sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pontos de luz

Mesmo quando não há nada, temos tudo,
Mesmo sob a chuva, estamos protegidos,
O único escuro ruim é o da ignorância,
A verdadeira e única perda é o da vontade,
Vontade de crescer e fazer um mundo melhor,
De amanhecer um ser diferente,
Capaz de amar, se apaixonar e errar,
É estranho levantar todos os dias,
Ver a natureza e não contemplá-la,
Olhar acima de nossas cabeças e ver o Universo,
Ainda assim, conseguimos desacreditar no sobrenatural,
Aliás, o que é o natural pra nós?,
A Dúvida? O desespero?,
Olhar além e refletir é uma obrigação,
Como são doces o som do mar e do vento,
As duras rochas que se transformam em escultura,
A Pietá, o Davi! Quanta habilidade humana!...,
Como se pode fazer beleza com nossas mãos e ainda assim,
Fazemos guerras horrendas, monstruosas,
Destruímos vidas, esquecemos que o horizonte é um espelho,
Embora longe é o nosso reflexo na linha distante,
O que será que pensa de nós quem nos vê de lá, adiante?,
O que eu tenho feito de bom pelos pássaros?,
Onde está o meu sorriso?,
Somos Pequenos Gigantes, com potencial e preguiça,
Mas uma vez com a arma na mão, esperam que usemo-la,
Para bombardear de boas ações o Universo,
Já Tão frio, triste e Vazio,
Que insistimos em ver o escuro e não os pontos de luz.



2 comentários:

  1. Uooou! Tava inspirado... É isso ae mocinho! A forma com que a gente encara as coisas faz toda a diferença sim! Não acho que essa forma de olhar deve se confundir com ingenuidade, com ilusão de que tudo está as mil maravilhas... Tá bem pé no chão seu texto!
    Como diria Emicida:
    "Tá vivo é uma coisa, se sentir vivo é outra parada. Vai, olha o que ce tem ao redor... Vale a pena? Então levanta, dá o seu melhor"

    ResponderExcluir
  2. Ahhhh! Eu vou postar também um texdo do Drummond que conheci graças um e-mail que um amigo querido me mandou em 2010. Eu fico feliz só de ler ele, é muito poderoso:


    ::: OS DIAS LINDOS :::
    Carlos Drummond de Andrade

    Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: "Os dias ficaram lindos".
    Acontece em abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade. Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial. Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento. Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.
    E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. A temperatura ficou amena, conduzindo à revisão do vestuário. Protege-se um tudo-nada o corpo, que vivia por aí exposto e suado, bufando contra os excessos da natureza. Sob esse mínimo de agasalho, a pele contente recebe a visita dos dias lindos.
    A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço. O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas. A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar os vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.
    O ar. Ficou mais leve, ou nós é que nos tornamos menos pesadões, movendo-nos com desembaraço, quando, antes, andar era uma tarefa dividida entre o sacrifício e o tédio? Tornou-se quase voluptuoso andar pelo gosto de andar, captando os sinais inconfundíveis da presença dos dias lindos.
    Foi certamente num dia como estes que Cecília Meireles escreveu: "A doçura maior da vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculo dos dias sossegados". Porque a primeira conseqüência da combinação de azul e leveza de ar é o sossego que baixa sobre nosso estoque de problemas. Eles não deixam de existir. Mas fica mais fácil carregá-los.
    Então, é preciso fazer justiça aos dias lindos, oferecer-lhes nossa gratidão. Será egoísmo curti-los na moita, deixando de comentar com os amigos e até com desconhecidos que por acaso ainda não perceberam o raro presente de abril: "Repare como o dia está lindo". Não precisa botar ênfase na exclamação. Pode até fazê-la baixinho, como quem transmite boato e não deseja comprometer-se com a segurança nacional. Mesmo assim, a afirmação pega. Não só o dia fica mais lindo, como também o ouvinte, quem sabe se distraído ou de lenta percepção sensorial, ganha a chance de descobri-lo igualmente. Descobre e passa adiante a informação.
    A reação em cadeia pode contribuir para amenizar um tanto o que eu chamo de desconcerto do mundo. De onde se conclui: deixar de lado, mesmo por instantes, o peso dos acontecimentos mundiais trágicos, esmagadores, para degustar a finura da atmosfera e a limpidez das imagens recortadas na luz, é um passo dado para reduzir o desconcerto, na medida em que a boa disposição de espírito de cada um pode servir de prefácio, ou rascunho de prefácio, à pacificação, ou relativa pacificação, dos povos e seus dominadores. Em vez de alienação, portanto, o prazer dos dias lindos é terapia indireta.
    Pode ser que o desconhecido lhe responda com um palavrão, desses em moda na sociedade mais fina. Não faz mal. Não se ofenda. Ele descarregou sobre a sua observação amical o azedume que ameaçava corroê-lo no íntimo. Livre desse fel, talvez se habilite a olhar também para o céu e a descobrir mesmo certa beleza esvoaçante no urubu. De qualquer modo foi avisado. Já sabe o que estava perdendo: a consciência de que certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente.

    ResponderExcluir