I
Não há solidão maior que a do peito.
A tristeza me golpeou tão profundo,
Que a solidão desse amor vagabundo,
Há de deitar-se ao meu lado no eterno leito.
Tu foste tão corrupta com meus sentimentos...
A ti entreguei a glória dos meus dias,
Mas tua sombra jogada em outros braços,
Fez minha paixão mais doentia...
É loucura...sou tão estúpido,
Tão rejeitado e tão mesquinho,
Sou um pobre diabo a vagar no mundo,
Sem os braços daquela a quem entreguei o meu destino...
Ai que dor...ai que vontade de chorar...
Quanta amargura o meu peito encerra,
Quantas decepções mais ainda me esperam?
Por quanto tempo mais isso vai durar?
Por que me quiseras tão vazio?...
Por que me fizeras um homem tão sozinho?
Por que me tiraste tudo, até a ilusão?
Por que não me fizeras sem coração?
Não quero mais ouvir tua voz nem em pensamento,
Não quero mais sonhar com teus alentos...
Nasci para sofrer e sigo o meu destino,
Desde sempre amando e sendo ferido...
Sou alma perdida nesse mundo dos homens,
Não venhas atirar flores em meu túmulo,
Nem tuas lágrimas servirão de adubo,
Pois nenhuma vida habita a tua face mentirosa.
E eu bobo que sou caí feito criança,
Forjei-me adolescente e fiz-me assim,
Acreditando nas pessoas e nas lembranças,
Pena que ainda acredito: nas lembranças ruins...
Quero minhas lágrimas resguardadas...
Quero nunca mais pisar em tua casa,
Quero tuas palavras longe, além,
Quero nunca mais amar ninguém.
Ninguém há de dizer que eu não fora correto,
De tanto mostrar-me ali sob teu teto,
De tanto dedicar meus dias a tua felicidade,
Ganhei o desprezo de quem desejei sem vaidade...
Quando vi, meus olhos se encheram d'água,
Não mais haverão dias alegres para mim,
Sangrando, meu coração se afunda em mágoas,
Nenhuma mulher verá meu amor nem meu fim!
E essa dor que desatina - a dor sem trégua,
Faz-me tão fraco, tão sem sentido.
Minha vida será lembrar do meu destino,
E meu futuro é morrer sem choro e nem vela.
II
Mais uma aurora fúnebre clareia a minha
janela,
Mas, dessa vez, não quero vê-la
completar-se,
Só quero a glória do leito gélido e as
estrelas,
Pra acalmar as angústias de um peito
amargurado.
Hoje sou lamento,uma Lira estridente
desafinada.
Por quê fostes assim comigo, vida cruel
e desalmada?
Não vês que sou apenas um Dionísio?
Todo esse amor que me deste para amar e sofrer,
Foi demasiado, amei e sofri um
desperdício!
Fui, nesse mundo, escravo de quem não
merecia nem o meu desprezo...
Se dessa flor lutulenta que cresce e
aveluda o meu porvir,
Eu tirasse por pétala um dia (ou noite)
de sofrimento,
Não Restaria um ramalhete desse Carmim,
Para presentear o Barqueiro no meu
momento,
A dor me acompanha como a mais fiel companheira
o faria.
E é o sofrer (hoje) a minha paz divina,
Pois se sofro sei que estou vivo, posto
que sempre sofri,
E meus risos amiudados e breves foram
esquecidos,
Hoje, nem lembro o que é sorrir...
Despi-me de armaduras para amar mas,
amor é guerra. Morri.
Com tantos espinhos, oh Deus, se eu
soubesse,
Que plantar a semente das Rosas me fosse
furar tão profundo,
Não teria plantado, mas sim cortado o
Caule,
De qualquer Bela Rosa de qualquer
jardim,
Pois Rosas são todas iguais:
vestem-se
de veludo mas são essencialmente espinhos!
Quis-me ,Deus, fazer tão lastimável,
Que de sofrer refaço-me as forças e as
ilusões,
E de chorar o passado, faria um rio de
lágrimas,
Com gosto de mar e profundo como a minha
dor.
Para os navegantes, me chamo Mar de
Martírio.
Fui navegar ao horizonte e naufraguei,
Tentei nadar mas, perdi-me no Oceano,
E agora perdido em ilusão e desengano,
Só me resta seguir o luto que tomou o
meu coração.
E tomou como o faria o amor que de mim
anda esquecido...
Agora caminhando pelo vale das sombras,
Não almejo mas os deleites da carne
humana,
E nem os olhos que ofuscam a lua cheia
mais bonita,
Desejo sim a solidão que escolheu
habitar em mim,
Posto que a Brasa que ardia em meu peito
tornou-se cinza.