quinta-feira, 28 de julho de 2016

A filha de Magdalena

Mil delírios em tua face, olho-te.
Nas outras milhões de faces, vejo-te.
És o espelho do teu tempo
A trêmula imagem que se espalha
E se espalhando deixa rastros
Como nos corpos perambulantes semi-nus.
Pegadas e o perfume mundano: uma trilha!
Cheiro dos temperos das cozinhas
Facilmente confundidos com um desses
Perfumes caríssimos franceses.
Pouco silêncio nas cidades
Vale-se menos de um cigarro nesses dias irrequietos
Em que os ratos se expõem mais que os gatos
E todos os predadores recuam
Reconhecendo que perderam a vez.
Acendo um cigarro
Nada muda dentro de mim (mas estou mais pobre, agora)
Nem o meu câncer que se aviva em dias de chuva
Tristeza, o mundo continua o mesmo
Mesmo eu morrendo
Mas já morri antes, e nada mudou até hoje
Por isso ando à noite e desafio
Todos os meus sentidos mantendo-me alerta.

Digo-te, como disse à Magdalena,
Muitos são os caminhos
Não existem os melhores passos no xadrez.
Já vi-a ganhar-me de antemão algumas vezes
Como se o futuro tivesse sido escrito
Por uma mão com uma caneta de tinteiro
E uma tinta irremovível.
Tudo está tão definido como antes
Antes de percebermos a nossa ignorância.
Um passo em falso e é cheque-mate
Rei e rainha subjugados por um peão
Que ironia, não? Magdalena sabia de tudo,
Mas preferiu morrer no silêncio do pedantismo
Guardando pra si tudo o possível
Até os nossos segredos mais profundos
Que foram para o fundo do mar junto dela.

Talvez pelo meu passado eu abra tanto as janelas
Gosto da luz e me escondo sob ela.
O sol é algo que me refuta as mazelas
Extirpa-as de minhas entranhas por alguns segundos
Ou talvez horas, se for verão.
Canto muito quando estou só e sou um artista
Na arte de imaginar que não sou quem eu sou
Que sou quem não sou
Pois tenho sido eu mesmo desde sempre
Sem mostrar as outras faces que tenho
(Ou pelo menos gostaria de ter)
Sem mostrar-me, às vezes, a mim mesmo.
Gosto muito mesmo de cantar
Mas desafino até em notas curtas.
Por isso danei-me a escrever versos. Ai, versos!
E quando termino de os escrever, olho para o céu.
Se a lua estiver lá, sei que escrevi algo bom
Algo que presta. E a lua concorda comigo.
Se não, sei que a lua me ignora ou que escrevi algo ignóbil.
Há dias em que a minha musa aparece-me esplendorosa
Redonda e alva no meu céu marinho
E então eu percebo
Que mesmo os outros não gostando
Posso ficar tranquilo
Afinal, o quê vale mais que o reconhecimento da lua?
Choro por não ser um grande da escrita
Mas tenho tempo, há tantos livros bons e
Coisas bem escritas...
Talvez eu ainda aprenda algo
Antes de ser tragado para a terra
Junto com meus sonhos e desejos
Para junto dos outros pequenos como eu.

Magdalena morreu feliz.
Riu-se, muito provavelmente,
Por saber que não faria falta a ninguém.
A jovem de vinte e poucos era tão feia
Tão boba e tão quieta
Que era capaz de não falar por dias
Só observar do alto da sua sabedoria
Os erros alheios e se deleitava com isso.
Morreu agonizando numa barcaça e
Hoje quem ri sou eu, lembrando
Quando me contaram o fato.
A infeliz tinha esquecido-se
Que nada fica em pune no mundo.
A vida é perfeita para punir
Mas foi mal projetada para ser justa.
Ela sabia caminhar
Às vezes por longas distâncias
Lia assiduamente
Mas esqueceu-se de aprender a levar a vida como ela exige.
É preciso olhar para o mundo como quem encara um prato de comida
Depois de uma árdua jornada de trabalho.
É preciso ter fome de viver para ter uma vida plena
Mas nem todos o sabem.
Por isso morremos, cada dia mais velhos
Porém, cada dia menos sábios,
Mais acadêmicos, mas menos vividos.

