quarta-feira, 4 de março de 2020

Atraso sem hora

A tabela mente
O aplicativo não se aplica
Quem sabe a hora que o ônibus passa
É o seu André, o motorista.

Incerta quarta-feira
Levo meu corpo para fora da cama
De sobressalto, apressado
Sento-me no relógio
O sofá tic traqueia
Nada impede o tempo de passar. 

Passa também o ônibus
Minha rua é pequena, ouço de longe
O pobre não tem paz
Nem para ir ser explorado
Conseguir seu sustento
Se mais de quinze atrasado
Tem desconto no holerite. 

Dou bom dia ao meu herói
Seu humor é meu termômetro
Quando em paz paro fora do ponto
As ruas parecem tapetes persas
Se a guerra lhe domina
O medo me percorre
O ônibus vira caminhão de boi
Nada mais importa, só minha sobrevivência. 

Meus semelhantes - todos são meus semelhantes
O quase rico com o carro no conserto sofre
O pobre, experiente de trajeto, sofre
O ônibus chacoalhando nos buracos sofre
E a barca segue
Sempre assim, mais ou menos atrasada
Mais ou menos adiantada
Não seguindo cronogramas

Em dias de chuva
O ponto é um abrigo
O ônibus é um alívio
Bom dia, Seu André!
Seu mau humor é um perigo!

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