segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Os negros desta terra

E nós, por onde andamos?
Em terras enlameadas, no barro vivo
Esgueirando-nos pela mata,
Subindo e descendo morros.

A tocha acendia quando o galo cantava
A casa de pau a pique tornou-se barraco
E o cimento das paredes ainda nem secou.
A noite estendia-se sobre nossos pés
Mas os dias mais escuros foram no passado
Quando a terra adusta tinha o nosso gosto
Quando havia sorrisos sob os nossos olhos vermelhos.

Sem nadar atravessamos o oceano
Sem vontade, deixamos nossas famílias
Ouviu-se choro e lamento e ladainha
Nos porões, nas senzalas, nas favelas
E nenhuma corrente se quebrou sem nossa luta.
Ninguém deixou de olhar pro céu
De olhar o passado buscando a glória perdida
A doutrina veio nos assolar em mangas de camisa
A chibata nos ensinou a não gritar tão alto
Os terreiros floresceram na primavera
Sem nossos pés por tempos imensuráveis

Mas eis que chegou o momento de nos levantarmos
Entre herdeiros de capitanias, barões e baronesas
Entre os flagelados que concordam com o flagelo
E os que nunca se admitirão escravos
Pois ecoa novamente o nome dos antigos reis
Aqualtune, Ganga Zumba, Sabina, Zumbi e Dandara
E hoje podemos ouvir o seu chamado.

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