domingo, 8 de março de 2015

Papiro azul escuro

Quando me levanto pela manhã,
Rezo ao pensar no nascer do Sol.
Não sei ao certo a que Deus eu rezo
- Se à Alah, Buda ou mesmo o Deus Cristão -,
Só rezo, num esforço quase orgânico de admitir,
Que sou tão pequeno quanto o meu mundo.
Meus olhos miram o céu firmemente,
E todo o resto que por vezes estão acima de mim.
Conto pombos, pardais, Pica-paus,
Diversos seres que, como eu,
São mínimos na natureza,
Mas fazem, cada um do seu jeito,
Uma grande diferença para a vida na Terra.
Essa é a minha janela, dentro da minha casa,
Casa que fica dentro de um condomínio arborizado,
Dentro de uma cidade com mais de um milhão de pessoas.
Se essa é a natureza da cidade,
- A despeito da poluição dos automóveis,
Do lixo doméstico, dos esgotos e da fumaça dos cigarros e carros-,
E já assim sou feliz com tão pouco dela,
Imagino-me cercado de verde, como nos campos...
Por isso amo cachoeiras e estradas de terra,
Amo, na chuva dos campos, o cheiro da terra molhada,
A possibilidade de fazer bonecos de barro,
Ou algo mais personalizado, para o qual não tenho habilidades.
Amo e detesto as cidades muito grandes,
Sou talvez nascido para viver um pouco aqui e um pouco ali,
Sem montar uma fortaleza, sem adquirir bens,
Pois possuo em meu ser,
Uma verdadeira admiração, uma enorme devoção,
A tudo o que não posso ter.
Quero a liberdade, mas o que é ser livre? Ser livre para quê?

Zum Bleiben ich, zum Scheiden du erkoren,
Gingst du voran – und hast nicht viel verloren.”
Goethe sempre foi o meu poeta preferido,
Mas ele não falava muito em natureza,
Apesar de amá-la com fervor, como em Werther.
Por isso gosto de Alberto Caeiro, vulgo Fernando Pessoa.
Meus gênios preferidos sabiam escrever e sabiam,
Acima de tudo, ler a natureza das coisas ao redor de si,
Ou ler as pessoas e seus sentimentos.
Eu sei muito pouco de muita coisa,
E fico triste, às vezes, por saber de tudo e de nada.
Sou um físico não-formado (como todos os outros que conheço),
Um homem de parco conhecimento mas que observa,
Ao seu redor – como fizeram os grandes poetas-,
As pessoas e a natureza, desde os bebês aos mares revoltos.
Acho que homens são um espelho da natureza:
Alguns são furacões, outros são lagos tranquilos,
Ademais os temperamentos, todos são natureza,
E possuímos muito mais em comum do que pensamos.
Alguns homens, porém, são exceção,
São terremotos, ou maremotos, ou erupções vulcânicas,
Violentos demais para não destruírem de alguma forma,
Ou para serem totalmente evitados,
Incontroláveis por si só e imprevisíveis.
Nesse aspecto, sou um grande poeta,
Não controlo meus amores e nem a natureza,
E os observo compulsivamente,
Como se houvesse pra mim um espelho d'água,
Que no final de todas as histórias,
De todos os universos,
Se revelaria para mim a grande verdade Universal,
Em um grande papiro azul escuro,
Com versos simples e uma letra bonita,
Os versos inicias do Criador desse imenso poema que é a vida.

Um comentário:

  1. Realmente um grande poeta. Que com toda a sua sensibilidade, com seu bloquinho e seu lápis sempre a mão, transmite a leveza e profundidade dos sentimentos , com as palavras. Parabéns!!!!! Magnífico. "Alguns são furacões, outros lagos tranquilos" e você um Grande poeta sensível.

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