sábado, 28 de julho de 2012

Requiem

Não sei se eu tenho sorte ou se fui escolhido,
Não sei se é culpa minha ou culpa dos meus amigos,
Só sei que estou onde eu mais queria estar,
E agora eu sei que não posso nem pensar em voltar,
Foi preciso muita ajuda, fé e oração,
Botar a cabeça pra pensar chacoalhando no busão,
Um livro aberto, foco pra não me perder,
Pois já havia perdido quase tudo quando eu perdi você,
Eu vi nos teus olhos quando fui te visitar,
Que era um Adeus e você não poderia voltar,
Não guardo boas lembranças de ir a Hospital,
Ninguém sabia se você ia voltar mas, eu tinha certeza que não,
E hoje o tempo passa como quem tira uma faca do peito,
Alivia um pouco o golpe mas, não retrocede o efeito,
A falta que seus olhos fazem ao me olhar com amor,
É pior que Banzo pra esse negro que conhece bem o que é dor,
Mas suas mãos estiveram sempre ao meu alcance,
Foi por você e pelos meus irmãos que eu aproveitei cada chance,
Se me perguntarem por que eu não desisto e cheguei onde estou,
Eu vou encher os olhos d'água e dizer que é por você Leonor.


Eu serei tão grande quanto o Sol, um homem de respeito,
Vou fazer sempre o meu melhor, seguindo o seu conselho,
Estou fora de casa há tanto tempo que eu nem sei o que é um lar,
E entrar todo dia nesse quarto vazio me faz pensar,
Sentado em frente à mesa vejo o seu retrato,
E rio sozinho com a foto dos seus netos ao lado,
Que você nem pode conhecer, você não, a senhora,
Desculpa mãe, que falta fazem as suas broncas agora!
É impossível não pensar sempre antes de dormir,
No quanto é ruim querer carinho e não ter a quem pedir,
Sentir inveja de quem viaja com os pais,
Já virou comum, a essa altura do campeonato tanto faz,
Eu só queria de volta o elo de união,
De quem chamava as irmãs de mana e nunca abandonou a missão,
Guerreira que segura a minha mão e nunca me deixou cair,
Sei que nunca vai deixar, vamos ser um até o fim,
A noite me dá medo mas não é por causa do escuro,
É que mais um dia acaba e a senhora não voltou pra casa,
Se hoje eu choro não é só por saudade ou pelo "Aqui jaz",
É por que a senhora era o meu MUNDO e eu fui perceber tarde demais...


 (Dedicado à Leonor da Conceição Rodrigues (1962-2004))




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