terça-feira, 16 de maio de 2017

Relógio da Central

Vendo as horas no relógio da Central
Ouço os vagões que entram e saem das pessoas.
Sempre em frente, movem-se as peças,
Soldados de uma guerra pacífica, há tempos perdida...

Enquanto armas caminham no hemisfério norte
A nuvem cinza avança nas florestas do meu país.
Corpos vermelhos mutilados pela estrada
São a tintura do novo pau-Brasil.

Tento conter a euforia por ser um outro 
Sujeito anônimo a comprar pão e esperar na fila
Sofro com a demora enquanto esbravejo sobre política,
Futebol e sobre o preço do mercado, eternamente a subir...

E se planejo o meu retorno ao controle de mim
Encontro-me entre planilhas e relatórios
Sendo um inútil tão útil quanto posso ser
Rindo de piadas ruins e a concordar com absurdos.

Justifico-me olhando as ruas com desdém
Distanciando meus olhos do que me faz lembrar de mim
Sou meu tempo, atual e obsoleto
Memórias póstumas de ações impulsivas.

O espelho dextrogiro numa torre distante
É o Leviatã botando fogo na cidade
Não temo a morte porquê conheço o meu destino
Mas o meu escudo  ainda são as grades que me oprimem.


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