segunda-feira, 30 de março de 2015

Nas filas dos Hospitais

Ilusão de céu azul
Sobre a cabeça, vertigens
A bem vinda aurora
Por quê veio?
Deixe o vazio seguir seu rumo
Fio de prumo da vida
Amor? Trabalho? Igreja? Filhos?
Mostre-me uma lágrima
Que não tenha secado
Chamarei-a de esperança
E as minhas moram no chão
Pisoteadas pela inocência
Da igualdade que não existe
Dos amores que não resistem
Das vidas que não residem
Das dúvidas que persistem
Sentimentos? Que é sentir?
Um ou zero, binário,
Resuma-me a códigos
E máquinas não sofrem
Eu ainda tenho um coração
Que é parte das estatísticas
Nas filas dos hospitais.

Poema sem Nome

Mais uma vez, rainha,
Arrebata-me violentamente,
Na fugacidade dos meus sonhos vis
Que ostento em surdina...

Amor, ser amado, ser amante,
O ser que não é nem verbo, nem sujeito
É o indizível, um moleque
Cuja juventude o deixa à mercê 
Do balouço do mar
Nesta vida que é um barco atracado no cás
E quando partimos para o amor,
Não voltamos para nós.

É o mar que nos molda o modo de amar
Em cada onda, em cada correnteza
Na espuma das vagas massivas 
Que nos molham os olhos
Em cada porto que não é porto
Em cada âncora que nos impede de seguir em frente.

Tristeza, abraça-me carinhosamente
Deixa-me em presença do quê não tenho
Como se fosse beijar minha fronte
Acariciar-me a face rotunda
E sobre minha espádua negra fosse debruçar-se
Na hora que te preciso de corpo e alma
Abandona-me, arrebata-me o calor
Congela-me em mim, nos meus mares e rios
Quando cai o céu sobre minha alma
E a noite me abarca em suas mãos.
Pousa-me no seio da solidão, amante silenciosa,
Vai partir rumo ao infinito de novo
Tão depressa que quase sou feliz
Antes que tu voltes.

E ainda assim sou meu próprio algoz...
Quem tem o amor que me seduziria?
Quem acreditaria que é possível amar como eu amo?
Estou morto? Sou um sonho, 
Que ninguém há de sonhar comigo...

domingo, 22 de março de 2015

Poesia do Silêncio

De vez em quando tudo é silêncio
Árvores e rios e estradas e a gente.
Eu me torno parte de tudo, de repente...
Deito em meu silêncio
Sonhos que me tomam, memórias que navegam minhas ideias
Pessoas que não posso mais ver
São meus olhos que turvam inebriados
São as horas que me ganham na corrida
Passam mais depressa que eu
E afugentam minhas vontades
Controlam minha força e os meus gritos.
Sou silêncio ante às atrocidades do mundo
- Morte que beija alguém na aurora da vida,
Os ares que são enfumaçados demais,
E o amor que cada dia se esconde mais.
Talvez um dia saiamos da caverna interior
Do nosso instinto primata
Mas, por enquanto,
Sou silêncio e escrita
Silêncio e medo
Silêncio e olhar à diante
Silêncio e positivismo
Silêncio e angústia,
E nada mais.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Afrocentricidade

Afrocentro da cidade branca
(Periferia)
Afroconcentrados, empilhados
Afroseparados pela covardia
Sempre alva, mão da matança...
Pele macia, carne dura
Pele dura, carne macia...
Onde estão seus irmãos?
Ao teu lado! Na luta do dia-a-dia
Sangue vermelho escuro,
Retintos, Sol a sol fez tua cor
No epicentro da escravidão
O afrocentro do amor.

terça-feira, 17 de março de 2015

Palavras atravessadas

As palavras caladas cochicham.
Traçam planos num papel em branco
Escravisam lápis, canetas, poetas...
Aparece e desaparecem
Não escreve e nem descrevem,
Circunscrevem, dilaceram
Sentimentos e sentidos, a semântica das coisas.
As palavras são labirintos de se perder
São como ratos acuados, perigosas
Traiçoeiras, Ardilosas e dóceis, muitas vezes.
Só os tolos acreditam ser letrados
Mas apesar de tudo, há quem se dê bem com elas
E por toda a vida são enganados.
Palavras não amam, não tem nervos
Não tem coração
Palavras são meio prato de comida
Para os poetas e escritores
Matam a fome, por hora, mas não saciam.

