quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Soneto ao Menino

Era um sinal divino a luz vermelha
Balas postas no chão, vai o menino
No minuto que tem repete o Hino
Desenvolto, no verde destrambelha...

Aquela gente triste e o desatino;
Abre e fecha o sinal, voa a abelha
No semblante fechado vê a centelha
Essa tristeza é ódio ao seu destino.

Deu-se então de morar onde há crime
Do tipo que a Tevê ama e espalha
E que é pra essa gente uma navalha

E o menino que lá longe trabalha
Vendendo suas balas foi pro time
Dos que o trabalho honesto não oprime.


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Porto-saudade

Os olhos no cais
As mãos não alcançam o fim do azul.
Turvo, cristalino
Reflexo disritmico 
Sobe e desce a maré.
A saudade contraída
Feito doença contagiosa
Espalha a fossa do dia
Os olhos que tremem
Os olhos que nem enxergam
Os olhos que olham longe, perdidos
A fossa, o perfume do esgoto,
O que deixamos para trás
O que se expele na raiva
Palavras tortas cruzadas
Palavras que não voltam mais.

À beira da noite
O silêncio sopra um portão
O cais mora nos olhos
Os olhos, na solidão.

À beira da noite, à beira da morte...

Do curto porto,
Dor que se eleva
Chega outro pescador
Chega e descarrega.
Saem Namorados, Pintados, Sardinhas
Saem do convés Dourados, Robalos.
Saem todos do barco,
Fica a espera.
Uns minutos a olhar o vazio
A fitar a possibilidade
A maré subiu novamente
A maré descerá ao amanhecer.

Quando saio da praia
Abandono a saudade, a espera
A solidão e a melancolia descansam
Finalmente.
À minha frente, à esquerda do mar
O bote salva-vidas
Os lisos cabelos escuros
Que enfeitam meu quarto
Espalhando raízes.
Espera, desejo, solidão, abandono...
Do outro lado da margem
Há de ter quem os queira!