Olhos cerrados de dia
Vida que segue adiante
Mesmo sob o luto tenebroso
Que é a vida cotidiana.
Vejo mortos perambulando
Mortos somos todos
Orgulhosos de sermos suicidas.
Fecho a janela para o sol não entrar.
O calor já quase escalda-nos no nosso suor.
Penso nas horas que se vão transpirando
Uma pressa sem limites
Que só os dias atuais entendem. Eu não.
Limito-me a ler Camões de madrugada, na rede.
Tu não entendes. Tua mãe, do fundo do mar,
Entenderia.
Ouça, a mensagem é bem simples, porém:
Quero-te inteiramente tua,
Sem medos de ser feliz ou seguir adiante.
A crueldade do mundo é só dele,
Mas tu não és o mundo.
Ao teu redor, o mar não tem só ondas ou corpos náufragos
Nem a terra guarda só luto subterrâneo.
Têm-se plantações inteiras de hortaliças para se colher
Milhares de espécies de peixes a serem descobertas
E tu és tão jovem, há de entender.
Não me dê ouvidos, eu também já morri há anos.

Mortos somos todos
Os nascido sob o candelabro sem vela
Que brilha no céu matutino.
Fagulhas acesas nos corações
Centelhas divinas caídas
Na profana infusão
Que embebeda nossas mentes
No caos estabelecido que chamamos Terra.
Vi-me ante à escuridão tortuosa
Que permeia as membranas da sociedade eclesiástico-burguesa
Pois um dia fui um de seus membros e nela estive
E não mais para lá voltarei.
Agora que penso no mundo como em Fridrichhain
Há um quê de revolta no meu âmago
Um retalho sem remenda nas minhas vísceras
Um beijo não dado.
Mas sustento só um corpo vazio
A alma que possuía, deixei com o meu senhor
Tão certo de si que me dá pena.
Mortos somos todos. E o quê mais seríamos?



A filha de Magdalena

Mil delírios em tua face, olho-te.
Nas outras milhões de faces, vejo-te.
És o espelho do teu tempo
A trêmula imagem que se espalha
E se espalhando deixa rastros
Como nos corpos perambulantes semi-nus.
Pegadas e o perfume mundano: uma trilha!
Cheiro dos temperos das cozinhas
Facilmente confundidos com um desses
Perfumes caríssimos franceses.
Pouco silêncio nas cidades
Vale-se menos de um cigarro nesses dias irrequietos
Em que os ratos se expõem mais que os gatos
E todos os predadores recuam
Reconhecendo que perderam a vez.
Acendo um cigarro
Nada muda dentro de mim (mas estou mais pobre, agora)
Nem o meu câncer que se aviva em dias de chuva
Tristeza, o mundo continua o mesmo
Mesmo eu morrendo
Mas já morri antes, e nada mudou até hoje
Por isso ando à noite e desafio
Todos os meus sentidos mantendo-me alerta.

Digo-te, como disse à Magdalena,
Muitos são os caminhos
Não existem os melhores passos no xadrez.
Já vi-a ganhar-me de antemão algumas vezes
Como se o futuro tivesse sido escrito
Por uma mão com uma caneta de tinteiro
E uma tinta irremovível.
Tudo está tão definido como antes
Antes de percebermos a nossa ignorância.
Um passo em falso e é cheque-mate
Rei e rainha subjugados por um peão
Que ironia, não? Magdalena sabia de tudo,
Mas preferiu morrer no silêncio do pedantismo
Guardando pra si tudo o possível
Até os nossos segredos mais profundos
Que foram para o fundo do mar junto dela.