Nos arredores do amor

Nos arredores do amor não cresce mato
Não crescem flores e não há fauna,
Há, no entanto, espinhos e pedras,
Nos arredores do amor há a certeza
Que se não for o amor, não pode ser nada.


Natureza

Conheci a poesia quando eu me calei
E, no meu silêncio vi que mais bonito era,
O som das árvores, o azul sereno do céu,
Ou a passarada a gralhar e bater asas.
De galho em galho a vida animal se faz,
Seja com os macacos, seja com as aves,
Ou com as onças a caçar ferozmente.
Tudo na natureza são árvores e rios
E nascer do sol e céu e ar e terra.
O resto, é invenção do homem.
Chamo a natureza de vida pois a sinto,
E nunca senti-a nos escritórios,
Ou nas repartições ou atrás dos balcões.
Acho, porém, que nessas masmorras de se empilhar dinheiro,
Morrem mais sonhos do que nos penhascos,
E sonhos – felizmente para mim,

É o quê de mais bonito alguém pode ter.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Pequena lista do que quero

Em primeiro lugar, quero paz.
Depois, quero silêncio.
Quero justiça, além de tudo
E, além de justiça, quero igualdade social.
Quero ter direito a ter direito
E quero ir e vir sem pagar pedágio
(Pelo menos, não mais que uma vez)
Quero ver o céu azul, vez ou outra,
Quero ver o céu cinzento da chuva
E não o cinza amarelado da poluição.
Quero ser feliz, como todos querem,
Mas quero uma felicidade leve
Que não atropele ninguém e nem seja atropelada.
Quero ter uma família, do jeito que eu quiser
Casado ou não, hetero ou não,
Quero poder fazer o que me dá na telha
Se isso não ferir nem magoar ninguém.
Quero chegar cedo no trabalho
Quero que isso não me custe uma noite de sono
Quero que os ônibus passem no horário
Quero metrô na cidade inteira
E quero poder ir pra casa de transporte público
Quando já for de madrugada.
Quero poder viajar para fora das fronteiras do país
Quero que o mundo seja livre, como as pessoas deveriam ser...
Quero que crianças nasçam sadias
Quero que as mulheres escolham
Se querem ou não ter filhos
Quero que nenhum soberano exista
Quero mais amor ao próximo
Quero mais demonstração de amor do que de guerra
Quero menos morte e mais vida
Quero solidariedade...
Quero poder não querer nada.
Quero que a polícia militar acabe.
Quero que o genocídio do povo negro acabe.
Quero que o capitalismo devore os capitalistas.
E quero que o povo seja liberto do patronato.
Reparou que fui meio repetitivo?
Pois é...quero muito do mesmo, várias vezes
Pois é preciso reiterar o que quero
Para que assim talvez eu consiga que as pessoas me entendam...
Ah, quero também liberdade de expressão sempre
Pra que esse poema seja publicado sem censura ou cortes.




Ela

Ela
E seus cabelos encaracolados
Viam algo além de mim
Eu não via
Nada além de mim
Como ela.
Mas era uma imagem
Forte e altiva
Simples, porém,
Feito menina risonha
(Acho que era só isso)
Eu que via o que não era
Ela não era o que eu via
Era mais.

domingo, 15 de março de 2015

Não era por vinte centavos

Não era por vinte centavos.
Não era por um partido, nem pelo outro.
Não era por liberdade, tambouco.
Não era pelo que diziam ser.
Os criminosos não cometeram crimes.
Os bonzinhos, tornaram-se vândalos
Os heróis se meteram em escândalos,
Logo vimos que não eram os nossos heróis...
Confundimos um pouco o pão com o circo
Primavera com inverno
Povo com meio dúzia de loucos
Que gritavam por sandisses do passado.
E de um ano pro outro mudou-se pouco
Os vilões ainda são os mesmos
Mas encontramos agora outros agregados
Tão familiarizados com a dificuldade da nossa luta
Que resolveram mudar de lado.
Onde tinham milhares, falou-se em milhão
Onde tinham milhão, falaram em milhares
Mas lá onde o asfalto é liso
É possível ainda reclamar
Pedem impeachment, intervenção
Se esquecem da sede estadual
Do anseio por mudanças no país
E dos problemas sociais.
Quando pedimos o fim da morte dos nossos
Fomos reprimidos. Não teve mídia.
Quando pedimos melhorias onde moramos
Fomos reprimidos. Não teve mídia.
Não entendia em que Brasil morava
Até entender que em meu país faltava país
Faltava tudo que os manifestantes já tinham
E reclamavam não ter.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Celeste

