domingo, 1 de junho de 2014

Meu senhor Santiago

Velho caminhante,
Hoje cansado não anda,
Sentado observa sem pressa,
Esse tempo que passa
E não regressa.

Tão andante quanto tu,
São meus pensamentos,
Que vagam sem rumo
Num esmo profundo,
E se perdem, e se acham,
Nos desencontros mais doces,
Que um desperdido pode achar.

Estou à beira de um colapso,
Perdendo o medo para não perder-me,
Guiando a vida feito um guincho,
Pois se a solto sou eu,
Esse pobre errante das estradas,
Quem perde tudo, na contramão.

Seus segredos e feitiços,
Guardara-os até o túmulo.
Quero descobri-los e desvendá-los,
Quero-os todos, como a aurora,
Que num querer descomedido,
Inflama os céus sem destruí-lo.
Assim quero ser eu,
A devorar o desconhecido,
Como um faminto devora a angústia.

Tenho sede do novo,
Como tiveras tu,
Avô do tempo, senhor do Sol,
Passaste pela terra a desvendar segredos,
Hoje repousas tranquilo,
E olhas-me como se esperasse,
Que em mim renasceste assim e também,
Revigorado, tu jovem de cetro na mão.

Meu Santiago de Compostela,
Guiai-me pelas estradas tortuosas.
Sou perdido em vida e nem o barqueiro,
Há de encontrar-me na minha hora.
Morrerei de amores por essas trilhas,
Nas perdições às quais fui predileto,
Um alvo tão pequeno e indefeso,
Que em vida faltou-me um mapa,
Mas nunca uma companheira,
Para errar com devoção.

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