segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Desonesta

Uiva o lobo dentro de mim:
O eterno sentinela da escuridão soturna,
A quem o silêncio prendeu numa lacuna,
Que a vida insiste em preencher com fim.
Eu descubro o véu e vejo tudo:
Dorme no berço um amor embrionário,
De quem a sorte tornou retardatário,
Na corrida contra os medos noturnos.
Eu estou lá, atrás do espelho:
Enxergando nas lágrimas de teus olhos verdes,
Uma tácita alma que clama às paredes,
Para as lágrimas não deixarem teus olhos vermelhos...
No espólio do amor vivido,
Transparece a mulher que a vida te moldou:
Furtando-te a juventude, tudo o que restou,
Foi a esperança, teu primeiro e único marido!
Vive e chora, agora, tão tardiamente,
Por não ter vivido antes o planejado,
A história se fez sem castelo ou príncipe encantado,
Foi apenas humana, desonestamente.
E não sou eu o algoz dessa dívida funesta,
Que se mostra humanamente desonesta,
E rir-se no escárnio de uma pergunta indigesta,
Deveras racional pra cabeça de um poeta!

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