segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Absentista

Não te amo.
Não te quero.
Não te desejo.
Não te preciso.
E, ainda assim, sofro a tua ausência copiosamente
Como um recém-nascido tirado de sua mãe.
Contudo, para o meu disparate completar-se,
Sofro mais da tua ausência quando tu estás comigo.

Alguns domingos são tristes como os monastérios.
Eu sou o silêncio dos mausoléus
Entre os escombros do sorriso que construí
(E pus no meu rosto só para saber se cabia no seu)
E a esperança que alimentei religiosamente
Todas as manhãs e todas as noites,
Em que a tua voz me foi ausência.
Sou como esses Domingos e eu passarei na sua vida
Infelizmente, cedo demais para mim.

Não domo os ventos, tão pouco as caravelas.
Sou só uma barra de grafite em um toco de pau
Munido de um corpo, alguns pensamentos
E algumas emoções. Uma delas é o amor.
Os mares são muitos e muito vastos
Eu como um péssimo marinheiro que sou
Não me atrevo em águas profundas.
Tu me convidaste para desbravar os mares contigo
Içaste âncoras, abriste velas e esqueceras-me no cais,
Literalmente a ver navios e
Nessa praia que se estende do meu corpo até o teu corpo
Não existe areia, somente pedras pontiagudas
E um mar ressacado a nos observar.
Sonhei com a mulher que me faria sorrir
E o meu Deus ma concedeu
Como um fardo e suas implicações.
Sorri e aceitei o desafio de ser só ao teu lado
Mas nem do meu pranto tu participaste...
Onde estavas tu, Caliandra,
Quando as ruínas dos meus sonhos sobre mim caíram?
Onde estivemos nós todo esse tempo?
Às vezes penso que amar é não sofrer
Mas, em seguida, recobro a insanidade
Relembro que para dar-te o meu melhor
Eu me desfiz do quê me tornava humano: a razão.
E não há flores no deserto
Nem Rosas no planalto central.
Rosas e Caliandras crescem em Jardins diferentes.
Os medos e os sonhos crescem no mesmo lugar.
Não posso jogar em mim toda a culpa, porém,
Por ter criado os dogmas que criei sobre nós, sobre o nosso futuro
Mas sinto-me pesadamente responsável
Por tudo o quê não foi divino ao teu lado.
Desistir é verbo de morte, não usarei.
Procrastinar é verbo de preguiçoso, não usarei.
Obedecer é o verbo que me doma.
Obedecerei a sua vontade de retirar-se de mim,
De debandar do meu peito,
E mesmo que eu não a ame,
Mesmo que eu não a queira,
Mesmo que eu não a precise,
Meu sangue vai coagular sem a luz dos seus olhos
E eu me odiarei mil vez por centésimo de milésimo de segundo.
Planejei morrer de amores algum dia
E estou morrendo pouco a pouco dentro de ti.
Sou noite neste quarto compartilhado
Sou noite, todos os dias e todas as tardes
E todas as noites são como eu:
A mera sombra do quê já foi tempos atrás.
O meu tempo me sorri como uma velha
Cadavélica e desdentada e, me parece,
Que eu me vejo frente ao espelho.
Minha força, meu sorriso, minha carne,
Consumidos pela tempestade que há em ti
Dentro do peito onde quis morar.

(Quando acorda o Sol entre as árvores
Lembro-me dos meus sonhos, lembro do mar,
Lembro-me da minha cidade.
Toda a espera recomeça
Sento-me no colo do tempo a observar as cores do firmamento
O céu vermelho a tornar-se azul
O céu azul a tornar-se azul escuro
E as estrelas a beijarem meus olhos
como se fossem as minhas lágrimas subindo aos céus.)

Se me queres morto em teu seio,
Se me queres sepultado no fundo dos teus olhos
Sejas gentil e parta com todas as tuas promessas
Leve teus beijos cálidos e o teu calor
Leve tuas mãos macias e os teus cafunés
Leve o brilho dos meus olhos
(Aceites os, por favor, mesmo que por gratidão,
pois mais pertencem a ti que a mim mesmo...)
E leve-te embora de mim, finalmente.
Quero-te livre, jovem e plenamente tua
Sem as amarras das gaiolas pseudo-amorosas
Que eu, como um bom pseudo-amante que sou,
Tentei colocar em ti, maquiada em regime Semi-aberto.

Querer...Desejo...Amor...Precisão.
São só palavras e, o quê eu sinto,
Não é sentimento enjaulado em verbo.
Eu te sinto como um fremente balanço das cortinas
Quando há uma ventania e as janelas estão abertas.
Eu te sinto nas mãos como a maciez do toque dos pêssegos
Eu te sinto com uma calma manhã
Nessa madrugada frenética que é a minha vida.
É tentador pensar que posso sonhar-te incondicionalmente
Ou que você será ausência em minha vida
Mas meus olhos mentirão para mim por semanas
E eu serei tentado a pensar, porém,
Que a tua presença se foi de dentro de mim...mentira!
Tu ainda estarás no Sol que brilha ao amanhecer
Tu ainda colorirás em tons de vermelho a aurora
(Porquê bem sabes que é a minha cor predileta!)
Tu ainda serás a luz pálida das estrelas
Que se camuflam no céu da cidade.
Tu ainda serás o meu melhor sonho,
No despertar dessa nova vida em mim.

Queres-me morto em ti
Para que eu suba aos céus desde a terra!
Minha Caliandra, flor primeira,
Não caibo mais na métrica dos teus versos!
sejas feliz nos teus caminhos sem mim,
Por quê eu sou mais feliz na sua felicidade.


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