Me encontro comigo
Quando chego em casa
Me pergunto do meu dia
Me respondo confuso
Quase sempre me entendo.
Jantamos em silêncio
Pensamos tão parecidos
Me abraço e relevo meus erros
Atrasos, procrastinações
E me prometo: amanhã vai ser melhor.
Durmo comigo, de conchinha.
Eu que saí de casa e eu que cheguei.
Aprendemos tanto juntos que não compensa
Criar um clima hostil com alguém que luta tanto.
...Sento no chão desse banheiro compartilhado
A água quente cai sobre mim.
Penso se Vinícius e Goethe
já usaram banheiro compartilhado fora de casa
Fazer poesia é o mais simples dos atos burgueses
Pensar a palavra, deixar que nos molde
É água correndo no corpo às sete horas da manhã.
Poetas também passam fome
Poetas também passam sede
Eu passo todos os dias pelas mesmas ruas
Cumprimento o motorista do meu ônibus
Tiro um cochilo antes de chegar ao meu destino
Quase todos os dias já sorri antes das oito
E sorriso é como poesia: tem nada a ver com dinheiro.
Tem a ver comigo, com as palavras que me escolhem
Que me deixam pensar no que vejo
Eu parnasianaria palavras mas as deixo livres