ar orvalhado da floresta,
Colore o verde multicor.

Se a hora matinal descansa tenra,
E os facões do tempo a molestarem,
E tu, minha dama de alma imensa,
Viver a noite em tua face,
Sê fiel a tua índole,
Não te vás enganar-te,
Morro bom tem rocha firme!

Se minha voz rouca e fatigada,
Não cantar tua ode, queira perdoar,
Esse pobre poeta, doce amada,
Que a ti dedica as canções sob o luar,
Corre fria a vaga ardente,
Que beijou seu corpo junto ao mar,
Corre em minhas veias o meu sangue quente!

Se com mil canções tê-la não pude,
Persigo-te, sereia, ilusão primeira minha,
Corda solta, calo o alaúde,
E perco meu rumo, em ti,estrelinha!
Não há mais ninguém, o que queres?
Não vês que sou o que procuras?
Tu és singular entre as mulheres!


terça-feira, 24 de abril de 2012

Dama do Luto

Permita-me uma vez mais ver o Sol, Senhora,
Que tristes tem sido os meus dias sozinho,
Não mais hoje a vida em meu peito vigora,e 
Nem mais em minha janela cantam os passarinhos:
Só tenho a mim, e minha tristeza,
Minha solidão e a poesia!

Deixa-me ver o mar onde as vagas se deitam,
E nas águas calmas do Atlântico Sul repousar,
Enquanto os ósculos da minha virgem sereia,
Molham meus lábios à luz do Luar:
O mar é tão grande, ó minha princesa,
Só quero nas caldas do mar me banhar!

Senhora que veste um manto sombrio,
Não leve agora esse ébrio trovador,
Só gozei na vida das paixões sem brio,
Ainda espero a minha vez no amor:
Funestos dias, eu tenho vivido.
Só trago comigo o meu fardo: a dor! 








quarta-feira, 18 de abril de 2012

Inverno

Não senti chegar o inverno,
Quando vi,lá ele estava,
Por detrás do monte calvo,
Donde pálido o Sol brotava,
Esperei o frio taciturno,
Embebedar-me em goles rasos,
Quando sai, cá fora ao rumo,
Meus pés tremiam a cada passo,
Vaguei sem rumo, com a sobrepele,
Que esquentou-me até a alma,
Foi um golpe, bem de leve...
O vento, tirou-me a calma,
Cantarolei uma trova triste,
Pra tristeza me aquecer,
Pois sem sorriso só existe,
Uma razão para viver,
E onde ela está, eu procuro...
Vago a esmo sozinho,
Há tempos vou, contudo,
Não espero achar o caminho.
Apenas vou...ai que frio!,
Ardem os ais da minha vida,
Ai que Deus iluminando,
Minha estrada hoje guia,
Sem a fogueira que me aquece,
Sem as chagas que me adoecem,
Como ando destampado,
Com meus peitos ao ar jogado,
O frio vem e me congela,
Sinto pouco, ai que frio,
O inverno é uma cama enorme,
Onde se dorme sozinho...





quarta-feira, 4 de abril de 2012

Estrela

É tão tênue o brilho da mais linda estrela,
Parece do céu querer despencar,
Brilha como o orvalho sob a lua cheia,
que as flores exalam no desabrochar.

Sutil encanto ela carrega em seus braços,
E pernas, e corpo e olhos, cabelos...
Voa como um anjo, tão leve e tão alto,
Longe do alcance dos meus sonhos e zelo.

Ela é tão minha como o céu é dos pecadores,
E mais pecador me sinto por não tê-la comigo,
Mas se a tristeza roubar do seu rosto as cores,
Desfaço-me em desvelo para devolvê-la o sorriso.



segunda-feira, 26 de março de 2012

A espera

Passam-se as moças, o tempo e as vagas,
Passam cavalos, cavaleiros...e nada,
Passaram burgueses, condes, duquesas,
Passaram-se anos e a vida na mesma,
Passa o agora, o ontem passou,
Passará o amanhã, ainda nada mudou,
Passam passarinhos, pavões e pagãos,
Passam caçadores, a caça e o cão,
Passa a senhora, e eu à espera,
Passa a história, os anos e eras,
Passaram todos por essa esquina,
Pássaros tolos gorjeiam acima...,
Passou o frio e ela não chegou,
Passou o inverno e veio o calor,
Passaram Romanos, Incas e Maias,
Passaram Deuses, Livros e cartas,
Passou Assis, Gonçalves e Azevedo,
Passando por mim, a idade causa medo,
Passam as lembranças agitando a cabeça,
Passam meus sonhos e pela minha princesa,
Passo as horas em frente à porta à espera,
Quando ela passa eu penso: Ai está ela!