Paisagem irreal em meu caminho
A sombra dos dias deitada em fulgura
Tão belas que foram as horas das tardes
Em que juntos caminhávamos pelos bosques...
Passado o calor que nos molhou a fronte
Uma despedida cortez, olhares curiosos
Eu olhava para trás, você também
Receosos da distância que se aproximava calmamente
E o alcance das mãos pequeno se fazendo.

Melhores lembranças, nos melhores dias
Dias em que os céus nos permitiram uma olhadela
Através das portas que a nós se abriram
E o Paraíso à nossa frente se mostrara.
Senti-a viva em todas as vezes que sorrira
Mais que você vivi eu,finalmente,
Na primavera dos meus anos de vida
Quando tive a certeza de que as estrelas nos beijam
Todas as vezes que as olhamos a fazer um pedido.

Paisagem irreal em meu caminho
A lua nova desejava-me nova vida
A grama esverdeada balouçava num verde profundo
Ao sabor da brisa que nos refrescava.
Eu fui até o último centímetro que pude contigo
Em sua doce companhia, lado a lado
Degunstando cada uma daquelas horas
E por mais que eu tenha pensado anteriormente
Que a vida nada além de tristeza me pudesse trazer
De repente, os anjos ma trouxeram, como em meus sonhos
Cândida, envolta na moldura celeste
Pintura celestial que os meus olhos acalma
E os meus sentidos apaziguou.

Manhã que se apresenta nas primeiras fagulhas helíacas
Traga-me de novo o beijo doce daquela visão
Que a luz refretida na face erbúrea ma trás!
Sorvi-a e vi-me inteiro, novamente,
Em cada palavra que perfazia-me os ouvidos
Saidas dos seus rubros lábios.

Pouco a pouco vi que me tomava
O desejo de passar outras tardes ao seu lado
E que caminhar já não seria o suficiente.
Qui-la em minha essência, parte minha indissociável
Como se teu azul fosse o azul do céu
E o meu azul fosse o azul do mar
E no horizonte em que nos encontramos
Somente as estrelas nos entenderiam
E cada lágrima que um dia derramamos
Fosse nesse instante, elevar-nos
Da terra ao mar, do mar aos céus
E do meu peito aos teus abraços.

(São palavras tudo o que possuo
E imagens que perpassam-me num vulto
A sossobrarem minhas vontades
Permeiam aquilo que chamei de planos
E desfiz o que antes me parecia real
Como se mais real se fizera
A ilusão que os bosques me ofereceram
E as nuvem que nos molhavam de volúpia
Em cada lufada do seu hálito sobre o meu
Toda vez que relembro os nossos dias.)

Vibrara minha alma com a sua chegada.
A aurora que tingia a abóboda celestre enrubesceu-me
O amado dilúculo me beijou a fronte
E pareceu que era o teu carmim sobre a minha boca
Num ósculo que adormeceria os meus tormentos.
Fora sonho, tudo além da sua chegada
Paisagem que o horizonte dobra para ver passar
Linha tênue entre o meu infortúnio e o meu júbilo.

(Toda página em branco esconde um nome
E uma história a ser contada ainda
Possuo um livro em que você figura
Em todas as páginas desde a primeira
Desde o primeiro instante que a vi distraída
Sentada ao ar livre, feito um jarro de flor.)

E nomeei paixão a tudo o que em minha vida tomava forma
Amei sua silhueta como se fosse uma imagem
Que o mais nobre templo me concedera.
Divina! Celeste! Como senti-me um sacristão em sua presença
Mas em meu corpo humano batizado em pecados
Habita a carne que a pureza dos tronos consome
E a torna a mim a mais desejada das humanas
Pois habito em ti como um frágil silêncio
Em teu corpo sublime, no qual até a sombra reluz.