Talvez pelo meu passado eu abra tanto as janelas
Gosto da luz e me escondo sob ela.
O sol é algo que me refuta as mazelas
Extirpa-as de minhas entranhas por alguns segundos
Ou talvez horas, se for verão.
Canto muito quando estou só e sou um artista
Na arte de imaginar que não sou quem eu sou
Que sou quem não sou
Pois tenho sido eu mesmo desde sempre
Sem mostrar as outras faces que tenho
(Ou pelo menos gostaria de ter)
Sem mostrar-me, às vezes, a mim mesmo.
Gosto muito mesmo de cantar
Mas desafino até em notas curtas.
Por isso danei-me a escrever versos. Ai, versos!
E quando termino de os escrever, olho para o céu.
Se a lua estiver lá, sei que escrevi algo bom
Algo que presta. E a lua concorda comigo.
Se não, sei que a lua me ignora ou que escrevi algo ignóbil.
Há dias em que a minha musa aparece-me esplendorosa
Redonda e alva no meu céu marinho
E então eu percebo
Que mesmo os outros não gostando
Posso ficar tranquilo
Afinal, o quê vale mais que o reconhecimento da lua?
Choro por não ser um grande da escrita
Mas tenho tempo, há tantos livros bons e
Coisas bem escritas...
Talvez eu ainda aprenda algo
Antes de ser tragado para a terra
Junto com meus sonhos e desejos
Para junto dos outros pequenos como eu.

Magdalena morreu feliz.
Riu-se, muito provavelmente,
Por saber que não faria falta a ninguém.
A jovem de vinte e poucos era tão feia
Tão boba e tão quieta
Que era capaz de não falar por dias
Só observar do alto da sua sabedoria
Os erros alheios e se deleitava com isso.
Morreu agonizando numa barcaça e
Hoje quem ri sou eu, lembrando
Quando me contaram o fato.
A infeliz tinha esquecido-se
Que nada fica em pune no mundo.
A vida é perfeita para punir
Mas foi mal projetada para ser justa.
Ela sabia caminhar
Às vezes por longas distâncias
Lia assiduamente
Mas esqueceu-se de aprender a levar a vida como ela exige.
É preciso olhar para o mundo como quem encara um prato de comida
Depois de uma árdua jornada de trabalho.
É preciso ter fome de viver para ter uma vida plena
Mas nem todos o sabem.
Por isso morremos, cada dia mais velhos
Porém, cada dia menos sábios,
Mais acadêmicos, mas menos vividos.

Olhos cerrados de dia
Vida que segue adiante
Mesmo sob o luto tenebroso
Que é a vida cotidiana.
Vejo mortos perambulando
Mortos somos todos
Orgulhosos de sermos suicidas.
Fecho a janela para o sol não entrar.
O calor já quase escalda-nos no nosso suor.
Penso nas horas que se vão transpirando
Uma pressa sem limites
Que só os dias atuais entendem. Eu não.
Limito-me a ler Camões de madrugada, na rede.
Tu não entendes. Tua mãe, do fundo do mar,
Entenderia.
Ouça, a mensagem é bem simples, porém:
Quero-te inteiramente tua,
Sem medos de ser feliz ou seguir adiante.
A crueldade do mundo é só dele,
Mas tu não és o mundo.
Ao teu redor, o mar não tem só ondas ou corpos náufragos
Nem a terra guarda só luto subterrâneo.
Têm-se plantações inteiras de hortaliças para se colher
Milhares de espécies de peixes a serem descobertas
E tu és tão jovem, há de entender.
Não me dê ouvidos, eu também já morri há anos.

Mortos somos todos
Os nascido sob o candelabro sem vela
Que brilha no céu matutino.
Fagulhas acesas nos corações
Centelhas divinas caídas
Na profana infusão
Que embebeda nossas mentes
No caos estabelecido que chamamos Terra.
Vi-me ante à escuridão tortuosa
Que permeia as membranas da sociedade eclesiástico-burguesa
Pois um dia fui um de seus membros e nela estive
E não mais para lá voltarei.
Agora que penso no mundo como em Fridrichhain
Há um quê de revolta no meu âmago
Um retalho sem remenda nas minhas vísceras
Um beijo não dado.
Mas sustento só um corpo vazio
A alma que possuía, deixei com o meu senhor
Tão certo de si que me dá pena.
Mortos somos todos. E o quê mais seríamos?



Inglesa

Olho pra minha inglesa
(mas nunca tive uma inglesa)
E penso em negócios
Formalidades nos trajes
Cômicos barulhos nas calçadas
Em casa, panquecas.
Além do sotaque britânico
Um quê brasileiro, algo de ginga,
Balança no andar retilíneo
Um espigão anglo-brasileiro
Riso fácil, boca dura,
Pés e mãos quentes feito verão
Um pouco de mistério no falar

E eu, estúpido, sonhando ser dela...  

