sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Ampulheta

Descorrem os especialistas sobre o tempo
Mas não vejo futuro nessas barbas brancas
Encobrindo com pelos grossos os pálidos rostos
Descontentes quanto a própria ignorância...

tento olhar além dos seus monóculos.
Estou em pleno século dezoito,
Lavando roupas à mão,
Tomando café num banco de madeira,
Aguardando as notícias da capital
Enquanto lá fora, as crianças envelhecem,

e o tempo aqui é outro.
Somos verdadeiras máquinas de petições
Ora a pedir informalmente,
Ora a apresentar um papel timbrado
Com firma reconhecida
exigindo não mais um brinquedo desses de madeira
mas um desses que não sujam as roupas...

Se eu fosse um jardim de flores
Seria um pastor de margaridas
As botaria para crescer rumo ao Sol a todo instante.
O tempo não me passaria, eu passaria o tempo
Eternizado pelas cores vibrantes que me tocariam
Em forma de raios ultravioleta.
Mas, afinal,
Por quê os homens contam os dias? E as horas?
Nós envelhecemos como um trem alemão
Pontualmente mas cobrindo um grande caminho
Num trajeto de vida chato
e sem muita alternativa de percurso até o fim.

Foi quando conheci uma ampulheta que eu
Pensei que tudo fosse cronômetro
E que a gravidade fosse um imenso relógio.
Descobri mais tarde que o tempo é meu
Para brincar e colorir
Como se viver fosse um jogo tonto de pintar figuras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário