segunda-feira, 30 de maio de 2016

Amargos são meus olhos

Amargos são meus olhos incertos
Inverossímeis.
Sofrer sem ter dor
Escolher os espinhos das rosas
E as pedras dos caminhos.
Sou leviano, quase um ser humano
Contraditório, desses
Que batem a porta quando se zangam.

Aquém de mim, sou Sol se pondo
Nos meandros da noite, entre as estrelas...
Apago e acendo e sumo e volto
E ressurjo como quem nunca foi
E vou como quem nunca partira
Mas eu também sou feito de água
E vez por outra transbordo
Como se a maré cheia tivesse,
Finalmente, me alcançado

e acho que você é a lua cheia
Traz e leva os peixes
Aconselha os ventos e empurra as marés...
Logo, logo tudo passa
Logo, logo será verão.


terça-feira, 24 de maio de 2016

Esperanças não mortas

Crepitando como lenha no fogo
Os galhos das árvores agonizam de frio
É inverno na terra onde moro.
Abandonado pelo calor, olho da janela de casa:
Rostos cobertos, corações desertos, desamores.

Os olhos da carne são insensíveis
Mas podem ainda ver o que nos é tangível.
Os corpos a tremelicarem se apressam
Correm para a condução,
Todo frio nos faz esquecer um pouco
A doçura da vida, as fagulhas que queimam os gravetos
Nossas esperanças não mortas hibernam
Esperam o calor
Renascem em outra estação.


terça-feira, 17 de maio de 2016

O quê eu te digo

O quê eu te digo
São palavras que não saem da boca
São meus olhos pretos
Meus cílios longos
Que a perseguem sem pudor
No meu olhar libidinoso
Vendo-te passar por mim
Como um suspiro
Despudorado de belo
Que amo calado
Como um réu não-confesso.

Amo-te porquê nego-te.
Invento em mim teus sorrisos
Teu perfume... Reinvento
Cada segundo de sorrisos largos
E cada cena de amor não vivido...

O rio corre de nós: a vida!
Veja quem voa à noite:
São tuas asas que vagueiam
Por entre as árvores, por mim...
E o medo é branco, a pele nua
A noite trás os ósculos
O dia, o tom da imperfeição
Remorso de felicidade
Quando o normal me é a tristeza.









Inexpressivo

Salvem-me de mim,
Meu corpo pede.
Transcende a alma
Aos gritos: pranto.
O inconsciente implora
O consciente devora
Toda forma de expressão.

Terremoto em mim,
Enfim, tudo chacoalha.
Caíram as vigas da moral
No chão, vejo meus cacos
E a inerte massa orgânica
Vendo-se consumir
Se quer objeta.

Abjeto. Objeto. Inexpressivo.

Augúrio! Bandeiras erguidas
Pedras nos olhos
Mar revolto sob mim.




Ainda me queres?

Ainda me queres?
Não me dás ouvido
E o não me ocorre…
O frio percorre
Da minha garganta
Ao meu ventre.

A porta estou aberto:
Entre(me)!
Invada minha nascente
Devolva-me à superfície
Do seu corpo
Ou às profundezas
Do seu seio farto.

Já que o tempo é tardio
Sinto-me velho, agora
Amando o nada de olhos
Fundos e doces
Pálpebras luzentes
Palavras virentes
Naturalmente carinhosas
Saindo de tua boca.

Delicio-me com o vazio
Tuas respostas inexistem
Mas no silêncio
No profundo do meu peito
Sinto-te, sinto que me olhas
E ainda me queres
E me ouves calada.

domingo, 15 de maio de 2016

O meu corpo

O meu corpo é um grande vazio,
Um abismo perpétuo margeando a alma.
Faz-se natureza bela para os descuidados
E cai feito cachoeira de ralo de pia.

O meu corpo é a dor inerte
Estacionada sob meu esterno
É a vontade de gritar a rouquidão
Que tomou minha garganta com silêncio.

Refrigero-me em meus quanta de mar
Aprisionado a minhas convicções
Sou meu Fausto e sou meu Werther
Sou a euforia que me toma na angústia
E na ansiedade desses dias cinzentos.

O meu corpo não é nada, nem verbo,
Nem tinta, nem escultura e nem melodia
É nada; Feito a felicidade dos desgraçados
O meu corpo é a ausência d'um amor fugaz.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ser poema

É poesia presa, Viviane.
E sufoca a alma;
É uma ansiedade latente
Como um eterno querer
Volver a casa materna.

Meu Câncer, tuberosidades
Excrescências letais
Cada pensamento noturno
Cada angústia Laringínea
Sufocando minha liberdade
Tirando-me o ar...

Tudo que eu tenho é poema.
Tudo que eu sou é um querer.
Tudo que anseio é libertar-me
Dos grilhões literários que me meto
Ao ler, ao pensar,ao almejar
E nunca ser hábil em
Transcrever meus pensamentos...

Loucura, como o amor por Anjos,
Um crime inafiançável
Suspirar quando a Lua chega
Pois à janela do quarto mora o céu,
Esse outro ser místico,
Pedaço de mim, onde as aves,
Presas às asas, voam
Como se bater asas fosse poesia
E suas coreografias,
Cantos visuais contra a monotonia,
Tendo a lua como nobre expectadora
Fosse a escrita mais natural sublime.

Não quero ser ave, quero ser poema!
Poesia é cativa da alma
Revoltada, mata sufocando seu algoz
E é sem si o mal do poeta...
Poema é a forma livre do espírito
A felicidade transcrita
E eu prefiro as letras no papel
Ao sangue em minhas veias!