quarta-feira, 1 de abril de 2015

Se não fosse dezembro...

Hoje não haveria sol
Se não fosse dezembro...
Paira em redor
Do vento frio uma aura
Que sussurra com ele,
Que faz gritar os portões
E derruba como que sem querer
Uma fina camada
De gelo picotado sobre
A grama verde dos jardins.
Flores que não desabrocharão
No cinza da tarde
Fontes que não nos brindarão
Com água pura da torneira
Os cães não sairão
A funçar, cascabulhar
Um lixo menos amargo que a ração
Pelas ruas por preguiça
Pois é pálido o brilho da luz de hoje
Mas se dezembro já tivesse passado
Hoje não haveria sol
E no passado,
Nada é tão triste quanto o agora:
Os olhos se abrem cedo
As lojas se fecham tarde
A vida move-se tão depressa
Que nem se dá conta de que está viva...
Os que são pesadêlos
Respiram um ar puro
Os que sonham,
Enxergam o ar que respiram...
E as árvores, continuam
A morrer e a viver à mercê
Do cimento, dos facões e das serras
Sempre verdes, sempre altivas
E nas minusculidades da existência
Pensa a água que está em seu fim
Pensa a terra que está sufocada
Pensa o ar que já virou cinzas
Eu penso que há pouco tempo
E muito frio nas esquinas...
Vi perdida uma arara outro dia
Voava sem compromisso, sem hora
E assim, nunca conseguirá sua casa na praia
Sua independência...pobre arara!
Fria como os dias de hoje...
Acho que são os últimos dias de dezembro
Perto do fim do ano, todas as festas
Que não há de serem comemoradas
Pois logo será janeiro
E só quem viveu dezembro
Poderá se lembrar do calor do Sol.

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