sábado, 13 de setembro de 2014

Quando...

Quando, contra a sua vontade ou escolha,
Alguém te puser num navio
Sem água, sem banheiro, sem liberdade
E te levar para longe dos teus iguais e da tua terra
Quando queimarem teus documentos
Negando-te o direito a saber as tuas origens
Tua ancestralidade e cultura
Quando te confinarem à uma senzala
Quando te açoitarem no tronco por querer ser livre
Quando te deixarem à própria sorte
Sem possibilidade de sustentar-se
Por não te confiarem em um emprego
Quando negarem a tua religião
Queimarem teus templos
Te declararem amaldiçoado por Deus
Quando te declararem um ser sem alma
Quando teu cabelo estiver sempre fora de moda
Tua pele sempre for escura demais para os padrões
Quando teu nariz for uma maldição
Quando tua cor for a cor do pecado...
Quando a maior parto dos teus iguais
Estiver confinada em barracos
Amontoados numa favela sendo reprimidos
Pelo estado, na sua forma mais violenta: a polícia,
Quando sua vida tiver de ser uma resistência
Contra todos que te querem morto
Quando teu sorriso for escasso
Quando teu sucesso for fruto de um esforço sobre-humano
Quando as tuas noites forem um pesadelo
Quando toda noite e tu fores revistado
Quando te confundirem com algum bandido
Quando tuas mulheres-irmãs forem vistas
Como objeto sexual a todo o tempo
Quando defender-se dos ataques contra ti deferidos
For tomado como falta de compaixão pelo próximo
Quando a justiça existir para todos, menos para ti
Quando para o mundo teu povo for exemplo de famélico
Desnutrido, miserável, pagão, pouco confiável
Aí, talvez  aí, tu possas entender os não-brancos
Se fores humilde o suficiente para tal,
Poderás reconhecer o quando a luta do povo negro é importante
Pois desde Dandara e Zumbi a Mandela pouco se mudou
E nós ainda somos vistos como escravos
Seres descartáveis feitos para serem explorados...

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