Pensei que os anjos só habitassem os céus.
A vez primeira que a terra fez-se sublime
Nessa visão que a redenção nos oferece
Poucos momentos a deparar-me com o universo
A obra divina de mãos macias, olhar tímido
Sorriso acanhado, melodia visual
Um amálgama de cores que cintilam
Em meus olhos e bruxuleam
Feito a luz das estrelas mais distantes
Feito os sonhos que moram no infinito
E que só os Deuses mo trazer poderia.

Por isso, entrego aos Deuses que ma concederam,
Todos os segredos que escondo de mim.
Os medos que tenho dessa solidão
Que habita a sua ausência, sua despedida.
Entrego-me, como um réu confesso,
O qual cometera o crime de amar emudecido
E morrer em cada segundo ante ao dissabor
De ter no peito mais do que se pode carregar
A vida humana em forma de amor.

domingo, 8 de março de 2015

Papiro azul escuro

Quando me levanto pela manhã,
Rezo ao pensar no nascer do Sol.
Não sei ao certo a que Deus eu rezo
- Se à Alah, Buda ou mesmo o Deus Cristão -,
Só rezo, num esforço quase orgânico de admitir,
Que sou tão pequeno quanto o meu mundo.
Meus olhos miram o céu firmemente,
E todo o resto que por vezes estão acima de mim.
Conto pombos, pardais, Pica-paus,
Diversos seres que, como eu,
São mínimos na natureza,
Mas fazem, cada um do seu jeito,
Uma grande diferença para a vida na Terra.
Essa é a minha janela, dentro da minha casa,
Casa que fica dentro de um condomínio arborizado,
Dentro de uma cidade com mais de um milhão de pessoas.
Se essa é a natureza da cidade,
- A despeito da poluição dos automóveis,
Do lixo doméstico, dos esgotos e da fumaça dos cigarros e carros-,
E já assim sou feliz com tão pouco dela,
Imagino-me cercado de verde, como nos campos...
Por isso amo cachoeiras e estradas de terra,
Amo, na chuva dos campos, o cheiro da terra molhada,
A possibilidade de fazer bonecos de barro,
Ou algo mais personalizado, para o qual não tenho habilidades.
Amo e detesto as cidades muito grandes,
Sou talvez nascido para viver um pouco aqui e um pouco ali,
Sem montar uma fortaleza, sem adquirir bens,
Pois possuo em meu ser,
Uma verdadeira admiração, uma enorme devoção,
A tudo o que não posso ter.
Quero a liberdade, mas o que é ser livre? Ser livre para quê?

Zum Bleiben ich, zum Scheiden du erkoren,
Gingst du voran – und hast nicht viel verloren.”
Goethe sempre foi o meu poeta preferido,
Mas ele não falava muito em natureza,
Apesar de amá-la com fervor, como em Werther.
Por isso gosto de Alberto Caeiro, vulgo Fernando Pessoa.
Meus gênios preferidos sabiam escrever e sabiam,
Acima de tudo, ler a natureza das coisas ao redor de si,
Ou ler as pessoas e seus sentimentos.
Eu sei muito pouco de muita coisa,
E fico triste, às vezes, por saber de tudo e de nada.
Sou um físico não-formado (como todos os outros que conheço),
Um homem de parco conhecimento mas que observa,
Ao seu redor – como fizeram os grandes poetas-,
As pessoas e a natureza, desde os bebês aos mares revoltos.
Acho que homens são um espelho da natureza:
Alguns são furacões, outros são lagos tranquilos,
Ademais os temperamentos, todos são natureza,
E possuímos muito mais em comum do que pensamos.
Alguns homens, porém, são exceção,
São terremotos, ou maremotos, ou erupções vulcânicas,
Violentos demais para não destruírem de alguma forma,
Ou para serem totalmente evitados,
Incontroláveis por si só e imprevisíveis.
Nesse aspecto, sou um grande poeta,
Não controlo meus amores e nem a natureza,
E os observo compulsivamente,
Como se houvesse pra mim um espelho d'água,
Que no final de todas as histórias,
De todos os universos,
Se revelaria para mim a grande verdade Universal,
Em um grande papiro azul escuro,
Com versos simples e uma letra bonita,
Os versos inicias do Criador desse imenso poema que é a vida.