segunda-feira, 18 de julho de 2016

Autopoemas -IV (ou De Agosto a Setembro)

É quando o tempo sobre nós se eita
Que as horas se eternizam.


As pernas balouçando ao sabor do vento
Eram quatro: entrelaçavam, desentrelaçavam.
Olhávamos o abismo sob nossos pés
Ríamos dos perigos da vida juntos,
Mas juntos estando, juntos permanecíamos.

Disse-me uma vez o tal poetinha,
com voz rouca e com palavras medidas,
Aquilo que o poeta fingidor não poderia:
"Meu tempo é quando."
O meu tempo passou e, como se me orbitando,
Voltou para me dizer bobagens
Sobre o futuro, o presente e o passado
Como se me conhecesse melhor eu.

Essas conversas fiadas - parece madrugada,
A lua se enche de mim, rotunda e lívida
A soerguer no céu um véu de luz, ilumina
E ilude quem pensa que é dia. É nada!
É papo de quem se perdeu na prosa, onde estávamos?
Meu tempo? Nosso abismo? Sei lá...
Tive um medo danado de perder seus olhos de vista
E de sair do alcance de suas mãos
Pois meus versos antigos - quase irreais e inverossímeis,
Foram postos à prova e perderam a validade
Na primeira pedra que o caminho esqueceu.

(Cruzaram-se as pernas e os sorrisos)
A sapatilha preta caiu das nuvens - espanto.
Perdão! Desastroso eu sou com o que me é caro
E tudo que tange seus mimos e zelos
Toda a bagagem de correr rios salgados
E minhas breguices de gente mais velha
Inestimáveis e diminutas o são
Eu desandei a falar-te bobagens
Entre juras de amor eterno e dúvidas perenes
Sendo o calabouço e o castelo flutuante
Percebi que Agosto nunca chegará,
E, Setembro, com sua chuva, sua esperança
Há de molhar seu coração, fazendo brotar
Aquilo que em meus sonhos não germinam:
As horas que nos faltaram passar juntos.








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