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Autopoemas em Série IV (ou De Agosto a Setembro)

É quando o tempo sobre nós se eita
Que as horas se eternizam.


As pernas balouçando ao sabor do vento
Eram quatro: entrelaçavam, desentrelaçavam.
Olhávamos o abismo sob nossos pés
Ríamos dos perigos da vida juntos,
Mas juntos estando, juntos permanecíamos.

Disse-me uma vez o tal poetinha,
com voz rouca e com palavras medidas,
Aquilo que o poeta fingidor não poderia:
"Meu tempo é quando."
O meu tempo passou e, como se me orbitando,
Voltou para me dizer bobagens
Sobre o futuro, o presente e o passado
Como se me conhecesse melhor eu.

Essas conversas fiadas - parece madrugada,
A lua se enche de mim, rotunda e lívida
A soerguer no céu um véu de luz, ilumina
E ilude quem pensa que é dia. É nada!
É papo de quem se perdeu na prosa, onde estávamos?
Meu tempo? Nosso abismo? Sei lá...
Tive um medo danado de perder seus olhos de vista
E de sair do alcance de suas mãos
Pois meus versos antigos - quase irreais e inverossímeis,
Foram postos à prova e perderam a validade
Na primeira pedra que o caminho esqueceu.

(Cruzaram-se as pernas e os sorrisos)
A sapatilha preta caiu das nuvens - espanto.
Perdão! Desastroso eu sou com o que me é caro
E tudo que tange seus mimos e zelos
Toda a bagagem de correr rios salgados
E minhas breguices de gente mais velha
Inestimáveis e diminutas o são
Eu desandei a falar-te bobagens
Entre juras de amor eterno e dúvidas perenes
Sendo o calabouço e o castelo flutuante
Percebi que Agosto nunca chegará,
E, Setembro, com sua chuva, sua esperança
Há de molhar seu coração, fazendo brotar
Aquilo que em meus sonhos não germinam:
As horas que nos faltaram passar juntos.








Autopoemas -IV (ou De Agosto a Setembro)

É quando o tempo sobre nós se eita
Que as horas se eternizam.


As pernas balouçando ao sabor do vento
Eram quatro: entrelaçavam, desentrelaçavam.
Olhávamos o abismo sob nossos pés
Ríamos dos perigos da vida juntos,
Mas juntos estando, juntos permanecíamos.

Disse-me uma vez o tal poetinha,
com voz rouca e com palavras medidas,
Aquilo que o poeta fingidor não poderia:
"Meu tempo é quando."
O meu tempo passou e, como se me orbitando,
Voltou para me dizer bobagens
Sobre o futuro, o presente e o passado
Como se me conhecesse melhor eu.

Essas conversas fiadas - parece madrugada,
A lua se enche de mim, rotunda e lívida
A soerguer no céu um véu de luz, ilumina
E ilude quem pensa que é dia. É nada!
É papo de quem se perdeu na prosa, onde estávamos?
Meu tempo? Nosso abismo? Sei lá...
Tive um medo danado de perder seus olhos de vista
E de sair do alcance de suas mãos
Pois meus versos antigos - quase irreais e inverossímeis,
Foram postos à prova e perderam a validade
Na primeira pedra que o caminho esqueceu.

(Cruzaram-se as pernas e os sorrisos)
A sapatilha preta caiu das nuvens - espanto.
Perdão! Desastroso eu sou com o que me é caro
E tudo que tange seus mimos e zelos
Toda a bagagem de correr rios salgados
E minhas breguices de gente mais velha
Inestimáveis e diminutas o são
Eu desandei a falar-te bobagens
Entre juras de amor eterno e dúvidas perenes
Sendo o calabouço e o castelo flutuante
Percebi que Agosto nunca chegará,
E, Setembro, com sua chuva, sua esperança
Há de molhar seu coração, fazendo brotar
Aquilo que em meus sonhos não germinam:
As horas que nos faltaram passar juntos.








terça-feira, 12 de julho de 2016

III - Autopoemas em Série

Eu vou sobreviver
Mesmo com os buracos na estrada
E com os solavancos sentidos
Mesmo com meus olhos vermelhos...

