domingo, 29 de março de 2020

Um sino...ouço um sino.

Um sino...eu ouço um sino.
Já são seis horas da manhã.
A torre da igreja pode ser ouvida
Por que há silêncio fúnebre nas ruas.
Quantos morreram? Quantos morrerão?
Eu aprendi a contemplar o vazio
Não há cura para o que mora no passado
A dor da perda é só um tempo que não chegou.

Amo o porvir, mas não o futuro
Escolho minuciosamente os grãos que piso
O chão não é sólido homogeneamente
Há de se fazer bem feito o nosso piso
Que os contratempos são a única certeza.

Se eu tivesse fé nas coisas como falo...
Queria ser o menino de mil novecentos e noventa e nove
Faz falta a certeza, a dúvida, a inexperiência
Sofrer caleja, é o exercício do coração.
Posso dizer que estou treinado.
Na fé que carrego, há tantas lacunas a se preencher
Deus não olha as horas de todos
Dispensa empregados, sacia desejos pecaminosos
E não comparece a reunião de pais.
Parece que não ouve preces ou está desatualizado.

Lá vai mais uma procissão.
Nesses tempos que meu sangue se apressa na veia
Minha cabeça esquenta e não é de febre.
Mas guardei meu choro para os mortos de abril.
Que o amor espere. Um dia baterei de frente
Tenho treinado, sofrido, guerreado, perdido, vencido
Quando eu estiver finalmente preparado
Vou tirar as luvas e descer do ringue.
Terei tudo. Serei vitorioso sem lutar.






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