domingo, 1 de junho de 2014

Poesia do desespero

De quantos prédios me atirei,
E do chão me levantei, sem nenhum arranhão?
Ah, quantas vidas tive e tenho! Quanta ilusão...

Morri várias vezes, sou um fogo ressurgido,
Ou melhor, sou nada. E sou, porém, um pensamento vão...

Apenas um refugio busco eu, o coletor de passos,
Perdido na estrada a seguir as tortuosidades do caminho,
E os demais perdidos, como eu.

Se leio, perco-me ainda mais,
E de que me serviria ler o desespero alheio,
Se também eu desesperado sou?

Um angustiado,
Um sufocado,
Um amante da dor,
Sufoca-dor,
Pensa-dor,
Cuida-dor,
Um ser que habita no seio do sofrimento,
E também por isso, talvez, não enxergo o fim do caminho,
E estou morrendo, num suicídio diário...

Já nas lembranças corre o silêncio,
E as cores que as árvores tinham desbotaram-se todas,
Num degradê que reflui descaminho,
Paisagem à qual estou alheio,
Observando o passar do tempo nas folhas da estradas,
No chão que piso, de onde me levanto...

E posso ver-me arrastado pela correnteza,
De preces que pedem por paz,
(Que pena tenho de quem quer o impossível!),
E o Deus que nos habita a todos,
Atrasado, se perde em meus desencontros,
E vai parar por engano em outros seres,
Igualmente descompassados com a vida,
Horrivelmente transvestidos em corpos humanos,
Pouco em concordância com a vida terrena.

Mortos, somos todos, um pouco em cada sentido,
Talvez me tome mais a morte física,
E o meu pensamento em luto se transfigure,
Diariamente em minha faminta alma,
Como uma roupa suja, esfarrapada,
Que só caiba em mim e só me sirva,
Junto com um sorriso cálido, angelical,
Que tanto mais se fixa em meu rosto,
Quanto mais dores em meu peito sinto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário