quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Marquises

Sob o abrigo da marquise
E o silêncio das ruas
Fez seu lar mais um José.

Cidade adoecida,
Jornais, cobertas e papelão
Todo o conforto precário
Tirado de um mísero cidadão.
Acordado com jato de água fria
A rua nunca foi fácil mas não precisava piorar.
Século vinte e um, imagine!
Direitos negados, homens da lei corruptos,
Legislativo, executivo, judiciário
Poderes quebrados
Na época da construção de grandes herois,
Ainda construimos ciclofaixas assassinas,
Prefeitos midiáticos,
Prefeitos pastores,
Viadutos que racham no fim da tarde,
Pontes assimétricas,
Juízes justiceiro e parciais,
Senadores traficantes
E revolucionários apáticos.


Por fogo em tudo, inclusive em mim.
Se o mestre já ensinou no passado
Como ainda não aprendemos?
Más escolas constroem maus leitores,
Maus leitores constroem uma sociedade fragilizada,
Uma sociedade frágil se influencia pela mídia parcial.
O tempo é ainda de maus poemas
E de uma classe média imóvel e reacionária.
No rio, a mesma água parada
Desistiu de correr encosta abaixo
Desistiu de seguir o fluxo, de seguir a lei da gravidade.
A pressa cessa com o calor
Árvores arrancads dos seus cílios
Nascentes que não gerarão filhos
Cedes que não morrerão eu seu leito.
Secando a fonte, os lábios secam
Os olhos não consegue irrigar a plantação
O sangue das ruas:
sangue negro, sangue indígena, sangue indigente,
Ainda é o mesmo de trezentos anos atrás.

Senhor de engenho, senhor de escravo
Deputados, senadores, presidentes,
Empreiteiros e empresários
A quem serve teu conhecimento, cidadão?
Tua força de trabalho...?
A mim, restaram palavras desconsoladas
Tardes frias de reflexões mesquinhas
E pouco dinheiro para comprar pão.
Tempos de relações líquidas, eles dizem,
Pessoas sólidas feito chumbo.
Seguimos sem nos levantarmos da cadeira
Da poltrona, sem sair da cama
Sem tirar os dedos do celular ou do PC
Dizer que queremos mudança
É puro eufemismo para "façam algo".

Zona de conforto, é o que vivemos
Mesmo morando sem esgoto
E aliás, o que temos chamado de vida?
Trabalhar para um ser humano quebrado,
Ser explorado indefinidamente ao longo do dia...
Do transporte público ao preço de água e luz
Até na hora de cagar os alimentos com agrotóxico, estamos com pressa.
O salgado gorduroso que nos entope as veias
Ainda é tudo que o nosso tempo pode comprar.
Vemos o filme de nossas vidas
Ser mal interpretado por outro
E não temos força para impedir nossa ridicularização.
Relações líquidas sim mas, quem quer dignidade
Transforma sua relação em gasolina
E queima tudo que ainda o aprisiona.

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