sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Francisco

Ainda moço se afogou Francisco,
As mãos vazias, abertas e agitadas
Sem os melhores sonhos impossíveis.
Debatia-se.
Arranhava a água.
Estava doente. Colérico, talvez.
A tez estava vermelha como se ardesse,
Um belo contraste com a água fria.
Um Rio. Pele enrugada.
Morreu e estava só.
Um mar distante guarda-lhe o corpo.
Lá no fundo, entre os peixes e navios afundados.
Mas isso já foi há tanto tempo,
Deve ter só ossos e lembranças a essas horas.
Frio. Cadavérico. Esquelético. Mãos ainda vazias.
Não dava nada a ninguém.
Não pedia nada a ninguém.
Não era injusto e nem justo.
Era simples, pobre e abastado e nobre.
Não era nada e nem ninguém. Contraditório.
Tornou-se a pior parte da história de alguém:
Passado.
Só o passado bom traz saudades.
Saudades doem.
Passado ruim não traz saudades. Por isso é ruim.
Por isso Chico sofreu na morte.
A morte passa.
O corpo fica nalgum lugar.
A memória fica.
Tornou o assoalho marinho um prato.
Bebeu o mar como se tivesse uma xícara.
E agora, finalmente, tem a ciesta.

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