domingo, 1 de junho de 2014

Preto no preto


Eu quero tudo preto no preto
Sem dó e sem gueto,
Sem contradição.

Eu quero ser o presente do legado,
Que começou com meus antepassados,
E permanece em minha geração.

Eu quero ser a mistura sagrada,
Ser candomblé, ser Umbanda,
Ser Batuque, ser chão.

Eu quero ser menos alvo da polícia,
Sobreviver de estudo e não de malícia,
Por ser o malandro da nação.

Eu quero ser a voz que ecoa nas ruas,
E não o reprimido pela ingerência sua,
Sempre de cassetete na mão.

Eu quero ser cultura, ser samba, ser nagô,
Cantar a Jesus, Alah ou Xangô,
Eu quero ser religião!

Eu quero tocar meu atabaque,
Na capoeira, o meu ataque,
É pela libertação.

Eu quero mais casa e menos barraco,
Mais emprego e menos descaso,
Mais dia-a-dia e menos eleição.

Eu quero ser doutor e não ambulante,
Não mais caçador de diamante,
Ser mais eu e menos o patrão.

Eu quero ser o reitor da Universidade
Ser a história, gente de verdade,
E não um pseudo-cidadão.

Eu quero poder ser expresso,
Pelo meu cabelo disperso,
Crespo, duro não.

Eu quero ser o grande Milton Santos,
Quero ser Abdias, ser Banto,
E cantar com devoção.

Eu quero cantar minha raça,
Sem lembrar só das desgraças,
Que acometem minha população.

Eu quero o direito de saber minhas origens,
Ter respeitada os nossos vários matizes,
Dentro da miscigenação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário