sábado, 24 de junho de 2017

A farda fareja melanina

A farda fareja melanina
Olfato canino para pele preta
Balas perdidas que nunca se perdem em condomínios
Vão achar repouso num corpo periférico.

Nasci morto em oitenta e nove
Ganhei minha certidão de óbito de uma enfermeira:
A raça é preta!
Jovens que se parecem comigo: todos mortos!
Andando ou num caixão, sem arma ou de fuzil na mão.
Mortos-vivos no corredor da vida
Esperando nos tornarem mortos-mortos.
Enterrados em celas lotadas ou barracos apertados
Em covas de indigentes. Somos os mesmos mortos.
A dura é dura mais no peito que na cintura
E dura tão pouco no tempo mas, na memória,
Quanta história nessa vida merencória!
Meus olhos negros sangram água do mar
Em mim, um gancho repucha minhas entranhas
Minhas mãos fizeram calos no chão; e o chão nos meus joelhos.
Lábios de banzo, choro diluído
Nas trincheiras desarmados
A vida nos tem testado os olhos mais que o peito.

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