segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Terra Seca

Quando o dia abriu, finalmente,
Após longa tempestade,
As ruas tomaram a cor das águas,
E parecia que as pessoas estavam limpas
(Ou pelo menos mais aliviadas.)
Árvores travavam as ruas
O fluxo interrompido dos carros
Os riachinhos que se espalhavam ao lado dos meio-fios,
A esperança e a fé das pessoas
Pouco a pouco reaparecendo nos corações...
Parecia que não estávamos em guerra
Guerra contra o tráfico
Guerra contra os favelados
Guerra contra os jovens negros
Guerra contra tudo que não fosse caucasiano o suficiente
Ou que não se parecesse assim
Eles só falavam da falta d'água,
Eu sabia que havia bem mais além disso...

Os céus trazem a bonança algum dia
A tempestade que me acometeu o coração, porém,
Dura há anos e não sei se conheço a calmaria.
Meus guarda-chuvas quebrados,
Minhas capas rasgadas
(que deixam à mostra minha pele escura)
Minha bota de borracha
Tudo inundado, levado pela forte correnteza
Que nos transborda a paciência e nos afoga
No poço da nossa indignação
Fonte de onde tiramos fôlego, porém,
para continuarmos na luta...

Eles dizem que há previsão de chuvas Para os próximos dias,
pode ser mas, em mim,
há uma tempestade que não cessa
Não para de trovejar
E nem se quer sabe o que é ver terra seca.

Um comentário:

  1. Infelizmente estamos vivendo em um mundo cheio de guerras, preconceitos e até falta d'agua. Mas desesperador mesmo é olhar para dentro de si e perceber que sempre esteve em.uma longa e eterna tempestade. Lindas palavras!!!!

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