sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Acalma-te, coração

Não me leve a mal
Leve-me em silêncio para o teu quarto
E depois de ter-me em teus braços,
Sejas o que for, menos saudade.
Quero-te sensível como és,
Não para conter os possíveis futuros revés,
Nem para saciar-me a fome de sexo,
Quero-te porquê te gosto e porquê te quero,
Senão, não tomaria o teu tempo.
Sou tolo e me envolvo facilmente,
E sorrio com qualquer reciprocidade,
Não idealizo mulheres, na verdade,
Procuro apenas alento e companhia.

“- Acalma-te, peito, não é ela ainda!,
Tu verás tua dama, malfeita, algum dia,
Espera, há de chegar tua vez!”.

Vejo-a como um espelho em turva água rasa,
A melindrar sentimentos que havia esquecido que tinha,
Refletindo meus medos de uma forma mais nítida,
Que meus olhos conseguem ver em minha alma.

“Acalma-te, coração, acalma-te:
O que dela te tem não é amor e nem promessa,
É a exata medição da pressa,
Que tu tens ao lançar-te nesse abismo.
Não há espaço para mais ninguém naquele corpo,
Está há muito muito ocupado por si mesmo.”

Liberdade é solidão,
E solidão é libertadora:
Sem nós, sem nós, sem laços.

Não foi o Universo quem te presenteou comigo,
Fui levado a ti por circunstâncias da vida,
Mas sou uma onda no mar, vaga clara,
Que oscila transparente sob o céu,
Sou um ápice e um vale, que caminha,
E talvez, tanta variação não caiba em tuas mãos.
Eu sou limitado e reconheço,
Que tu tens sido mais do que eu sonhei desde o começo,
Apenas por não ser perfeita, e nem tentar ser.
Gosto do carnal, do profano,
Pois divindade é bela demais,
E eu sou feio, como o mal tempo:
Sou uma chuva que rega plantas murchas,
Mas murcha plantas desabrochadas demais.

Estou à ponto de perder-me em tudo,
No amor: por querer viver um lívido mas verdadeiro;
Na poesia: por compor versos sinceros para uma grande mentira,
E assim vou caminhando ao seu lado,
Como se eu não a quisesse com sinceridade,
Como se você quisesse saber quem eu sou de verdade,
Como se tivesse havido um possível amor em nós.

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