Quando
me levanto pela manhã,
Rezo
ao pensar no nascer do Sol.
Não
sei ao certo a que Deus eu rezo
-
Se à Alah, Buda ou mesmo o Deus Cristão -,
Só
rezo, num esforço quase orgânico de admitir,
Que
sou tão pequeno quanto o meu mundo.
Meus
olhos miram o céu firmemente,
E
todo o resto que por vezes estão acima de mim.
Conto
pombos, pardais, Pica-paus,
Diversos
seres que, como eu,
São
mínimos na natureza,
Mas
fazem, cada um do seu jeito,
Uma
grande diferença para a vida na Terra.
Essa
é a minha janela, dentro da minha casa,
Casa
que fica dentro de um condomínio arborizado,
Dentro
de uma cidade com mais de um milhão de pessoas.
Se
essa é a natureza da cidade,
-
A despeito da poluição dos automóveis,
Do
lixo doméstico, dos esgotos e da fumaça dos cigarros e carros-,
E
já assim sou feliz com tão pouco dela,
Imagino-me
cercado de verde, como nos campos...
Por
isso amo cachoeiras e estradas de terra,
Amo,
na chuva dos campos, o cheiro da terra molhada,
A
possibilidade de fazer bonecos de barro,
Ou
algo mais personalizado, para o qual não tenho habilidades.
Amo
e detesto as cidades muito grandes,
Sou
talvez nascido para viver um pouco aqui e um pouco ali,
Sem
montar uma fortaleza, sem adquirir bens,
Pois
possuo em meu ser,
Uma
verdadeira admiração, uma enorme devoção,
A
tudo o que não posso ter.
Quero
a liberdade, mas o que é ser livre? Ser livre para quê?
“Zum
Bleiben ich, zum Scheiden du erkoren,
Gingst
du voran – und hast nicht viel verloren.”
Goethe
sempre foi o meu poeta preferido,
Mas
ele não falava muito em natureza,
Apesar
de amá-la com fervor, como em Werther.
Por
isso gosto de Alberto Caeiro, vulgo Fernando Pessoa.
Meus
gênios preferidos sabiam escrever e sabiam,
Acima
de tudo, ler a natureza das coisas ao redor de si,
Ou
ler as pessoas e seus sentimentos.
Eu
sei muito pouco de muita coisa,
E
fico triste, às vezes, por saber de tudo e de nada.
Sou
um físico não-formado (como todos os outros que conheço),
Um
homem de parco conhecimento mas que observa,
Ao
seu redor – como fizeram os grandes poetas-,
As
pessoas e a natureza, desde os bebês aos mares revoltos.
Acho
que homens são um espelho da natureza:
Alguns
são furacões, outros são lagos tranquilos,
Ademais
os temperamentos, todos são natureza,
E
possuímos muito mais em comum do que pensamos.
Alguns
homens, porém, são exceção,
São
terremotos, ou maremotos, ou erupções vulcânicas,
Violentos
demais para não destruírem de alguma forma,
Ou
para serem totalmente evitados,
Incontroláveis
por si só e imprevisíveis.
Nesse
aspecto, sou um grande poeta,
Não
controlo meus amores e nem a natureza,
E
os observo compulsivamente,
Como
se houvesse pra mim um espelho d'água,
Que
no final de todas as histórias,
De
todos os universos,
Se
revelaria para mim a grande verdade Universal,
Em
um grande papiro azul escuro,
Com
versos simples e uma letra bonita,
Os
versos inicias do Criador desse imenso poema que é a vida.