Eu nasci triste como um Tango
Na beira doutro Prata, na foz do rio.
Fora de mim, como o portão de casa
O desconhecido me consome
Livros sobre cabeceira, nenhum cigarro
Tenho fumaça que me sai da cabeça
De tanto pensar-me no mundo.
Sou um mar diverso, apoético e irreal
Concreto nas marés que me assombram
E me tornam outro, corpo e mente
E tudo além de mim é praia e asfalto.
Nas minhas ressacas, destruo com água salgada
Palavras que me ferem devolvo
Em ferozes versos de poesia.
Me conheces, na beira da costa
Onde o horizonte começa
Meus balanços navegam peixes
Meus ventos são formas de criar portais
E eu sou o companheiro fiel
Tempesteio a quem me desafia
Mas só náufrago barcos forasteiros
A quem não tem vocação pra navegar-me.
(Sento em meu cavalo, mas não tenho cavalo
Galopo num imaginário azul cristalino
Sem nódoas, sem turbulências
É como se em mim nunca ventasse
Alísios, monções vêem me visitar
Não há solidão no vazio azul.)
Quem do céu me vigia
Lá longe, onde acaba o mar
Trouxe a mim uma antiga cantiga
Que costuma cantar ao me ninar:
"Um céu de mar esconde a estrela.
Estrela molhada pode flutuar?
As gotas caem sem ter estrelas
Estrela, estrela, onde andará?
Caminha calma pela madrugada
Também meus olhos possuem mar
Deságua em mim a chuva espessa
Nenhuma estrela de mim há de brotar."
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