Eu vou sobreviver
E digo com convicção
Ninguém diminuirá o que sei que sou:
Mais que minhas falhas e defeitos
Mais que meus olhos vermelhos...

Eu vou sobreviver
Às intempéries do clima hostil desse país
Mesmo sem mobilidade social
Entre o abismo e meus anseios
E esses malditos olhos vermelhos...

Eu vou sobreviver
Mesmo sem ainda saber como
E desconfio que isso me causará dores
Mas sei sofrer calado: treino há anos.
Sou forte, um guerreiro nagô
Mesmo com meus belos olhos vermelhos...

Eu vou sobreviver
Mesmo que já tenham me jurado ao nascer
E eu, contando as horas que me restam,
Sofro a ansiedade de viver sem saber até onde vou
Saboreio as horas como um cão faminto
E lacrimejo sangue, pelos meus olhos vermelhos...




segunda-feira, 11 de julho de 2016

Sorria, seu time perdeu!

Sorria, seu time perdeu!
A inflação aumentou de novo, sorria!
Seu salário é mínimo? Que ótimo!
O sinal fechou, abra os vidros do carro!
Te chamaram de gostosa...agradeça!
Desemprego crescendo...ah, a bonança!
Buraco nos asfaltos
Ruas alagadas com as chuvas de verão
Opa! Me chamaram de preto safado: adoro!
Decote de puta? Orgulhe-se!
O novo presidente é corrupto!
Leis trabalhistas flexibilizadas...
Meu patrão me elogiou, sou produtivo!
Desmonte da educação pública...
Pessoas morrendo nas filas dos hospitais
Acene para o segurança que te persegue no mercado!
Ali, não é aquele policial assassino da televisão?
Dólar em alta? O que tem ?
Aumento da jornada de trabalho...ok!
A professora desistiu de dar aulas: melhor!
A escola vai fechar de vez semana que vem
Lançaram o Iphone100: preciso
Mas não preciso do meu salário do ano!
Copa do Mundo Fifa e Olimpíadas no Brasil
Impeachment de presidente sem provas de erro
A passagem do ônibus vai aumentar de novo
Que pena: acabou o ovo da páscoa de prestígio...

quarta-feira, 6 de julho de 2016

II - Autopoemas em Série

A me louvar desteço a noite
Recomeço-me do fim
Olho o universo frente ao espelho
Descubro sorrisos, carícias
Nuances da face, olhares
Tessituras da pele e cabelos.

A me louvar desteço o dia
Claridade e nitidez enegrecidas
Anteparo humano, placa de Sol
Absorvo, reflito, refrato
Uma fenda de Young, fóton errante
Todo o cosmo ao meu alcance.

Desfaço-me, dispo-me, desconstruo..,
Pele e carne e ossos e nervos
Valores, crenças, mitos e ideologias
Sou presença, sou ausência, sou nada
Uma silhueta no espelho refletida
Brilho de noite escura no claro do dia.



I - Autopoemas em série

(Re)Côncavo sobre mim
Meus olhos de ver mais tarde
Peito de quem ama e sente o mundo
Não cabe em corpo de vaidade...

A força expande, aplaina o sorriso
Chamado tempo, corre descalço
Na cidade, no asfalto quente
Dança de pé no chão, ri quase falso.

Delgado, melindroso, expansivo...
Olha o céu e aquieta. Olha a hora:
Atraso! Mais alguns minutos
Deixa tudo para amanhã
O agora é só um acaso...


terça-feira, 5 de julho de 2016

Pisar no chão

Pisar no chão, de caboclagem...
A terra adusta reconhece:
A herança negra pede passagem.

Cantos de roda, roça e arado
Banzo e pilão: raízes profundas.
Meu corpo é a memória do passado...

Nasci do tamanho dessa Terra
Um continente belo e abastado
Criado na paz; moldado na Guerra...

O meu calor no solo quente...
dança de roda, repete o refrão,
Criança ao lado: futuro da gente!