Inabalável

Inabalável é ouvir opiniões controversas e refletir,
É ter o controle de todas as situações,
É saber que não há verdade a priori,
Mesmo que seu ponto de vista pareça bem razoável...
É ser soberano nas pequenas coisas,
Em plena quietude ou pressão,
É reconhecer um erro e corrigí-lo,
Mesmo que custe o seu orgulho ou supremacia,
É ser ao invés de ter, ou parecer...
    É enfrentar os desafios sem se importar com o tamanho deles,
    É nivelar-se ao mais humilde,
    É duelar de igual para igual com os mais fortes,
    É reconhecer-se como um ser capaz,
    Mesmo que o corpo não obedeça aos pensamentos...
    É utilizar a razão e,antes de tudo,
    Não perder o rumo e nem os sonhos.

sábado, 24 de março de 2012

Deutschland

Nos campos e bosques que cortam o caminho,
Que seguem sozinhos rumo à imensidão,
As cores são tantas...voam os passarinhos,
Cobrindo os ninhos com pólen e grãos.

Caídas as folhas, no chão de barro, gramado,
Desvelam o silêncio das árvores com o vento,
Que passa fluido, junto com o gado,
Que alegre se vai, passado o inverno.

Do topo aos pés das montanhas se esgueiram,
Riachos e córregos, de pedra em pedra,
Cantando e grunhindo, abrindo a selva,
Enquanto em seu leito os alces passeiam.

São sonhos, memórias que surgem com a  paisagem,
E a vontade de retornar pra onde nunca se esteve,
Se hoje o ar daquela terra só induz a verdade,
É por lá que descanso em sonhos, deitado no verde.

Sob as copas das frondosas senhoras, os galhos,
Sob os galhos, a trilha e a história,
Quem passa por lá respira-a e sente seu afago,
Como quem descansa na rede pra matar as horas.

Já não haverá frutos pra pesar nas pontas,
E coberto com orgânico espesso está o chão,
Aguardo o embarque pro meu faz-de-contas,
Pra rever a Primavera de outra encarnação...

Na terra que me desperta os melhores desejos,
E tem na sua história tanto sangue nas alcovas,
Vou procurar lá distante, os meus lírios e beijos,
Pra acalmar finalmente o meu coração.






quarta-feira, 21 de março de 2012

Dizei

Dizei, por quê as palavras são,
Antes da escrita, um mundo,
Orbitando a razão.

Quem cala, perde pra sempre,
O tempo que nunca passa,
E nem sai de dentro da gente.

O fazer é arriscar-se,
Desbravar o desconhecido,
Pois se fácil fosse jogar-se,
Baixo seria o abismo.

Hesitar é interrogação,
Quem hesita nunca sabe,
O resultado da ação.

PASSARELA*


Grande Passarela iluminada
Diante de mim, um espelho
Que me mostrava a profundidade
Como se me mostrasse o futuro.

No começo era um, uma, outro e outra.
Depois, uma confusão de pessoas
Uma sobreposição de imagens, figuras e sombras.

Pessoas que passaram uníssonas
Outras em filas
Pessoas que entravam na passarela e ficavam
Outras que construíam linhas e diagonais

Eram diferentes corpos
Era um diferente lugar a cada momento.

O espelho? Uma janela
Que mostrava o passar do tempo
E suas transformações

No começo: silêncio, murmúrios
No meio: barulho
No fim: qual fim? Existe um fim?

E eu lá sentada, me vendo também.
Meus gestos, meus apoios, minhas vontades.
Os gestos dos outros, os estímulos.
E eu, não mudava? Mudava.

