sexta-feira, 27 de abril de 2012

Doce amada

Se os anjos no céu de arpas se munem,
Ungidos do orvalho de pétalas divinas,
Entre as nuvens, e a nós dois unem,
Nos meus sonhos que passeiam lá em cima,
Não temas nada, estarei aqui,
Teu tempo é hoje, doce amada,
Durmas tranquila, podes ir.

Se os mesmos divinos seres tolos, 
Cantarem a ti em sinfonia,
Afastando os escárnio e os corvos,
Que de ti pretendem roubar os dias,
Estarás segura, já passou,
O ar orvalhado da floresta,
Colore o verde multicor.

Se a hora matinal descansa tenra,
E os facões do tempo a molestarem,
E tu, minha dama de alma imensa,
Viver a noite em tua face,
Sê fiel a tua índole,
Não te vás enganar-te,
Morro bom tem rocha firme!

Se minha voz rouca e fatigada,
Não cantar tua ode, queira perdoar,
Esse pobre poeta, doce amada,
Que a ti dedica as canções sob o luar,
Corre fria a vaga ardente,
Que beijou seu corpo junto ao mar,
Corre em minhas veias o meu sangue quente!

Se com mil canções tê-la não pude,
Persigo-te, sereia, ilusão primeira minha,
Corda solta, calo o alaúde,
E perco meu rumo, em ti,estrelinha!
Não há mais ninguém, o que queres?
Não vês que sou o que procuras?
Tu és singular entre as mulheres!


terça-feira, 24 de abril de 2012

Dama do Luto

Permita-me uma vez mais ver o Sol, Senhora,
Que tristes tem sido os meus dias sozinho,
Não mais hoje a vida em meu peito vigora,e 
Nem mais em minha janela cantam os passarinhos:
Só tenho a mim, e minha tristeza,
Minha solidão e a poesia!

Deixa-me ver o mar onde as vagas se deitam,
E nas águas calmas do Atlântico Sul repousar,
Enquanto os ósculos da minha virgem sereia,
Molham meus lábios à luz do Luar:
O mar é tão grande, ó minha princesa,
Só quero nas caldas do mar me banhar!

Senhora que veste um manto sombrio,
Não leve agora esse ébrio trovador,
Só gozei na vida das paixões sem brio,
Ainda espero a minha vez no amor:
Funestos dias, eu tenho vivido.
Só trago comigo o meu fardo: a dor! 








quarta-feira, 18 de abril de 2012

Inverno

Não senti chegar o inverno,
Quando vi,lá ele estava,
Por detrás do monte calvo,
Donde pálido o Sol brotava,
Esperei o frio taciturno,
Embebedar-me em goles rasos,
Quando sai, cá fora ao rumo,
Meus pés tremiam a cada passo,
Vaguei sem rumo, com a sobrepele,
Que esquentou-me até a alma,
Foi um golpe, bem de leve...
O vento, tirou-me a calma,
Cantarolei uma trova triste,
Pra tristeza me aquecer,
Pois sem sorriso só existe,
Uma razão para viver,
E onde ela está, eu procuro...
Vago a esmo sozinho,
Há tempos vou, contudo,
Não espero achar o caminho.
Apenas vou...ai que frio!,
Ardem os ais da minha vida,
Ai que Deus iluminando,
Minha estrada hoje guia,
Sem a fogueira que me aquece,
Sem as chagas que me adoecem,
Como ando destampado,
Com meus peitos ao ar jogado,
O frio vem e me congela,
Sinto pouco, ai que frio,
O inverno é uma cama enorme,
Onde se dorme sozinho...





quarta-feira, 4 de abril de 2012

Estrela

É tão tênue o brilho da mais linda estrela,
Parece do céu querer despencar,
Brilha como o orvalho sob a lua cheia,
que as flores exalam no desabrochar.

Sutil encanto ela carrega em seus braços,
E pernas, e corpo e olhos, cabelos...
Voa como um anjo, tão leve e tão alto,
Longe do alcance dos meus sonhos e zelo.

Ela é tão minha como o céu é dos pecadores,
E mais pecador me sinto por não tê-la comigo,
Mas se a tristeza roubar do seu rosto as cores,
Desfaço-me em desvelo para devolvê-la o sorriso.