Deixa que seja tarde.
Sobre o sol se pondo vermelho
A noite crescente o embala tranquila.
Também o fogo descansa
Também o fogo ressurge do frio.
O afago da jornada é a chegada
O outro dia seguinte, as pernas sentem o peso.
São trocas de cores, energias
As palavras que se perdem, correm o mundo
Nos nossos ouvidos pousam como ruídos
De um mundo caótico onde nos olhamos
Entre tantos olhares, entre tantos escuros
Entre chegadas e partidas.
Deixa que seja tarde, quase dia
A hora nunca passou para nós.
Eu olho a chuva que cai no meu quintal
Insistente em furar o chão de cimento.
Após dias caindo, ainda é hoje
Como quando eu te vejo, dezoite de maio
E nada muda, tudo insiste em não mudar.
Preparado para partir pela eternidade
Sem nome e sem rosto, a estrada me chama
Não tenho cavalo branco em meu nome, não tenho bens
Carrego uma imagem nos olhos
Uma sensação de eterno calor no coração
E uma mágoa que partirá quando for hora
Deixando uma falta imensa em meu vazio - órgão principal dos poetas -
Onde nada bate, nada habita, nada pensa
Nada é real, além dessa dor inexprimível.