Mudava e via um pilar
Mudava e via mais um pilar
Mudava e mais outro pilar

Uma pessoa se olhou no espelho
Duas pessoas me olharam
Uma pessoa me cumprimentou
Três passaram sem nem me notar
Uma se aproximou
Quatro se afastaram

E assim me aproximei do espelho
Vi meu banco, agora vazio
E então me vi partindo...


Luísa Righeto**
16/03/2012


*Poesia de uma poetisa maravilhosa que conheci o trabalho e achei muito espontâneo. Apesar da nossa amizade, acho que a homenagem é válida. Parabéns, Luisa, adoro o jeito que você escreve! Lindas palavras...


** ESSA POESIA É INSPIRAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA QUE TIVE EM UMA AULA DE DANÇA DA FACULDADE EM QUE O TEMA ERA "HABITAÇÃO". (Luisa Righeto)

terça-feira, 20 de março de 2012

Obrigado, mulher!

Essa é pra você que luta, batalha, trabalha,
Sustenta uma casa inteira sozinha,
Que cria seus filhos, educa na marra,
E sente a barra que é o mundo machista.
Que tem dupla jornada e ainda cozinha,
Arruma a casa enquanto faxina,
Que vê um amigo com melhor salário,
E todo o trabalho fica nas suas mãos,
Mas segue em frente com a cabeça erguida,
Que faz o futuro em cada ação,
Que maquia o rosto enquanto faz as unhas,
E chora na frente da televisão,
Que assiste novela e briga com o vilão,
Que carregou a gente por nove meses,
Que se emocionou nos nossos primeiros passos,
Foi nossos pés, e foi nossas mãos,
É leoa, é camaleoa pra gente,
Guerreira valente, uma sábia xamã,
É o carvão que nos faz sempre ir pra frente,
É nossa mãe, nossa é filha, esposa ou irmã,
Que é antes de tudo um ser humano,
Maior que nós mesmos, nosso porto seguro,
Sem a qual seríamos vazios: Obrigado, mulher!







Casarão

Quando minha mãe chamava: menino venha almoçar!,
Já eram quase quatro horas da tarde, a tarde já ia acabar.
Meus pés sempre descalços, com um carrinho nas mãos,
Abraçava-o bem forte, e sorrindo, fazia a oração.
Os tempos eram tão felizes, e meus irmãos à mesa,
Vendo televisão, Eugenio, Pablo, Leon e Aretha,
Minha avó passeava pela sala, e minha tia descansava no quarto,
Nem sempre tínhamos fartura, mas sempre estávamos juntos,
"Dia de muito, véspera de nada", dizia Dona Leonorzinha,
Meus olhos se lembram dela, andando pela cozinha,
Não tínhamos casa, era a casa da vovó,
Mas tínhamos uns aos outros e bastava, era só,
As visitas, amigos da mamãe, sorrindo, conversando alto,
Pareciam uma multidão, como se a casa estivesse lotada,
O tempo todo convivi com isso, e hoje só tenho saudades,
Dos aniversários tão contentes, da minha mocidade,
Agora longe olhando pra trás, eu vejo o que mudou,
Sinto falta da praia, do cheirinho da casa e das rosas do jardim,
Do coqueiro alto, de cocos amarelos, do futebol na rua,
O tempo passa tão depressa...como uma torrente de chuva,
Num instante éramos quatro, depois, cinco, seis, sete,
Depois, por infortúnio, passamos pra seis de novo,
E assim cresci sem perceber, mudando de escola, de casa, de endereço,
Mudando de aparência, tornando-me adulto,
Mamãe se foi, se foi meu pai, que saudades! Não lembro mais,
Se não fosse pelas fotos, a mende fraca não recordaria,
O rosto daquela senhora, que me carregou no colo um dia,
E aquele homem que me ensinou a chutar, antes de eu saber andar,
Raízes me ensinou a valorizar e a minha origem nunca esquecer,
Minha avó não anda mais pela casa, descansa em paz, finalmente,
Minha tia continua lá ranzinza, sempre cuidando da gente,
E em pé está o casarão, que me viu crescer,
Pra onde quero voltar correndo, a cada anoitecer...





sexta-feira, 16 de março de 2012

Ninguém vai saber

Ninguém vai saber, quando ao cair da noite,
Eu me fechar em mim procurando você,
Enquanto meu pranto lava meu rosto negro,
E minhas mãos carentes, com todo zelo,
Guardarem o mais quente e forte abraço,
Moldado sob sua escápula nua...

