quarta-feira, 20 de maio de 2015

Gaveta de Bigigangas

Na mesma gaveta de bugigangas
Quinquilharias espalhadas
Livros e sonetos, réguas quebradas, bilhetes...
Algumas fotos entre coisas esquecidas
Um bocado de coisas desimportantes
E é lá que eu me guardo, me refugio.

Parece-me distante, ainda
Tornar-me parte da prateleira arrumada
Acima da escrivaninha, lá, pra onde olho
Sempre que procuro coisas importantes
Por que é nela que estão os melhores livros
As melhores histórias que tenho para contar
E tudo o que me é mais caro:
As fotos das pessoas que amo,
Os lembretes dos meus compromissos
Meus livros de estudo, enfim, tudo o que tenho.

Acho-me ainda morando sozinho neste corpo
Mas não moro na cabeça
E sempre parece que moro num apêndice de mim
Numa dobra minúscula do inestino
Fazendo coisinhas para parecer importante
Ensinando pequenos truques para pequenas pessoas
Servindo chás e servindo de exemplo
Para mim mesmo, exemplo do que não se deve ser.

Que orgulho! Ela me olha lá de cima e me vê menor
Como se os meus vermes fossem edifícios enormes
E eu fosse como eles, tão pequenos e tão miseráveis
Rastejando pela face da terra
Espalhando pequenos sorrisos, servindo de Puppet pra vida.

A despeito dessa gaveta me caber
Ela não cabe em mim, na minha totalidade
Sou um universo recostado numa parede
Tomando ar para continuar a expandir
Tão aceleradamente que nem sei onde vou parar
Mas se eu parar, será no topo de uma coisa qualquer
Não onde estou, num buraco de engolir vidas
Na ponta de baixo de um ice berg.


















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