quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Anjos negros

Anjos negros penderam do céu
Há tanto que deles não há pinturas
Nossos anjos negros, periféricos
Caem ainda hoje em rasas sepulturas.

Na terra santa, queimada e negra
Nasceram apóstolos, prostitutas e santos
Todos loiros, todos brancos
Na Bíblia europeia essa é a regra.

Agora, nos dizem descendentes de Cam
Amaldiçoados, malditos e merecedores
Dos augúrios de um branco Leviatã
Da senzala, da escravidão e dos anos de dores.

Como posso eu, um descendente Banto,
Seguir teus credos, tuas ordens e cantos,
Amar teus santos, beijar teu manto,
Se você queima e apedreja o meu terreiro?

A ti profano, a mim sagrado
Na contradição de um santo de injustiças
Rezar o pai nosso que nos deixou desamparado
Em troca dos dízimos e da cobiça.

Minha cultura ancestral, minha religião,
Minha pele e meu crespo cabelo
Aos teus olhos azuis, um pesadelo
Aos meus, uma forma de não viver em vão.

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