Ninguém vai saber, quando a noite estiver linda,
E meus olhos não encontrarem o seu ao redor,
O quanto de mim esvairá pela esquina,
Só as estrelas testemunharão...
Enquanto pairam no azul do céu, iluminando meus sonhos...

Ninguém vai saber, quando tocar a nossa música,
Estarei contigo, seja quem for minha dama,
E nas noites de frio, sozinho na cama,
Vou ensaiar um "xamego" novo,
Pra esquentar todo o nosso corpo,
Quando de novo com você eu dançar.


Dedicado à "Morena do meu Xote"...






Rosas Vermelhas

                  É difícil ser tudo aquilo que se detesta. Tenho tempo pra mudar e me prendo aos pormenores agonizantes, que prendem a minh'alma nas quinquilharias espalhadas pelo chão. A dor é inevitável, eu sei...mas o sofrimento é opcional. Tudo bem. Pra se ver de longe é bela a paisagem: o beija-flor ao vento; mas só ele sabe a força que faz pra se manter no mesmo lugar, contra a natureza que o desacelera. Esses são tempos confusos e me pergunto se quero estar aqui, com tudo que tenho e que conquistei...são tantas as coisas e responsabilidades...
                  Fiz promessas a Deus e ao mundo. Gastei mais do que pude e me prendi a mais gente do que planejei. Conheci princesas, duquesas, bailarinas e fadas. Todas, algumas vezes, no mesmo corpo, da mesma mulher. Fui galante, um Bardo medieval, com minhas canções e poemas, saracoteando entre pernas, belos vestidos e um sonho; Fui um cancioneiro, com melodias tão envolvente que até pensei que a letra fosse de verdade.Enganei...e enganei a mim mesmo por vezes.  
                 Estive naquela esquina esperando a vida passar. Ela passou de carro e me trouxe, através de caminhos seguros que eu mesmo moldei com o tempo e muito esforço. Fui perseverante a vida inteira e agora simplesmente não sei mais o que quero e se quero algo, ainda. 
                 Elas, foram e vieram, como as brumas das manhãs, cinzentas, nostálgicas mas verdadeiras e sempre presentes. Tive sorte. Mas não posso com tanto que tenho pra oferecer e tão pouco que posso dar. Não há zeros na função g(t,d) = tempo + distância. Não consigo esperar, quero aqui e agora. Sem esperar com maturidade que tudo se desenrole com o tempo. Meu tempo é hoje, não amanhã. Eu vivo o momento, como um mosquito que sabe que só tem 86400 segundos pra fazer algo relevante. Eu sou intenso. Sou o presente e tenho medo de tudo que não posso tocar. 
                 Quero que ela viva "cada vão momento" com minhas lembranças. Quero que Ela viva o hoje comigo sem empecilhos, num caminho de rosas que faço metro por metro, a cada dia, em cada pensamento que tenho. Mas a vida é tão cruel que me deu ela pra cuidar, e Ela pra sonhar. Sou muito paciente, mas já estou explodindo. Não sei viver sozinho e sou muito volúvel. Sinto-me como um litro d'água a mercê do que me contenha. Só quero que Ela me permita tomar a forma daquele corpo lindo, que eu adoro.
                   Enquanto conquisto o mundo com minhas mãos, de dedos médios e magros, sinto o vento mudar e parece que vai ter um temporal na minha vida. Outrossim, por hora, continuo o mesmo chato de sempre, ouvindo 2pac, Emicida, Alceu, Djavan....enquanto sonho com minhas Vênus transfiguradas por mim em Rosas, Minhas, suas, lindas, ou apenas Rosas Vermelhas...