De
quantos prédios me atirei,
E
do chão me levantei, sem nenhum arranhão?
Ah,
quantas vidas tive e tenho! Quanta ilusão...
Morri
várias vezes, sou um fogo ressurgido,
Ou
melhor, sou nada. E sou, porém, um pensamento vão...
Apenas
um refugio busco eu, o coletor de passos,
Perdido
na estrada a seguir as tortuosidades do caminho,
E
os demais perdidos, como eu.
Se
leio, perco-me ainda mais,
E
de que me serviria ler o desespero alheio,
Se
também eu desesperado sou?
Um
angustiado,
Um
sufocado,
Um
amante da dor,
Sufoca-dor,
Pensa-dor,
Cuida-dor,
Um
ser que habita no seio do sofrimento,
E
também por isso, talvez, não enxergo o fim do caminho,
E
estou morrendo, num suicídio diário...
Já
nas lembranças corre o silêncio,
E
as cores que as árvores tinham desbotaram-se todas,
Num
degradê que reflui descaminho,
Paisagem
à qual estou alheio,
Observando
o passar do tempo nas folhas da estradas,
No
chão que piso, de onde me levanto...
E
posso ver-me arrastado pela correnteza,
De
preces que pedem por paz,
(Que
pena tenho de quem quer o impossível!),
E
o Deus que nos habita a todos,
Atrasado,
se perde em meus desencontros,
E
vai parar por engano em outros seres,
Igualmente
descompassados com a vida,
Horrivelmente
transvestidos em corpos humanos,
Pouco
em concordância com a vida terrena.
Mortos,
somos todos, um pouco em cada sentido,
Talvez
me tome mais a morte física,
E
o meu pensamento em luto se transfigure,
Diariamente
em minha faminta alma,
Como
uma roupa suja, esfarrapada,
Que
só caiba em mim e só me sirva,
Junto
com um sorriso cálido, angelical,
Que
tanto mais se fixa em meu rosto,
Quanto
mais dores em meu peito sinto.