segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Canção de um enganador

Anda, sigamos – eis meu mandamento,
E o asserto antes a mim do que a vós.
Sigamos pois nessas ruas revoltas
E nessa vida onde o fim chega a todos.
Seríamos diferentes de alguém lá fora?
Nossas casas são templos em ruínas
Estamos escorados em paredes sem emboço
Fitando móveis antigos dos nossos antepassados
E, ainda assim, desejando vida nova
Sigamos…

(Lá fora um rádio velho toca uma canção poética
Que diz para olharmos o passado com carinho.)
É a história da humanidade que escrevemos...
Um capítulo calvo e já grisalho
Que, abatido pelo tempo, acumula sobre si
Teias de aranhas e pó da rua.
Os amores são danos à essência do ser
E amar tão intensamente e tão sincero
Fez-me ser novo, fez-me enaltecer
Os verdadeiros eu’s que se me brotam
- Como se eu fosse uma fonte enquanto amo -
Tão reais e tão igualmente possíveis
Que não os distingui nem os separei
Cozinhei todos no mesmo caldo e os tomei
Para cobrir o estrago de quem fui quando me perdi.
Estive de mim ausente, caminhando por estradas de barro
E em ruas que davam em lugares tenebrosos
Enfim, tive medo dos meus passos,
Mas não retrocedi um centímetro sequer
(À diante há uma cerca e um boi bravo
Dê olá ao animal e ouça o seu rugido
Há mais sinceridade na violência do que na paz.)
Nós somos ferozes, animais indomáveis
E ter um peito que nos diga o contrário é pura audácia
É a cabeça que nos controla as emoções
Raciocina as perdas e ganhos, balanceia a estupidez
Mas logo logo será dezembro de novo
E as cores enfeitarão as ruas, as luzes tomarão conta
Das frentes dos edifícios, das árvores e das casas
Logo será fevereiro, com suas alegorias e cantos animados
Pois sempre fora assim e sempre será
Nada muda, nem os amores, nem os amantes, nem as decepções
O mundo continua girando exatamente igual.
(Lá fora um rádio velho toca uma canção poética
Que diz para olharmos o passado com carinho.)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Agonia...Angústia

Convoluções meus pensamentos...
Hora vai, hora volta...Hora estagna...
Começo tudo que terminei
Termino por deixar tudo de lado.
Conversa de louco eu comigo:
Discordo de discordar de algo sabido
Contrario o tempo acreditando
Que o segundo se dilatará como eu veloz...
Eita agonia, eita aquietação
Reviro-me; parto-me, junto
Desconto nos porquês meu sofrimento
Mãos à obra, nada evolui, nada desdobra
Coração finge que para, dá meia volta...



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

No meu quarto

No meu quarto eu guardo pedras.
Vermelha, preta, marrom clara...
Guardo-as como quem tem um tesouro
Mesmo sabendo que não valem nada...

O sentido das coisas e das ações é-me obscuro.
Escrevo sentado, olho as horas de quando em quando
Sou um mímico do mundo, nada mais...
(Se me ensinarem a relaxar, serei um bom aluno.)

E no que meus olhos tocam acomodados
O pior são os objetos da minha casa.
Minha janela anda muito fechada
A luz do sol conversa com o batente
Despendem horas, se despedem sem muita euforia
Esfria-se o concreto da parede depois das seis
Mas eu continuo a ouvir os passos lá fora
Quieto, na solidão da minha escrivaninha.

De onde me encontro, portas fechadas, escuro
Uma luz bruxuleia vez ou outra na fresta sob a porta
Pego uma xícara com água quente e cidreira
Chamo de chá o que enlanguece o meu corpo
Despeço-me do relógio na parede; dou olá à noite
Logo logo vem me distrair a fantasia
Depois disso, sou nada além das minhas frustrações...